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Mostrando postagens de janeiro, 2017
"É preciso ainda observar que as definições do fantástico que se encontram na França em escritos recentes, se não são idênticas à nossa, tampouco a contradizem. Alguns exemplo dos textos canônicos: Castex escreve em 'Le Conte fantastique': 'O fantástico... se caracteriza... por uma intromissão brutal do mistério no quadro da vida real'. Louis Vax, em 'L'Art et la Littérature fantastiques': 'A narrativa fantástica... gosta de nos apresentar, habitando o mundo real em que nos achamos, homens como nós, colocados subitamente em presença no inexplicável'. Roger Caillois em 'Au Coeur du fantastique': 'Todo o fantástico é ruptura da ordem estabelecida, irrupção do inadmissível no seio da inalterável legalidade cotidiana'"  "O fantástico leva pois uma vida cheia de perigos, e pode se desvanecer a qualquer instante. Ele antes parece se localizar no limite de dois gêneros, o maravilhoso e o estranho, do que ser um gênero a

Contradição*

Me contradigo Sou um louco Para poucos Sou somente um oco Do meu vazio. Me contradizem Sou o contrário Do que pensam Um fio oposto Do que dizem. Sou a lógica Da minha contradição O contraditório Do meu contrário Sou um otário. Sou um descrente Em minha frente Um anarquista Das minhas conquistas Sou somente pistas. Sou agosto Mês do cachorro louco Sou o vento norte Que desnorteia a mente Ateu, mas crente Confuso , confesso. Sou a soma do que fui Um sonho do que serei Serei o que não sou...!!! *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Aquilo que choca o filósofo virtuoso, deleita o poeta camaleônico. Não causa dano, por sua complacência, no lado sombrio da coisas, nem por seu gosto, no lado luminoso, já que ambos terminam em especulação" "Um poeta é o menos poético de tudo o que existe, porque lhe falta identidade; continuamente está indo para - e preenchendo - algum outro corpo" "(...) é o homem esse animal que quer permanecer, o artista busca permanência transferindo-se para sua obra, fazendo-se sua própria obra, e atinge-a na medida em que se torna obra" "Se o poeta é sempre 'algum outro', sua poesia tende a ser igualmente 'a partir de outra coisa', a encerrar visões multiformes da realidade na recriação singularíssima da palavra" "Os poetas se compreendem de poema a poema melhor do que em seus encontros pessoais" "Com Antonin Artaud calou na França uma palavra dilacerada que só esteve pela metade do lado dos vivos en

Um dia em Barthes*

“Sem dúvida numa época de minha vida, atravessei uma fase que chamei de fantasia científica.” Roland Barthes Barthes sugere-me “trapacear” para podermos ouvir a língua fora do Poder, mas isso é o que procuro no dia a dia, ou seja, ter as condições ideais de jogar com a linguagem. Ter as possibilidades de controlar aquilo que não podemos jamais atar, a produção individual e os sentidos. O resto é domínio. Mas aqui não estou mais nessa arqueologia. Saber quem domina quem é de menos na reflexão desta manhã, mas de saber o que foi feito dos domínios da razão. Em minha observância teórica e de suas aplicações, percebi que há indícios de um domínio desenfreado pelo culto da ciência, e que outras tentativas de domínio, seja pela espetacularização dos acontecimentos, seja pelas novas mitificações de sentidos vai longe, longe demais. Ainda bem. Como já dizia Cioran, “os caminhos da crueldade são diversos”, preciso de um pouco de complexidade para arejar as ideias. Ainda ontem

O leitor*

Quem pode conhecer esse que o rosto mergulha de si mesmo em outras vidas, que só o folhear das páginas corridas alguma vez atalha a contragosto ? A própria mãe já não veria o seu filho nesse diverso ele que agora, servo da sombra, lê. Presos à hora, como sabermos quanto se perdeu antes que ele soerga o olhar pesado de tudo o que no livro se contém, com olhos, que, doando, contravém o mundo já completo e acabado: como crianças que brincam sozinhas e súbito descobrem algo a esmo; mas o rosto, refeito em suas linhas, nunca mais será o mesmo.   *Rainer Maria Rilke

Des-presença*

Não ser e ser muitos eus Leveza sem forma A cada agora um fio de estrelas Lua sobre o lago Serenidade oceânica Num tempo fluido Caminhante peregrina Dissolvida na névoa da vastidão *Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

