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Mostrando postagens de maio, 2014

Imaginação*

Querido leitor, que você esteja bem. Nosso tema de hoje é imaginação. O filósofo Blaise Pascal em sua obra mais conhecida, "Pensamentos", discutia a imaginação, com poucos fundamentos, apenas preocupado em anotar pensamentos sobre o tema. E olha que sua especialidade era matemática. Na visão de Pascal, a imaginação é a força mais poderosa nos seres humanos e também uma de nossas principais fontes de equívoco. Para o matemático, a imaginação pode ultrapassar nossa razão, pois é ela que nos leva a confiar nas pessoas, apesar do que nos diz a razão. Um exemplo: médicos e advogados vestem-se com distinção, tendemos a confiar neles. Ao contrário, dedicamos menos atenção a quem parece desmazelado, mesmo que suas palavras sejam sensatas e seus exemplos coerentes. Lembrando que isso era assim para Pascal. Ele continua: Embora a imaginação leve a falsidade, por vezes também conduz a verdade, pois se fosse apenas falsa, então poderíamos usá-la como fonte de certeza ao acei

Estudo 175*

Estar com o rio não é molhar-se na água. Nem ser leito. É ser a água e o leito. E o mar. E ser as nuvens do céu. Nosso destino é o que somos. Somos o destino – o olho d’água e a foz. Somos a foz e o ruído das águas se encontrando. E as nuvens do céu e o homem sentado numa pedra. E a pedra. *Antonio Brasileiro

Nas sombras da minha escuridão*

Sou quem eu sou Mas não sou quem gostaria de ser. Penso ser quem eu deveria ser (À maneira dos outros) Penso ser aquilo que sou E penso querer ser somente eu Sem a influencia de ninguém Ser quem somente sou Mas quem sou eu? Mas o que sou eu? Esgueiro-me por entre os escombros De um eu que pensa ser Quem deveria ser, Quem gostaria de ser, Quem sou E não me encontro em nenhum desses Quem sou eu? O que sou eu? Palavras, pensamentos e atitudes Não me definem Por entre os escombros de mim Procuro uma luz pra entender quem sou Procuro um lugar além-mim Uma palavra de definição e fechamento Percebo que sou modificações Penso que sou devires Fervilho elucubrações sobre-mim Em mim me encontro e me perco. Mas quem eu sou? Mas o que eu sou? Não sou definição Não sou fechamento Não sou devir Não sou modificações Ou será que sou tudo isso? Quem eu sou? O que eu sou? *Vinicius Fontes Filósofo Clínico Rio de Janeiro/

Tabacaria*

Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo. que ninguém sabe quem é ( E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada. Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, E não tivesse mais irmandade com as coisas Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada De dentro da minha cabeça, E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger d

O primeiro passo para compreender a Filosofia Clínica*

O título ideal para um texto desse tipo sobre filosofia clínica, deveria ser Abordagem do que não é possível ser abordado: guia para um texto que não deveria ser escrito. Controverso, não? Mas, nas linhas seguintes, explicitaremos o porquê que um título assim seria justificável. Para esclarecer nossa proposta, vamos nos remeter a Sócrates (469 a.C. – 399 a. C.) um ateniense que mudou o foco da filosofia Ocidental. Longe de nos determos em longas linhas acerca da história da filosofia, abordaremos apenas alguns traços desse pensador para servir ao fio condutor de nossa reflexão. Antes de Sócrates, havia pensadores denominados filósofos da natureza, ou seja, suas reflexões estavam voltadas para o todo, o cosmos, a ordem, a origem de tudo o que é. Depois desses pensadores, surge Sócrates inaugurando o pensamento mais antropológico. Ele não escreveu nada, tudo o que sabemos dele foi escrito por seus seguidores, como Platão, ou por opositores, como Aristófanes. Platão nos mostra que

