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Mostrando postagens de agosto, 2016

Sabor da vida*

Para saborear a vida é preciso vivê-la devagar Mastigar bem cada momento Respirar, sentir o cheiro de algo muito bom chegando… Não exagere no tempero, muita pimenta pode estressar O sal e o açúcar deve ser usado com moderação Observe o tempo, não deixe passar do ponto Sente-se à mesa com apetite e deguste um bom dia!… *Marli Savelli

Uma temporada no Hospício*

Entrada; A palavra tranca Regurgita e volta O que está sendo feito? O que fizeram de mim? O que fizeram em mim? Uma droga: Caio, desmaio Agora não lembro Agora não penso Agora não sinto Agora, nada sou... No porão: Aqui é escuro Não vejo nada Não sinto nada Nada fala em mim O que sou aqui? Como dizer O que não sei? Como encontrar Aquele que não pode ser encontrado?... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) cada época torna canônicos textos considerados marginais na época precedente." "A nova epopeia é a primeira a permitir que duas vozes sejam simultaneamente ouvidas: a voz do poeta e a dos outros, interiorizada; trata-se de um diálogo interior." "O ideal de Brecht não é um teatro total, mas um teatro do heterogêneo, no qual reina a pluralidade no lugar da unidade." "Então Brecht escolhe, sem talvez sabê-lo, a posição de Aristóteles, para quem a surpresa é a fonte de conhecimento." "(...) escritura; ou, em todos os casos, quando o aspecto literário adquire uma pertinência nova." "O leitor é constitutivo da literatura, repete Sartre: 'O objeto literário é um estranho pião que só existe em movimento. Para fazê-lo surgir, é necessário um ato concreto designado leitura, e este só dura enquanto a leitura durar."  "(...) um imperativo para os livros: o melhor sentido é atribuído pelos leito

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) esse projeto de uma obra de arte, que faz da categoria do provisório a sua própria categoria da criação, pondo em questão, constantemente, a ideia mesma de obra conclusa, instalando o transitório onde, segundo uma perspectiva clássica, vigeria a imutabilidade perfeita e paradigmal dos objetos eternos (...)." "O espectador influi sobre a formação, isto é, sobre a transformação do quadro e, assim, se converte em seu co-autor (...) O diálogo entre o quadro e o espectador renova-se continuamente, com a constante criação." "(...) a palavra é o resultado acústico do pensamento" "O que caracteriza a função poética é, assim, um uso inovador, imprevisto, inusitado das possibilidades do código da língua." "(...) justamente esse desvio da norma, que rompia as expectativas do leitor, explicava o processo da arte, que é um processo de desautomatização (o uso normal do código automatiza as reações) mediante um recurso de singul

A Verdade não me seduz*

A Verdade anda longe das possibilidades da Aventura e da Liberdade. Aventura para em um ponto onde a linguagem possa ser alcançada e sem que depois nos arrependamos do que pensar nos possíveis estragos. A aventura das palavras e das frases, aquilo que Paul Ricoeur nos mostra, “ela faz surgir, no próprio cerne da semântica da palavra, uma incerteza, uma inquietação, um espaço de jogo, a favor do qual se torna de novo possível lançar uma ponte entre a semântica da frase e a semântica de palavra”. Uma interação entre a aventura e o que se escreve sobre o que se pensa e dizemos. Retomo todos os dias, pelas manhãs preferencialmente, temas que considero pertinente à compreensão do cotidiano. Um deles é sobre o postulado da palavra Verdade nesta compreensão. Não há juízo nenhum que me faça a crer que a Ciências Humanas se vale dela para poder melhor chegar a conclusivas sem que o fim possa ser surpreendente. Mais uma vez, isso, escrito apenas em 1977 por Barthes, no livro “Leçon”

Póeticas*

A poesia acontece e cria outros mundos possíveis tão somente para iluminar o íntimo de quem a percebe e, na espera, acolhe e se conecta a ela. A poesia acontece porque transborda ao desapegar-se das margens do lugar de sua origem ou, ainda, do lugar ao qual outrora se comportou. A poesia acontece quando se percebe que é a superfície que sufoca, sobretudo, quando a dimensão é afetiva e existencial. A poesia sempre acontece na gratidão, na esperança, na compaixão; ela transforma qualquer momento em amor. Afinal, a poesia acontece e seguirá acontecendo enquanto vida houver. Musa! *Prof. Dr. Pablo Mendes Filósofo. Educador. Filósofo Clínico Porto Alegre/RS

A palavra mágica*

Certa palavra dorme na sombra de um livro raro. Como desencantá-la? É a senha da vida a senha do mundo. Vou procurá-la. Vou procurá-la a vida inteira no mundo todo. Se tarda o encontro, se não a encontro, não desanimo, procuro sempre. Procuro sempre, e minha procura ficará sendo minha palavra. *Carlos Drummond de Andrade