" (...) a rua tem alma!" "A rua continua matando substantivos, transformando a significação dos termos, impondo aos dicionários as palavras que inventa, criando o calão que é o patrimônio clássico dos léxicons futuros" "Para compreender a psicologia da rua não basta gozar-lhe as delícias como se goza o calor do sol e o lirismo do luar. É preciso ter espírito vagabundo, cheio de curiosidades malsãs e os nervos com um perpétuo desejo incompreensível, é preciso ser aquele que chamamos flâneur e praticar o mais interessante dos esportes - a arte de flanar" "(...) ruas melancólicas, da tristeza dos poetas; ruas de prazer suspeito próximas do centro urbano e como que dele muito afastadas; ruas de paixão romântica, que pedem virgens loiras e luar" "Qual de vós já passou a noite em claro ouvindo o segredo de cada rua ? Qual de vós já sentiu o mistério, o sono, o vício, as ideias de cada bairro ?" "(...) são ruas da

Verdes anos*

Vai, folha de minha vida, vai que o verão não te conhece, melancólica estação passada. Voem, folhas de anos verdes, que o tempo me quer mais tempo e não me descreveis mais. Mas as dou para o vento, quem sabe achadas pelos meninos nas praias desertas sejam motivo de curiosidade, pois para os adultos, desdém. De que adiantam letras escritas num mundo de objetos elétricos que amainam tudo no ramo das sensações, se ao coração ninguém quer chegar-se. *Vânia Dantas Filósofa Clínica Uberlândia/MG

Vagabundo*

Eu durmo e vivo no sol como um cigano, Fumando meu cigarro vaporoso, Nas noites de verão namoro estrela; Sou pobre, sou mendigo, e sou ditoso! Ando roto, sem bolsos nem dinheiro; Mas tenho na viola uma riqueza: Canto à lua de noite serenatas, E quem vive de amor não tem pobreza. Não invejo ninguém, nem ouço a raiva Nas cavernas do peito, sufocante, Quando à noite na treva em mim se entornam Os reflexos do baile fascinante. Namoro e sou feliz nos meus amores; Sou garboso e rapaz... Uma criada Abrasada de amor por um soneto Já um beijo me deu subindo a escada... Oito dias lá vão que ando cismado Na donzela que ali defronte mora. Ela ao ver-me sorri tão docemente! Desconfio que a moça me namora!... Tenho por meu palácio as longas ruas; Passeio a gosto e durmo sem temores; Quando bebo, sou rei como um poeta, E o vinho faz sonhar com os amores. O degrau das igrejas é meu trono, Minha pátria é o vento que respiro, Minha mãe

Limites do poeta*

Que faria um poeta Sem certas palavras Sem as palavras certas No tempo certo Que poderia fazer um poeta Proibindo-se certas palavras? Mamãe e papai Me recomendavam: Amar e ser sincero Sempre! "Mas porquê, mamãe e papai, Devo amar e ser sincero Sempre?" Alguém pode fazer ideia Da falta que faz A palavra certa na hora incerta A palavra incerta na hora certa Nunca diga nada para sempre! Alguém sabe o tempo que dura um sempre! Onde é a pousada de um nunca! O que mora dentro de um nada! O que permanece, afinal De tudo isto que muda! *José Mayer Filósofo. Poeta. Livreiro. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Um poema não tem moral; a obra de arte não tem moral. Não ensina qualquer lição específica, nem dá qualquer conselho específico. Em um poema há muitas implicações que enriquecem nossa experiência da vida: mas essa experiência tem vários lados e não se espera que precisemos escolher um deles. A natureza da arte é ilustrada por Dylan Thomas, ao confrontar dois aspectos da natureza, ou por Robert Frost, com um sentido de humor macabro, simulando ensinar uma lição que não quer que aprendamos. Trata-se de explorar as alternativas da ação humana sem chegar a uma decisão sobre elas. Nessa indecisão, feliz e repleta de tensões, e somente nisso, a obra de arte difere profundamente da obra científica" "O mesmo poema é lido por várias pessoas, e cada uma delas faz dele o 'seu' poema. Assim funciona a imaginação: cada um precisa reimaginar por si mesmo. Dylan Thomas foi o primeiro a imaginar esse poema, ao criá-lo. No entanto, quem quiser compreendê-lo terá que recri

Ilusão*

“Ouvir meras fábulas talvez não seja o programa favorito de vocês – talvez queiram ouvir A VERDADE. Bom, se é isso que vocês querem, então é melhor procurarem outro lugar – mas juro pela minha vida que não posso dizer exatamente que lugar é esse.”  Paul K. Feyerabend O momento em que começamos a pensar mais e mais sobre o mundo, sobre os mistérios que envolvem um mundo coerente e a incoerência que temos em vivenciá-lo. Todos vivem no mesmo barco, a nau do mundo é a mesma no plano teórico no que concerne ao corpo, na relação do corpo com o mundo. Como proferiu Feyerabend em uma de suas últimas conferências, “Ademais, os cientistas, os senhores da guerra, os esfomeados e os abastados são todos seres humanos”. Existe uma ponte imaginária nesta minha perspectiva, pois, se estou a pensar em português (ironia da reflexão), é a busca cotidiana de conhecer a natureza do mundo. Não há pretensão nisso, a pior arrogância e delimitar o pensamento em uma representação do pensamento ape

