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Efeito Borboleta*


Como dizia o saudoso Rubem Alves: “quem ajuda uma borboleta a sair do casulo a mata. Quem tenta ajudar um broto a sair da semente o destrói. Há certas coisas que não podem ser ajudadas. Tem de acontecer de dentro para fora”. Falecido há pouco tempo, este grande pensador brasileiro lembra algo importante: que ajudar em muitos casos é destruir.

Para que uma borboleta possa sair do casulo não é necessário mais que condições de temperatura adequadas para que isso aconteça naturalmente. O mesmo pode se dizer de um broto: na terra corretamente adubada e em condições de temperatura e umidade corretas a semente germina e segue seu curso natural. O processo acontece de dentro para fora, os que tentam auxiliar no processo, por mais que tenham boas intenções, destroem o que estava ocorrendo.

Há em Filosofia Clínica um procedimento clínico que se chama Em Direção ao Desfecho. Este consiste em levar a pessoa ao fim, à conclusão de algo que estava em curso. Cada pessoa tem pensamentos ou práticas que estão encaminhadas, mas que algumas vezes faltam força, vontade, condições, enfim, faltam elementos para que sejam concluídas. O papel do filósofo será o de, junto com a pessoa e de acordo com o seu modo de ser, criar as condições para que o que estava em curso seja efetivado. Uma questão é importante: diz respeito ao modo de ser da pessoa. O desfecho, ou seja, a conclusão de algo tem de estar de acordo com o modo como a pessoa funciona.

Por exemplo, supomos que alguém teve um atrito com uma pessoa e isto ficou como algo não resolvido. A partir de sua história de vida, o filósofo saberá qual o modo mais adequado para que aconteça o desfecho da situação. No entanto, não é o filósofo que faz, ele apenas cria as condições para que o desfecho aconteça. Pode ser o caso do filósofo sugerir que a pessoa escreva um e-mail para a outra com quem teve um atrito, para assim ser resolvida a questão. O filósofo pode somente criar as condições de acordo com o jeito de ser da pessoa. Se o terapeuta entrar na questão e se tornar parte da solução pode ele mesmo se tornar parte do problema.

Outro exemplo de como a ajuda para o Desfecho pode ser prejudicial são os pais que querem que seus filhos tenham “sucesso” na vida. São pais que desde cedo interferem de maneira direta nos desfechos dos filhos. É assim quando este pai vai até a escola tirar satisfação com o professor acerca dos motivos pelos quais seu filho tirou notas baixas, muitas vezes pedindo à escola uma nova avaliação para que seu filho tenha oportunidade de tirar boas notas.

Este mesmo filho em alguns anos recebe um veículo de presente dos pais, faz o que não deve não trânsito e este pai é chamado. Em frente ao filho confronta delegado e policiais criando um desfecho apropriado ao seu gosto. Mais tarde este filho sai da faculdade precisando de um emprego, o pai lhe cede uma vaga em sua empresa, fazendo do filho gerente, diretor. 

Em cada um dos momentos o Desfecho foi promovido de fora para dentro, sendo que o pai criou os desfechos abrindo casulos, ajudando o broto a despontar da semente. Sabe-se que em cada caso é diferente, mas a maior parte destes jovens são borboletas que não sabem voar, são sementes que não deram broto. 

Criar as condições para que os filhos saiam dos casulos é entender que eles terão insucessos, falharão e pagarão pelas suas falhas, recomeçarão e talvez tenham êxito. Criar as condições para um filho ir Em Direção ao Desfecho é dar boa educação, ter condição familiar para apoiá-lo nos momentos de dificuldade, mas ter ciência de que o Desfecho acontece de dentro para fora.

*Rosemiro A. Sefstrom
Filósofo Clínico
Criciúma/SC

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