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) o argumento de cada narrativa é também um testemunho de estranhamento, quando não uma provocação tendente a suscitá-lo no leitor." "Muito do que tenho escrito ordena-se sob o signo da excentricidade, posto que entre viver e escrever nunca admiti uma clara diferença; (...)" "(...) como escrevo de um interstício, estou sempre convidando que outros procurem os seus e olhem por eles o jardim onde as árvores têm frutos que são, por certo, pedras preciosas." "E, contudo, os contos de Katherine Mansfield, de Tchecov, são significativos, alguma coisa estala neles enquanto os lemos, propondo-nos uma espécie de ruptura do cotidiano que vai muito além do argumento."" "A consequência inevitável de todo orgulho e de todo egotismo é a incapacidade de compreender o humano, de se aproximar dos outros, de medir a dimensão alheia." "Imaginemos Edgar Poe num dia qualquer de 1843. Sentou-se para escrever numa das m

Onde pousam as borboletas*

Um perigo ronda O campo e a cidade Um homem e uma mulher Foram vistos fazendo amor Num campo florido Tomando banho numa cachoeira Num amor Que já não existe mais Estão desaparecidos Desde então... Um terrível perigo Paira no ar A civilização ocidental Corre um perigo iminente Localizem este homem e esta mulher Mortos, de preferência Capturem este casal fugidio Antes que seja tarde. Ronda um terrível perigo No campo e na cidade O governador decretou Toque de recolher O prefeito decretou Estado de sítio O FBI e a CIA Foram acionados Helicópteros sobrevoam a região Localizem este homem e esta mulher Antes que seja tarde. Todos a postos Capturem este casal atrevido Não procurem em Shopping Centers Muito menos em palácios Nem tampouco em igrejas frias Menos ainda em casa de políticos Procurem nas vielas e nos becos Ou nos bosques esquecidos Atentem ao cheiro de corpos e da pele Vejam onde as borboletas pousam

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O 'poético' é exatamente a capacidade simbólica de uma forma; esta capacidade só tem valor se permite à forma 'partir' para um grande número de direções e manifestar, assim, potencialmente, o infinito caminho do símbolo, de que nunca se pode fazer um significado último e que é, em suma, sempre o significante de um outro significante (...)." "(...) o sentido depende do nível em que o leitor se coloca." "(...) sobre o papel - e devido ao papel - o tempo está em perpétua incerteza." "Mudar o nível de percepção: trata-se de um choque que abala o mundo classificado, o mundo nomeado (o mundo reconhecido) e, por conseguinte, libera uma verdadeira energia alucinatória." "(...) a metáfora é a única maneira de nomear o inominável (transforma-se, então, em catacrese): a cadeia de nomes substitui o nome que falta." "Ora, é mais ou menos o que ocorre na cura analítica: a própria ideia de 'cura',

Não sei quantas almas tenho*

Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo: “Fui eu?” Deus sabe, porque o escreveu. *Fernando Pessoas

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Que encanto a imaginação poética encontra em zombar das censuras! (...) A poesia surge então como um fenômeno de liberdade." "Com a poesia a imaginação coloca-se na margem em que precisamente a função do irreal vem arrebatar ou inquietar - sempre despertar - o ser adormecido nos seus automatismos." "A palavra de um poeta tocando o ponto exato, abala as camadas profundas do nosso ser" "Tudo se ativa quando se acumulam as contradições." "Assim, uma imensa casa cósmica existe potencialmente em todo sonho de casa. De seu centro irradiam-se os ventos e as gaivotas saem pelas janelas. Uma casa tão dinâmica permite ao poeta habitar o universo. Ou, noutras palavras, o universo vem habitar sua casa." "(...) os poetas são nossos mestres. Com que forças eles provam que as casas para sempre perdidas vivem em nós. Em nós elas insistem para reviver, como se esperassem de nós um suplemento de ser."  "Alojad

Pais são invisíveis*

Seria o primeiro dia dos pais em que ele não estaria conosco. Falecera em setembro passado e  sua ausência física ainda era bastante presente. Estava desconfortável com a aproximação da data, pois sabia que recordações e lágrimas fariam parte deste “dia festivo”, e não me sentia animado para comemorar nada, sequer um simples almoço em família. Preciso voltar um pouco no tempo. Logo após ele ter nos deixado, escrevi um artigo dizendo que pais não morrem, ficam invisíveis. Passado quase um ano, refleti melhor e hoje, penso que pais, mesmo vivos, são invisíveis na maioria do tempo. Filhos se comportam (ou descomportam) pela vida afora, seguindo experiências e exemplos observados presencialmente com seus pais. No entanto, mesmo longe da prole, o que se constitui quase a totalidade do tempo,  pais ainda continuam introjetados nos filhos, que anseiam a aprovação de suas condutas por parte de seus progenitores. É como se os pais estivessem invisíveis observando-os a todo momento.