Tartarugar*

Sem pressa, vivendo a serenata dos pássaros ao amanhecer... uma alegria serena brota da alma. Comunhão com a sacralidade da vida. O dia nos convida a sermos eternos aprendizes. No aprender a lidar com materialidade, desapegando dos excessos, contemplando o belo sem desejar possuí-los, trabalhando pelo prazer da realização, cuidando de cada coisa com a delicadeza da gratidão. No aprender a administrar nosso corpo, mistério sagrado, sem modismos, aceitando nossa natureza sem comparar e desejar ser o que a moda tenta impor, compreendendo com sabedoria que tudo tem seu tempo certo. No aprender a arte do relacionar, aceitando que cada pessoa é única, com historicidade múltipla, com paciência e muito amor. Tartarugar é ser Zen. Viver em estado contemplativo, vivendo o que a vida vai oferecendo. Para viver plenamente só precisamos desaprender... *Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Presença de Clarice*

Meu primeiro encontro com Clarice Lispector foi numa tarde de domingo na casa da escultora Zélia Salgado, em Ipanema, creio que em 1956. Eu havia lido, quando ainda vivia em São Luís, o seu romance "O Lustre", que me deixara impressionado pela atmosfera estranha e envolvente, mas a impressão que me causou sua figura de mulher foi outra: achei-a linda e perturbadora. Nos dias que se seguiram, não conseguia esquecer seus olhos oblíquos, seu rosto de loba com pômulos salientes. Voltei a encontrá-la, pouco tempo depois, no "Jornal do Brasil", durante uma visita que fez à redação do "Suplemento Dominical". Conversamos e rimos, mas não voltamos a nos ver num espaço de uns dez anos. De fato, só voltei a encontrá-la logo após voltar do exílio, em 1977. Ela ligou para minha casa: queria entrevistar-me para a revista "Fatos e Fotos", para a qual colaborava naquela época. Clarice já era então uma mulher de quase 60 anos, ma

Desejos*

Há muito, muito tempo começamos a gestar o micróbio da realidade que temos agora. Os anos calcificaram tanto a percepção até não mais lembrarmos que as agruras enfrentadas são justamente os males um dia pensados, materializados nas condições físicas do entorno ora vil. Um ditado para isso: “cuidado com o que desejas, pois pode se realizar”. Naquele tempo, não se sabia do “Segredo”, essa geração espontânea a partir do pensamento. E foi-se, dia após dia, não podendo mudar as circunstâncias nem a si mesmo, elaborando pragas e perjúrios, fornecendo substância para o que seria, no meio da jornada, uma pedra oca a guardar a escuridão. Numa estrada de terra no meio do quase nada, o motorista diz: “Olhe como são as coisas. Quando eu era menino, ficava andando nas estrada no Ceará, andava muito mesmo; de vez em quando, pegava carona e eu pensava – ainda vou dirigir um carro por essa terra toda. E hoje to aqui, sou motorista”. Por isso a gente precisa planejar o que quer. E livrar-s

O que faz bem pra saúde?*

Cada semana, uma novidade. A última foi que pizza previne câncer do esôfago. Acho a maior graça. Tomate previne isso, cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem problema, qualquer gole de álcool é nocivo, tome água em abundância, mas peraí, não exagere... Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos. Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde. Prazer faz muito bem. Dormir me deixa 0 km. Ler um bom livro faz eu me sentir novo em folha. Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas depois eu rejuvenesço uns cinco anos. Viagens aéreas não me incham as pernas, me incham o cérebro, volto cheio de idéias. Brigar me provoca arritmia cardíaca. Ver pessoas tendo acessos de estupidez me embrulha o estômago. Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano. E telejornais os médicos deveriam proibir - como doem! E

Limites do poeta*

Que faria um poeta Sem certas palavras Sem as palavras certas No tempo certo Que poderia fazer um poeta Proibindo-se certas palavras? Mamãe e papai Me recomendavam: Amar e ser sincero Sempre! "Mas porquê, mamãe e papai, Devo amar e ser sincero Sempre?" Alguém pode fazer ideia Da falta que faz A palavra certa na hora incerta A palavra incerta na hora certa Nunca diga nada para sempre! Alguém sabe o tempo que dura um sempre! Onde é a pousada de um nunca! O que mora dentro de um nada! O que permanece, afinal De tudo isto que muda! *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica

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