Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de março, 2017

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Feitiçaria é o mundo onde as palavras têm poder. O feiticeiro fala e a palavra, sem o auxílio das mãos realiza o que diz. Deus diz 'Paraíso', e um jardim de delícias aparece. A bruxa diz 'Sapo!', e o príncipe se transforma em sapo" "O mundo humano é construído com palavras. Como dizem os textos sagrados: 'No princípio de todas as coisas está a palavra...' E, à semelhança da aranha, é dentro do corpo que a palavra é gerada. É ali, no caldeirão mágico do corpo, que se processa a transformação alquímica de palavras em carne" "Cada conclusão faz parar o pensamento. Como nos livros de Agatha Christie: resolvido o crime, nada sobra em que pensar. E não adianta ler o livro de novo. Quando o pensamento aparece assassinado, pode-se ter a certeza de que o criminoso foi uma conclusão" "A etiqueta da ciência. Sua primeira regra é que só devem ser comidas palavras solidamente enraizadas nas coisas. Ao cientista é interdita

Existência invisível*

Quando se davam conta Do lugar onde estavam Já tinham ido embora... Morava alguma coisa Estranha dentro dela Alguma coisa havia Que não era ela Ela queria esquecer Mas não se lembrava Ao certo o que era E isto era terrível ! Ele fechava os olhos Para ver o que não sabia Sentia-se invisível Duvidava da sua existência Uma sensação esquisita De que as pessoas Não o enxergavam E isto era terrível ! *José Mayer Filósofo. Poeta. Livreiro. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Noções*

Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação dos meus desejos afligidos. Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos. Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge. Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza, só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram. Virei-me sobre a minha própria existência, e contemplei-a Minha virtude era esta errância por mares contraditórios, e este abandono para além da felicidade e da beleza. Ó meu Deus, isto é a minha alma: qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário, como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera... *Cecília Meireles

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) o labirinto é evidente símbolo de perplexidade e a perplexidade fora uma das emoções mais comuns da sua vida, a reação diante de muitos atos e decisões que lhe pareciam inexplicáveis" "Meu primeiro conhecimento das coisas veio sempre dos livros, antes que do contato real com elas" "(...) Outra aquisição dos últimos anos de ensino médio genebrino foi Schopenhauer, de quem admirou O mundo como vontade e representação. Sempre achou que, se fosse possível expressar o universo em palavras e pudesse algum livro servir de plano, tal livro seria o de Schopenhauer"    "Apaixonava-o a mitologia sensual do submundo" "(...) apaixonou-o uma Buenos Aires que logo deixaria de existir, relegada ao esquecimento pelo progresso. E Borges, deslumbrado, saiu a descobrir a cidade" "Desejava fazer poemas essenciais, para além do aqui e agora, livres de cor local e das circunstâncias cotidianas" "As ruas de Bu

Da coleção de contos "As mulheres que não fui"*

Daliza se formou na leitura das revistas de 1950, na linha do Clube das Moças e nos filmes da sessão da tarde que padronizavam o romantismo, com Fred Astaire, Elvis e o humor inocente de Jerry Lewis. Assim, era velho seu nascimento cultural, um óvulo desabrochando num corpo mignon. Palavra antiquada, agora gostam mesmo é de picanha, vitelas com gordura pouca, só para dar o charme da sedução visual. Estava ligada ao movimento lascivo da vida instintiva por poucos fios... pena que ela não se alimentava de verduras, carnes e carboidratos como os seres normais. Pensava num tanto de preocupações sobre isso, os efeitos da vida medicamentosa para os órgãos.. mas... é a vida que conseguia ter, e os desdobramentos ela sempre pagava. Às vezes se sentia a moça casamenteira, ao estilo da sobrinha em "Meu amigo Harvey". Daliza era uma musa pin up. Tinha a leveza das panquecas com espessura de papel; diria que ela seria uma geleia de pêssego, se gostasse de doces. Deles só sabo

A perfeição*

O que me tranquiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição. *Clarice Lispector

Ditirambos*

Existe uma lógica superlativa em meio às façanhas usuais. Não fora seu ser extraordinário a desalojar cotidianos, poderia acessar, com mais facilidade, a epistemologia das coisas ao seu redor. Sua encenação de caráter imperfeito escolhe a vertigem para traduzir amanhãs. Um inusitado cio criativo, de essência exploratória, realiza festejos para representar mesclas de exclusão e integração. Sua essência Dionisíaca sugere uma nova página às promessas de um para sempre. Seu jogo de cena inventa linguagens para redesenhar a vida acontecendo. Essa dança de consciência alterada ensaia rupturas ao padrão existencial. Sua expressividade é das ruas, praças, teatros, diante do espelho. Seu êxtase menciona um lugar quase esquecido, recém chegando pelo deslocamento fora de si. Num estado diferenciado a existência se encontra com sua irrealidade, rascunha novas proposições. Ao surgir em retórica dançarina, o fenômeno ditirambo prescreve eventos de paixão desarrazoada. Em trânsitos d

