Quem gosta de escrever entende. Quando a alma se encolhe não há como escrever. Torna-se algo impossível. Daí não tem o que fazer. A não ser esperar. Qualquer tentativa de esforço é em vão. As palavras partem-se pela metade. Não acham o seu lugar certo. Não conseguem completar uma frase inteira. As letrinhas tornam-se triangulares. Cheias de pontinhas. Não rimam. Não constroem melodias. Ferem-se umas as outras. Aí digo para mim mesmo: Ah, Zé, não machuque as letrinhas.... De repente aparece como que um clarão. E no ônibus. E eu sem caneta. Aproximei-me, timidamente, de todos os passageiros. Pedindo-lhes, por favor, uma caneta emprestada. Mas não havia canetas. Pensei em descer do ônibus e escrever na areia. Ou na água. Uma senhora viu meu alegre desespero e emprestou-me seu lápis de colorir os olhos. Aceitei, assim sem jeito. E que é o meu jeito. Escreveria a mim, através dos olhinhos dela.... Pouco depois, vendo-me escrever, minha amiga, sentada ao meu lado deu-me a
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