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Notas sobre a relação da filosofia e da ciência com o passado*

A ciência pode ser vista a partir de uma perspectiva de evolução. Seu desenvolvimento se dá a partir do acúmulo de saberes a ponto de ser necessária apenas a pressuposição de alguns princípios para, assim, seguir com a pesquisa. Desse modo, a não ser por informação histórica, um cientista não precisa ler, por exemplo, as obras de Euclides, Copérnico e Newton para dar continuidade à sua pesquisa científica. Mas, com a filosofia isso não é possível. O exercício do filosofar passa pela experiência daquele que filosofa, a ponto de ter que revisitar muitos de seus pressupostos antes de dar continuidade ao exercício filosófico. Essa atividade de lidar com a base da própria experiência de mundo nem sempre é fácil, tornando necessário o auxílio de bons mestres que, por sua vez, são profundos conhecedores desse caminho. Assim sendo, o neófito das veredas da filosofia precisa revisitar – entre outros – aqueles que deram início ao que chamamos de filosofia, sobretudo seus grandes pil

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) na proporção em que o matrimônio passou a ser considerado sagrado e indissolúvel, a Psiquiatria involuntária foi considerada indispensável, uma verdadeira benção; e na medida em que a discórdia conjugal e o divórcio são considerados escandalosos, a doença mental e seu tratamento compulsório serão considerados científicos" "A loucura, conforme sugeri há algum tempo, é fabricada, num certo sentido, por alienistas. Em outras palavras, a Psiquiatria produz a esquizofrenia ou, mais precisamente, os psiquiatras criam esquizofrênicos" "(...) os 'pacientes' recebem 'tratamentos' que não querem e o Estado paga aos psiquiatras para coagir, confinar e mutilar quimicamente os cidadãos recalcitrantes" "A esquizofrenia é definida de modo tão vago que, na realidade, trata-se de um termo frequentemente aplicado a quase toda e qualquer espécie de comportamento reprovado pelo locutor" "Antes de 1900, os psiquiatras

Ilusão*

“Ouvir meras fábulas talvez não seja o programa favorito de vocês – talvez queiram ouvir A VERDADE. Bom, se é isso que vocês querem, então é melhor procurarem outro lugar – mas juro pela minha vida que não posso dizer exatamente que lugar é esse.”  Paul K. Feyerabend O momento em que começamos a pensar mais e mais sobre o mundo, sobre os mistérios que envolvem um mundo coerente e a incoerência que temos em vivenciá-lo. Todos vivem no mesmo barco, a nau do mundo é a mesma no plano teórico no que concerne ao corpo, na relação do corpo com o mundo. Como proferiu Feyerabend em uma de suas últimas conferências, “Ademais, os cientistas, os senhores da guerra, os esfomeados e os abastados são todos seres humanos”. Existe uma ponte imaginária nesta minha perspectiva, pois, se estou a pensar em português (ironia da reflexão), é a busca cotidiana de conhecer a natureza do mundo. Não há pretensão nisso, a pior arrogância e delimitar o pensamento em uma representação do pensamento

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Como se visse alguém beber água e descobrisse que tinha sede, sede profunda e velha. Talvez fosse apenas falta de vida: estava vivendo menos do que podia e imaginava que sua sede pedisse inundações." "(...) encontro a maior serenidade na alucinação" "Queria saber: depois que se é feliz o que acontece? O que vem depois? - repetiu a menina com obstinação" "E havia um meio de ter as coisas sem que as coisas a possuíssem?" "(...) para nascer as coisas precisam ter vida"  "Já agora nem sabia se vira o céu por si mesma como quem vê o que existe ou se pensara em céu e conseguira inventá-lo" "(...) a praça de pedra se perdeu entre os gritos com que os carroceiros imitavam os animais para falar com eles" "(...) a vida que se leva por dentro não é a vida terrena" "Toda a parte mais inatingível de minha alma e que não me pertence - é aquela que toca na minha  fronteira com o

Conjugações existenciais*

Existe um lugar onde é possível reinventar-se em vida. Nesse refúgio intersubjetivo é crível desfazer e refazer as coisas, segredar vontades, qualificar ensaios existenciais, traduzir sonhos. Num contexto de significação flutuante, ampliam-se horizontes numa arte do encontro. Em um espaço de acolhimento, cultivo, reciprocidade, as narrativas compartilhadas sugerem uma hermenêutica do estar junto. Atiça expressividades na integração das incompletudes. Em busca de fluência discursiva, ao instituir um novo território, aponta originais no ângulo fugaz do instante. Algo mais acontece quando duas ou mais pessoas se encontram. Seu teor de abrigo é um farol na solidão dos exílios. Sua matéria-prima é a afinidade das palavras, por onde um extraordinário encontro se realiza. Com essa integração provisória da malha intelectiva, institui-se um chão para se ousar o não pensado, cogitado, tentado.  Nessa reunião de vontades, acessada numa determinada sintonia