Menos face, mais look*

Mensagem recebida pelo Facebook: “Fiquei feliz em te ver no restaurante. Estás muito bem!” Resposta ao amigo: “Querido Carlos, por que não vieste conversar comigo? Somos amigos e eu também ficaria muito feliz em te rever, trocar um abraço e algumas palavras. Dá próxima vez, deixa de lado o computador, a  rede social e senta comigo. Vai ser mais divertido.” Estamos sendo dominados e virando prisioneiros da tecnologia que nós mesmos criamos. Só que a prisão não é uma cela pequena e escura onde ficamos isolados. Pelo contrário, é uma tela que nos oferece um  universo sem fronteiras, repleto de distrações e amigos virtuais. Podemos com um pequeno computador realizar mil atividades diferentes e concomitantes. Mandar e receber e-mails, mensagens, torpedos, assistir televisão, ver filmes, realizar buscas, namorar, fazer sexo, conectar com pessoas do mundo inteiro. Entretanto, apesar da suposta liberdade, a pena é a mesma: Isolamento em uma vida pequena, trancada na solidão de

A que bebeu poesia*

A louca que passa Deixou na vidraça Um olhar que no fundo Tem muita desgraça. Será minha mãe A pobre da louca Que nada mais tendo Conserva a ternura? Será minha noiva Que louca ficou Depois que parti No barco da guerra? Será minha filha A louca do bairro Que a vida judiou Depois que morri?                   Ou foi a poesia Que a louca bebeu Que lhe deu esse ar De ser doutro mundo? *Prado Veppo.

Fragmentos de Poesia e Vida*

Não me prendo escrevo sem rima e sem métrica vou sentindo no papel virtual teclando expiro sensações retalhos e fragmentos de sonhos e desejos deixo de lado sem medo normas e regras e me lanço no espaço da tela vazia faço e desfaço das linhas coloco meu porvir e devir sou poeta corre em minhas veias sons que surgem da alma e gritam para se atirar no mundo e se libertar da forma que me limita e escraviza! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, escritora das Academias de Letras de Juiz de Fora/MG e Cabo Frio/RJ, Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Os buracos do espelho*

o buraco do espelho está fechado agora eu tenho que ficar aqui com um olho aberto, outro acordado no lado de lá onde eu caí pro lado de cá não tem acesso mesmo que me chamem pelo nome mesmo que admitam meu regresso toda vez que eu vou a porta some a janela some na parede a palavra de água se dissolve na palavra sede, a boca cede antes de falar, e não se ouve já tentei dormir a noite inteira quatro, cinco, seis da madrugada vou ficar ali nessa cadeira uma orelha alerta, outra ligada o buraco do espelho está fechado agora eu tenho que ficar agora fui pelo abandono abandonado aqui dentro do lado de fora *Arnaldo Antunes

Residência*

Para que partir se meu lugar contém todos os lugares? O que está longe não existe e em todo lugar é a mesma dor. Inútil partir, viajar, desesperar... Toda geografia é interior. *Hildeberto Barbosa Filho

A palavra mundo*

"As palavras são instrumentos de atos úteis, de modo que nomear o real é cobri-lo, velá-lo com familiaridades. (...) Para rasgar os véus e trocar a quietude opaca do saber pelo espanto do não-saber é preciso um 'holocausto das palavras'."                                   Jean-Paul Sartre Uma poética se anuncia num esboço de captura às múltiplas verdades. Nesse horizonte nem sempre coerente, a pessoa encontra um chão para integrar-se e experienciar suas possibilidades existenciais.   Ao ser a visão de mundo inseparável da subjetividade que a oferece, as formas da expressividade tentam obter o maior ângulo possível. Nela o teor dos termos agendados denuncia até onde se pode chegar. Um pouco antes dos movimentos de rebeldia, a linguagem, em vias de se ultrapassar, costuma emitir dissonâncias. Uma dessas características é o excesso de equívocidades discursivas, as quais, nem sempre se traduzem ao dicionário conhecido. O sentido de ser sem sentido surge como af

Descartes e a Filosofia Clínica*

Descartes foi um filósofo francês da modernidade. Segundo os estudos de historiadores da filosofia, foi ele quem inaugurou esse período. Mas que tem isso a ver com a Filosofia Clínica que é totalmente contemporânea? Um dos métodos estabelecidos por Lúcio Packter para a clínica propriamente dita é a epoké cética por parte do Filósofo Clínico. A suspensão dos juízos (epoké) é o que garante a subjetividade da construção de mundo do Partilhante e o que possibilita uma clínica bem sucedida. Descartes se vale desse método para encontrar sua primeira verdade indubitável: penso, logo existo. Na Filosofia, chamamos o método cartesiano de “dúvida hiperbólica”, porque ele duvida de TODO o conhecimento por ele adquirido durante toda sua vida. Em Clínica, não duvidamos do conhecimento por nós adquirido. Pelo contrário, temos que tê-los sempre em nosso auxílio. Porém, nos utilizamos da suspensão dos nossos juízos para entendermos a Representação (Schopenhauer) dos nossos Partilhantes. É a p