Poesia e amor sem gelo, por favor*

Não, eu nunca usei nenhum tipo de droga para escrever Poesia e Amor são os meus vícios Sim, sou alcoolotra! Dessas que se embriaga e não pensa no que fala Não fumo maconha Não cheiro cocaína Não bebo cachaça Liberdade não é isso, eu não preciso disso Minhas viagens são sonhadoras não alucinógenas Na verdade, sinto que sou a própria droga Escrevo para não me perder de mim!… *Marli Savelli

A coisa*

A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra. O leitor entende uma terceira coisa… e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita. *Mário Quintana

Anotações do Homem Nômade sobre o Acaso*

O Homem Nômade gosta dos exageros do pensamento e costuma se colocar com o advérbio “sempre”, contrariando as regras de como se escreve um texto acadêmico e por ora diz que sempre, no sentido de constantemente, ele se situa nos olhos da filosofia. Acordou pensando, quase sempre em suas obsessões pós-leituras de quotidiano, sobre o conceito, a noção de Acaso. Começa pelos gregos, por Aristóteles a pensar sobre o Acaso. Da noção subjetivista e objetivista se tira uma causa superior, em que o oculto afasta as explicações racionais e que a sorte é algo superior que está longe do alcance da inteligência humana. Os estoicos colocam o Acaso como algo que escapa da ilusão porque tudo que acontece é parte da necessidade racional. O Homem Nômade apenas gosta de refletir sobre isso, passa da filosofia à literatura, ao cinema, às imagens e desemboca na visão moderna de Acaso, mas continua a pensar, não para resolver os problemas do mundo, mas “sempre” para compreender o seu exagero qu

Sobre a escrita*

Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio. Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma idéia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento. Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo – é por esconderem outras palavras. Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa pa

A primavera e o amor*

Sim, eu fui ver Brotaram lá fora As flores ligeiras Das laranjeiras Brotaram os brotos Das flores no jardim Voltaram os passarinhos E os beija-flores E as borboletas Que sempre voltam.... É que mentiram para mim Durante este inverno frio Que nesta terra triste Estavam mortos os poetas Mentiram para mim Que a primavera não viria Fizeram chacota, pouco caso Dos amores românticos... O menino não morreu, não Apenas dormiu Vejo minha sombra no chão Sombra que não é minha Ela usa cabelos longos E um longo vestido , Azul... *José Mayer Poeta, Amante dos Livros, Estudante na Casa da Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Reconhecer no estranho o que é próprio, familiarizar-se com ele, eis o movimento fundamental do espírito, cujo ser é apenas o retorno à si mesmo a partir do ser diferente." "(...) O segredo divino da vida é sua simplicidade." "O verdadeiro problema da compreensão aparece quando, no esforço de compreender um conteúdo, coloca-se a pergunta reflexiva de como o outro chegou à sua opinião. Pois é evidente que um questionamento como este anuncia uma forma de alteridade bem diferente, e significa, em último caso, a renúncia a um sentido comum." "O que deve ser compreendido não é a literalidade das palavras e seu sentido objetivo, mas também a individualidade de quem fala e, consequentemente, do autor. " "(...) o ato da compreensão é a realização re-construtiva de uma produção." "Quando se ouve alguém ou quando se empreende uma leitura, não é necessário que se esqueçam todas as opiniões prévias sobre seu conteúdo

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Não se pode estudar à parte a imagem mental. Não há um mundo das imagens e um mundo dos objetos. Mas todo objeto, quer se apresente à percepção, quer apareça ao sentido íntimo, é suscetível de funcionar como realidade presente ou como imagem, segundo o centro de referência escolhido. Os dois mundos, o imaginário e o real, são constituídos pelos mesmos objetos; só variam os agrupamentos e a interpretação desses objetos. O que define o mundo imaginário tanto quanto o universo real é uma atitude da consciência."  "(...) quando se faz da palavra tal como aparece na linguagem interior uma imagem mental, faz-se do signo uma imagem." "(...) as visões hipnagógicas são imagens. caracteriza a atitude da consciência diante dessas aparições com as palavras 'espetacular e passiva'. É que ela coloca como de fato existentes os objetos que lhe aparecem. Todavia, na base dessa consciência há uma tese positiva: se essa mulher que atravessa meu campo visual,

Da natureza inédita em todas as coisas*

                 Um cotidiano plural se abre frente ao espelho das singularidades. Nesse viés discursivo recém chegando, oferece seus inéditos numa língua estranha. Por seu caráter de novidade, recusa o gesso da classificação especialista. Numa interseção de acolhimento e partilha, concede alguma visibilidade ao que restaria desconhecido.   Em uma experiência de transbordamento excepcional, num tempo subjetivo e de local indeterminado, a estrutura de pensamento se refaz. Nesse ímpeto de incertezas, um teor de expressividade transgressora se deixa entrevistar, seus deslizes narrativos, olhares desfocados e a escuta das lógicas sem sentido, apontam suas fontes de inspiração. Uma hermenêutica compreensiva acolhe a desestruturação fundante, seu aspecto de estranheza refere o sujeito acessando algo em vias de tornar-se. Seu aparecimento, num viés discursivo singular, escolhe quando e a quem se mostrar, se apresentando quase invisível ao espírito de rebanho das unanimidades.

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