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Inclusão!*

Podemos começar a falar de inclusão, tentando entender o conceito de integração.  Integrar é agregar uma pessoa em uma estrutura já pronta, definida, com seus processos já acertados e rígidos. A pessoa integrada faz o esforço de se adaptar aos valores, hábitos, normas e estruturas apresentadas a ela.  A ação do integrador, do cicerone, é mínima no sentido de dar atenção às necessidades da pessoa a ser integrada. Apresenta e deixa à vontade para o integrado se adaptar. Incluir é adaptar as estruturas e processos às necessidades e capacidades da pessoa que chega. É fazer dos hábitos e valores uma forma de ressonância com aquilo que o outro pode e consegue dar dentro de suas capacidades. O currículo adaptado em algumas escolas é um exemplo de inclusão. O aluno tem que atingir não o que toda a turma precisa atingir, mas aquilo o qual sua capacidade suporta. Tão importante quanto exercer a atividade de incluir é como se faz isso. Incluir passa pelo enfrentamento da alterida

Viagem*

"É mais fácil pousar o ouvido nas nuvens e sentir passar as estrelas do que prendê-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos. É mais fácil, também, debruçar os olhos no oceano e assistir, lá no fundo, ao nascimento mudo das formas que desejar que apareças, criando com teu simples gesto o sinal de uma eterna esperança. Não me interessam mais nem as estrelas, nem as formas do mar, nem tu. Desenrolei de dentro do tempo a minha canção: não tenho inveja às cigarras: também vou morrer de cantar." *Cecília Meireles

A palavra reminiscência*

    Em uma recordação se pode reescrever fatos, reviver memórias esquecidas, alterar evidências, efetivar desconstruções, reconstruções, reinventar a própria estória. Sua matéria-prima, ao mesclar-se com a ótica atual, é capaz de apontar novas interseções, propor inéditos achados. Inicialmente por fragmentos sem conexão aparente, esses relatos apreciam multiplicar-se, emancipar periferias, descrever vontades marginais.  Ao rememorar eventos, esses já são outros eventos. As novas ideias, representações, vivências, ainda na perspectiva subjetiva, podem promover modificações de grande alcance no cotidiano de cada um. Esse movimento permite a contemplação das próprias ideias em deslocamento na malha intelectiva, alternância de endereços existenciais.    É comum as antigas referências de lugar, tempo e demais circunstâncias, expressarem, ao olhar atualizado, um território de verdades estranhas, as quais, ao transbordar num aqui_agora, já são outras. Assim, as relembranças, em sua

O Homem que Contempla*

Vejo que as tempestades vêm aí pelas árvores que, à medida que os dias se tomam mornos, batem nas minhas janelas assustadas e ouço as distâncias dizerem coisas que não sei suportar sem um amigo, que não posso amar sem uma irmã. E a tempestade rodopia, e transforma tudo, atravessa a floresta e o tempo e tudo parece sem idade: a paisagem, como um verso do saltério, é pujança, ardor, eternidade. Que pequeno é aquilo contra que lutamos, como é imenso, o que contra nós luta; se nos deixássemos, como fazem as coisas, assaltar assim pela grande tempestade, — chegaríamos longe e seríamos anônimos. Triunfamos sobre o que é Pequeno e o próprio êxito torna-nos pequenos. Nem o Eterno nem o Extraordinário serão derrotados por nós. Este é o anjo que aparecia aos lutadores do Antigo Testamento: quando os nervos dos seus adversários na luta ficavam tensos e como metal, sentia-os ele debaixo dos seus dedos como cordas tocando profundas melodi

A(pro)fundando Narciso*

Inclino-me uma vez mais sobre Narciso.  Para tentar entendê-lo. Ou salvá-lo... Narciso puniu-se a si mesmo por ter se olhado no reflexo das águas.  Não parece ser tão simples assim. Parece que Narciso perdeu-se a si mesmo por não ter conseguido mais sair deste movimento fixo. Movimento que saía de si mesmo e retornava sobre si, sem nada lhe acrescentar. Preferiu sua própria imagem, oca e vazia, a si mesmo. Tentou buscar-se onde ele se via, isto é, onde ele não era. Nada mais desviaria seu olhar sobre si mesmo. Acontecia assim: Narciso sorria e a imagem lhe sorria. Chorava e a imagem vertia-lhe uma lágrima. Aproximava-se ou se afastava do espelho das águas e a imagem lhe retribuía com o mesmo movimento de aproximação ou de afastamento. Ensaiava um abraço e sua imagem retribuía-lhe de braços abertos. Porém, Narciso não se sentia abraçado... Narciso tornou-se refém da armadilha de um olhar que nada mais lhe acrescentava. Imagem sem substância, que se