“A leitura traz ao
homem plenitude, o discurso segurança e a escrita exatidão.” (Francis Bacon,
Ensaios)
Jamais pensei que iria
escrever alguma coisa para mais de uma pessoa. Passei a adolescência quase sem
ler. Somente iniciei minhas leituras, relevantes e em quantidade, a partir dos
20 anos. Isso é muito tarde para muitos. Minha escrita foi surgindo nessa
época. Antes disso não havia diferença entre o que escrevia no fim do ensino
médio e o que um iniciante na escrita da quarta série do ensino fundamental
escrevia, inclusive a dificuldade de expressar o que pensava e sentia.
Mas, as coisas mudaram.
Hoje ainda não conheço muitas regras da nossa língua. Uma frase às vezes deve
repetidamente ser mudada para que a forma esteja de acordo com o que minha
intuição permite. O que conheço de escrita devo totalmente à minha leitura. E
para quem começou a ler e escrever com certa frequência a partir dos 20 anos,
até que não me saio mal escrevendo.
Quando apresentei minha
monografia enquanto cursava a licenciatura de filosofia, o professor que me
argüia me disse: “Miguel, você escreve muito bem. Mas, sua fala não corresponde
à sua escrita.” Ou seja, pelo que parece, escrevo melhor do que falo.
Creio que devo isso ao
fato de falar desde quando me entendo por gente. Fui tomando todos os vícios de
linguagem possíveis ao longo de minha infância e adolescência. Mas, minha
escrita tem certa “pureza”. Escrever e ler aconteceram concomitantemente no
momento tardio de minha formação expressiva. Aprendi a me expressar por escrito
quando já falava bastante e minha formação básica já havia terminado.
Aos 21 anos, quando
entrei no bacharelado em filosofia, tive de aprender outra forma de escrita. Já
não bastava expressar o que pensava, sem rigor. Agora era necessário dizer o
que o escritor quis dizer, ou pelo menos de modo aproximativo. Foi um grande
desafio. Lembro que uma de minhas primeiras notas foi “3,5”, atribuída pela
professora com a qual cursei disciplinas em todo meu bacharelado. As notas
finais eram as melhores e ela ainda foi minha orientadora na monografia para
conclusão do bacharelado. De alguém que pouco entendia o que lia dos conteúdos
filosóficos, consegui chegar a não somente entender, mas expressar por palavras
escritas.
Hoje não me considero
um “escritor”, muito menos um dominador da arte de escrever e me expressar.
Mas, reconheço que ultrapassei o jovem que até os dezenove anos escrevia
vergonhosamente (devo isso ao meu desinteresse, à ausência de estímulos em casa
e à qualidade do ensino público no qual cursei o nível fundamental e médio) e
apenas sabia elementos básicos de mecânica de veículos a diesel (trabalhei
alguns anos em oficina mecânica).
Ler e escrever foram
exercícios que mudaram muito meu modo de interagir com o mundo. Digo “meu modo”
porque sei que são diversos os modos de interagir com o mundo e a escrita
tornou o “meu” um pouco melhor, o que não vale como regra universal. Agora
tenho o Alétheia*. O primeiro blog para o qual escrevi foi a Casa da Filosofia
Clínica**, administrado por Hélio Strassburger, que até hoje me dá grande força
para seguir escrevendo. Se posso deixar uma dica para quem pensa em escrever,
direi:
“Leiam e escrevam o
tempo todo. Todas as ideias que vierem à cabeça, coloquem no papel sem
preocupar-se se sairá bem ou se as pessoas gostaram. Primeiro expresse-se,
depois veja se essa expressão vale a pena ser compartilhada. Na grande maioria
dos casos, valerá sim.”
Esse foi meu caminho
para escrita. Qual foi, é ou será o seu?
*Prof. Dr. Miguel
Angelo Caruzo
Filósofo. Escritor.
Educador. Filósofo Clínico.
Teresópolis/RJ
** Este texto foi publicado
em 2011 no meu extinto blog chamado “Alétheia”, no qual postei entre 2011 e
2012. Não alterei nada nele para publicá-lo aqui.
***O blog da Casa da
Filosofia Clínica existe até hoje e há vários textos antigos meus publicados
por lá.
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