Sinto que sou abelha no
seu artesanato.
Meus versos tem cheiro
de mato, dos bois e dos currais.
Eu vivo no terreiro dos
sítios e das fazendas primitivas.
(...)
Minha identificação
profunda e amorosa
com a terra e com os
que nela trabalham.
A gleba me transfigura.
Dentro da gleba,
ouvindo o mugido da
vacada, o mééé dos bezerros.
O roncar e focinhar dos
porcos o cantar dos galos,
o cacarejar das
poedeiras, o latir do cães,
eu me identifico.
Sou arvore, sou tronco,
sou raiz, sou folha,
sou graveto sou mato,
sou paiol
e sou a velha tulha de
barro.
(...)
(...)
pela minha voz cantam
todos os pássaros,
piam as cobras
e coaxam as rãs, mugem
todas as boiadas que
vão pelas estradas.
Sou espiga e o grão que
retornam a terra.
Minha pena
(esferográfica) é a enxada que vai cavando,
é o arado milenário que
sulca.
Meus versos tem
relances de enxada, gume de foice
e o peso do machado.
Cheiro de currais e
gosto de terra.
(...)
Amo aterra de um velho
amor consagrado.
Através de gerações de
avós rústicos, encartados
nas minas e na terra
latifundiária, sesmeiros.
A gleba está dentro de
mim. Eu sou a terra.
(...)
Em mim a planta renasce
e floresce, sementeia e sobrevive.
Sou a espiga e o grão
fecundo que retorna à terra.
Minha pena é enxada do
plantador, é o arado que vai sulcando.
Para a colheita das
gerações.
Eu sou o velho paiol e
a velha tulha roceira.
Eu sou a terra
milenária, eu venho de milênios
Eu sou a mulher mais
antiga do mundo, plantada
e fecundada no ventre escuro
da terra.
*Cora Coralina
Comentários
Postar um comentário