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Temos tanta necessidade das lições de uma vida que começa, de uma alma que desabrocha, de um espírito que se abre" "Ver e mostrar estão fenomenologicamente em violenta antítese" "Não é também no devaneio que o homem se mostra mais fiel a si mesmo ?" "(...) o psicanalista pensa demais. E não sonha o bastante. Ao pretender explicar o fundo do nosso ser por resíduos que a vida diurna deposita na superfície, ele oblitera em nós o sentido do abismo. Em nossas cavernas, quem nos ajudará a descer ? Quem nos ajudará a reencontrar, a reconhecer, a conhecer o nosso ser duplo, que, de uma noite para outra, nos guarda na existência, esse sonâmbulo que não caminha nas estradas da vida, mas que desce, sempre e sempre, em busca de jazidas imemoriais ?"  "(...) Os grandes sonhadores são mestres da consciência cintilante. Uma espécie de cogito múltiplo se renova no mundo fechado de um poema. Por certo serão necessários outros poderes co

O outono e a harmonia*

Outono chegou trazendo seus ventos e derrubando as lindas folhas de múltiplos matizes coloridos. Convidando a transformação. Fazendo nossa pele arrepiar e nossa alma se aquietar. Outono chegou no tempo do relógio cósmico da harmonia. No tomar o chá e ouvir Beethoven. No pegar os pincéis e pintar os caminhos. Sinto-me aconchegada por esta estação das rugas e cabelos brancos encaracolados. Estação do "não ter que". Da sabedoria das coisas simples. Do olho no olho e das amizades eternas. Entro junto com o outono e convido você a caminhar comigo neste tempo sagrado a recitar o poema do existir e ser em sintonia. E saborear um chá de consciência e beleza observando o por do sol e a lua cheia chegando de mansinho. Pois, apesar de tudo, de tanto descompasso neste mundo insano, há a possibilidade de um instante de felicidade, quando nos damos tempo de respirar os ventos a tocar nosso rosto sussurrando: -viva o agora, porque o paraíso é também aqui! *Dra Rosângela

Mundo pequeno*

I O mundo meu é pequeno, Senhor. Tem um rio e um pouco de árvores. Nossa casa foi feita de costas para o rio. Formigas recortam roseiras da avó. Nos fundos do quintal há um menino e suas latas maravilhosas. Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com aves. Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os besouros pensam que estão no incêndio. Quando o rio está começando um peixe, Ele me coisa Ele me rã Ele me árvore. De tarde um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos. II Conheço de palma os dementes de rio. Fui amigo do Bugre Felisdônio, de Ignácio Rayzama e de Rogaciano. Todos catavam pregos na beira do rio para enfiar no horizonte. Um dia encontrei Felisdônio comendo papel nas ruas de Corumbá. Me disse que as coisas que não existem são mais bonitas. IV Caçador, nos barrancos, de rãs entardecidas, Sombra-Boa entardece. Caminha sobre estratos de um mar extinto. Caminha sobre as conchas dos caracóis da

Silêncio da letra*

Cansei dos teus olhos, de tua voz, a duração deste momento, o movimento faz o tempo durar o sempre na imagem. O breviário do solitário é catar os dias, então, do previsível, da atitude dos versos, a métrica é o fluxo do pensamento: e o silêncio fascina. Morrerei em Paris como César Vallejo e Celan. O Sena que lava a textura do tecido, palavras entre as pernas abrem-se às manhãs da cidade. A poesia nasce da algaravia, da alma perdida, morrer em águas turvas. O silêncio abre-se coberto de tardes tristes, um beijo na beleza incessante dos olhos esquecidos dos os amantes  que não se cansam de partir. O silêncio fascina sobre o escrito. *Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gomes Filósofo. Editor. Escritor. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O que significa, aqui, dizer que a existência precede a essência ? Significa que, em primeira instância, o homem existe, encontra a si mesmo, surge no mundo e só posteriormente se define. O homem, tal como o existencialista o concebe, só não é passível de uma definição porque, de início, não é nada; só posteriormente será alguma coisa e será aquilo que ele fizer de si mesmo"  "(...) o primeiro passo do existencialismo é o de pôr todo homem na posse do que ele é, de submetê-lo à responsabilidade total de sua existência" "O existencialista não pensará nunca, também, que o homem pode conseguir o auxílio de um sinal qualquer que o oriente no mundo, pois considera que é o próprio homem quem decifra o sinal como bem entende. Pensa, portanto, que o homem, sem apoio e sem ajuda, está condenado a inventar o homem a cada instante" "(...) se vocês procurarem um padre, por exemplo, para que ele os aconselhe, vocês estarão escolhendo esse padre,