Quem é o cara?*

A motivação primeira de quem faz um curso ou oficina de criação textual é muito simples: o intuito é o de averiguar a real qualidade dos escritos que talvez há muito tempo o nosso iniciante venha fazendo em segredo e com certa vergonha, como se cagara, para lembrar a metáfora de João Cabral de Melo Neto. Esse ímpeto é mais poderoso do que, por exemplo, ampliar os conhecimentos sobre a arte da poesia. Enfim, a maioria quer saber se têm jeito pra coisa. Se o que escreve presta ou não. Infelizmente, não há resposta cabal para essa angústia. Primeiro porque, como afirma W. H. Auden, o percurso textual do verdadeiro artista denuncia um progressivo senso de dúvida. Isto é, quanto mais experiência ele adquire mais incerto o nosso herói se sente com relação à qualidade e ao alcance do seu trabalho. Mesmo a palavra do “ministrante” (expressão terrível), não será inteiramente de confiança.  Muitos autores consagrados falharam na avaliação de sujeitos que iniciavam suas carreiras

Não deixe sua menina ir embora*

Os amores são diferentes e são necessários, mas escolher viver só, com a sua companhia, é um direito seu. Viver só, sem o amor de um homem, não faz parte dos seus planos de vida? Não tem nada de errado nisto, nascemos homem e mulher côncavo e convexo para formarmos par. Ajusta-se aqui, recorta-se ali e um dia encaixamos. Acontece frequentemente. Muitas mulheres depositam na relação com um homem, toda a sua perspectiva de felicidade. – O outro deve me fazer feliz. – Acontece com os homens também, aliás, até muito mais com eles, entretanto, a capacidade deles em disfarçar melhor esta necessidade é algo de se tirar o chapéu. Cuidar da própria vida pode ser um bom caminho para a convivência. Acredito de verdade que é aí que os casais erram. Um quer cuidar da vida do outro e nenhum quer se cuidar para o outro e assim manter o encantamento. No sexo, onde de verdade o amor se manifesta, onde a expressão do desejo confirma a vontade de permanecer ao lado da pessoa amada indepe

Conversar*

Em um poema leio: conversar é divino. Porém os deuses não falam: fazem, desfazem mundos enquanto falam os homens. Os deuses, sem palavras, jogam jogos terríveis. O espírito desce e desata as línguas porém não pronuncia palavras: diz fogo. A linguagem, pelo deus incandescida, é uma profecia de chamas e um colapso de sílabas calcinadas: cinzas sem sentido. A palavra no homem é filha da morte. Falamos porque somos mortais: as palavras não são signos, são anos. Ao dizer o que dizem os nomes que dizemos dizem tempo: nos dizem, somos nomes do tempo. Conversar é humano. *Octávio Paz

Poéticas do existir*

Bate o silenciar Quietude da vastidão Gravidez do espirito Bate o recolhimento Quietude criativa Gravidez da alma Grávida quietude bate Talvez a espera do porvir Efêmera fresta no limite A fim de parir o indizível E, encontrar o amoral Nas entrelinhas do existir! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Convite a viagem*

Existe um país soberbo, um país idílico, dizem, chamado Cocagne que eu sonho visitar com uma velha amiga. País singular, nascido nas brumas de nosso Norte e que poderia se chamar o Oriente do Ocidente, a China da Europa, tanto pela sua calorosa e caprichosa fantasia quanto por ela, paciente e persistentemente ser ilustrada por sábias e delicadas vegetações. Um verdadeiro país de Cocagne, onde tudo é belo, rico, tranqüilo, honesto; onde o luxo se compraz em se ver em ordem, ou a vida é livre e doce de se respirar; de onde a desordem, a turbulência e o imprevisto são excluídos; onde a bondade está casada com o silêncio; onde a própria cozinha é poética, rica e excitante ao mesmo tempo; onde tudo se parece contigo, meu anjo. Conheces essa doença febricitante que se apossa de nós nas gélidas misérias, essa nostalgia de um país que ignoramos, essa angústia vinda da curiosidade? É um lugar que se parece contigo, onde tudo é belo, rico, tranqüilo, honesto; onde a fantasia constru

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