Singularidades*

Gosto de observar, de pensar ... algumas vezes escrevo expressando semioticamente minhas emoções através de uma analítica de linguagem. Não intenciono disputar saberes mas uma tentativa de compreender a essência da minha existência como significado e paixão. Aprecio discursos organizados e " limpos", bem estruturados que me ajudem nas buscas e no cuidado com meus pré-juizos assim como um instrumento de mediação que conduz a se sentir melhor. Sou ação. Aprecio termos , palavras leves e descontraídas através das quais posso ter uma interseção agradável e segura para expressar fenomenológicamente, como o mundo me parece. Não domino conhecimentos; minha intencionalidade é única e exclusiva para a tentativa de uma compreensão do Todo que habita em mim. Utopia ?!? Não creio. Porém, ter a liberdade de agir, pensar e sentir sem os limites dos agendamentos e padronizações Sociais me são por demais agradáveis. *Marize Ouriques Filósofa Clínica Florianópolis/SC

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O que desejo enfatizar aqui, logo de início, é que a afirmação de que algumas pessoas têm uma doença chamada esquizofrenia (e de que algumas, presumivelmente, não a têm) baseia-se unicamente na autoridade médica e não em qualquer descoberta da Medicina; de que isso foi, em outras palavras, o resultado de uma tomada de decisão ética e política, e não de um trabalho científico empírico"  "Como Bleuler tampouco descobriu qualquer doença nova nem desenvolveu qualquer novo tratamento, sua fama assenta, em minha opinião, no fato de ter inventado uma nova doença - e, através dela, uma nova justificativa para se considerar o psiquiatra um médico, o esquizofrênico um paciente e a prisão em que aquele confina este, um hospital" "(...) ao descrever um paciente esquizofrênico, está descrevendo meramente alguém que fala de modo bizarro ou diferente dele, ou com quem ele, Bleuler, está em desacordo" "Através dessa transformação pseudocientífica do

A palavra mágica*

“Vive a tua hora como se gravasses o teu nome na epiderme de um tronco novo. Mas não voltes mais tarde para junto dessa árvore, porque podes não reconhecer o teu nome nas cicatrizes das velhas letras.”                                 Felippe D’Oliveira Sua tez de singularidade maldita refere uma simbologia em viés de encantamento. Na veemência discursiva compartilha uma fatia generosa de paraíso. O sagrado_profano esboça uma íntima convivência com a reciprocidade. Os significados apreciam aliar-se aos papéis existenciais de travessia. Assim o feitiço da palavra como medicamento aprecia as estruturas mutantes envolvidas na interseção.  Ao sugerir a cidade das maravilhas, é possível um novo entendimento e relação com o universo interior. Sua fonte de inspiração, muitas vezes, se faz menção em dialetos de esquiva. A magia, um pouco antes de ser representação traduzível, aprecia transbordar nalguma forma de excesso. Uma fenomenologia em aromas de dama da noite aponta o l

Reflexão n°.1*

Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio Nem ama duas vezes a mesma mulher. Deus de onde tudo deriva E a circulação e o movimento infinito. Ainda não estamos habituados com o mundo Nascer é muito comprido. *Murilo Mendes

Primeiro ler, depois filosofar*

A literatura é um ponto de partida fundamental para quem quer se aventurar a pensar filosoficamente a própria existência. Aliás, só há filosofia em seu sentido originário – tal como proposto e exercido por Platão e Aristóteles – se for intrinsecamente ligada à vida, à própria vida. E em tempos nos quais as chamadas ideologias estão em voga, a realidade perde a vez para atribuições que se propõem a descrevê-la quando, na verdade, a reduz a elementos limitantes: direita/esquerda, proletariado/burguesia, cativeiro/libertação etc. Mas, o que tem a ver a filosofia com a literatura? Nossa vida é constituída de experiências restritas. Não conseguimos viver todas as possibilidades por nossas próprias condições limitantes: geográfica, somática, psíquica, social, histórica etc. Com isso, pensar a vida em seu caráter mais amplo, em busca dos elementos universalmente constitutivos somente é possível ampliando o horizonte de perspectivas e experiências. Para isso é que a literatura auxilia

Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada*

I Não tenho bens de acontecimentos. O que não sei fazer desconto nas palavras. Entesouro frases. Por exemplo: - Imagens são palavras que nos faltaram. - Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem. - Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser. Ai frases de pensar! Pensar é uma pedreira. Estou sendo. Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo) Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos. Outras de palavras. Poetas e tontos se compõem com palavras. II Todos os caminhos - nenhum caminho Muitos caminhos - nenhum caminho Nenhum caminho - a maldição dos poetas. III Chove torto no vão das árvores. Chove nos pássaros e nas pedras. O rio ficou de pé e me olha pelos vidros. Alcanço com as mãos o cheiro dos telhados. Crianças fugindo das águas Se esconderam na casa. Baratas passeiam nas formas de bolo...   A casa tem um dono em letras.   Agora ele está pensando -   no silêncio Iíquido com que as águas escu

Visitas