Pular para o conteúdo principal

Postagens

Loucos e Santos Oscar Wilde Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metad
Leitura Idalina Krause Filósofa Clínica Porto Alegre/RS Considero a leitura um dos atos que deveriam ser fundamentais para a condição humana, temo pelos que não sofrem seus efeitos não se deliciam com esta arte. Falo da leitura não com armazenamento de conhecimento, mas como deleite, paixão... A alegria do livro entre as mãos, hábito adquirido desde a infância, o cheiro gostoso de cada página virada e revirada. Dos novos olhares sobre trechos sublinhados na época da faculdade, das coisas que já não dizem mais nada e da nova dança de signos delirantes que nos fazem tremer, vibrar, criar. Alguém já sentiu essa musicalidade diante de uma obra? -Da coisa dos amantes ali entre quatro paredes, tendo como única testemunha a velha luminária. Das confidências íntimas, dos toques sutis, no mexer de entranhas, do sorriso de canto, da lágrima de até outra hora. Os olhos revirando, buscando nos cantos do quarto, personagens das transas mentais, fluxos de ideias... dos papelotes sobre a
Reflexões sobre o início de tudo Rosângela Rossi Juiz de Fora/MG Sempre olhei para o céu tentando compreender como tudo iniciou. Quando criança ficava horas e horas no meu quintal admirando as estrelas, com uma angústia intensa, questionando o infinito. Onde tudo começou? Albert Einstein sempre foi um admirador do cosmo: “A alegria de contemplar e de compreender, eis a linguagem a que a natureza me incita”. Ervin Laszio escreveu: “Se soubéssemos mais sobre as condições sob as quais nosso universo nasceu, talvez pudéssemos descobrir também porque suas constantes são tão precisamente sintonizadas com a evolução da vida”. Curiosa que sempre fui sobre as coisas do cosmos e da vida me deparei com um livro instigante “Criação Imperfeita” de Marcelo Gleiser. Ele me fez pensar mais do que já penso sobre o início de tudo. Para mim não houve criação. Tudo sempre foi e será pulsação, uma grande respiração. Só vastidão. Consciência solta no espa
Distorções* Quando a conversa é leitura, não nos falta bibliografia para uma melhor compreensão do assunto. Alguns especialistas trabalham com a idéia de que um bom aproveitamento dos estudos, acontece na interseção de dois conhecimentos: lingüístico e as informações exteriores ao texto, ou seja: nossas vivências e convivências. Os objetivos pelos quais buscamos um bom livro variam: informações, ampliar horizontes, compreender o mundo, comunicar-se e escrever melhor, relacionar-se com o outro. No entanto, existe um ponto em que a maioria dos estudantes concorda: a leitura deve ser algo prazeroso. Sendo agradável, ela deverá nos tocar em algum momento. Com o espírito aberto às informações, a relação entre as idéias do autor e o leitor pode proporcionar verdadeiras revoluções na estrutura de pensamento de quem se desloca ao mundo de quem escreve. Ao lermos nos deparamos com vestígios de uma alma disfarçada em palavras. Lembro duas obras que possibilitam dialogar com a est
A MORTE DO HUMANISMO, GRAÇAS A DEUS! Will Goya Filósofo Clínico Brasília/DF Um questionamento: por que, hoje em dia, aquele que sabe não é mais sábio? Curiosamente percebe-se que a ciência moderna quase nunca significa aquele clássico conceito de sabedoria em que o saber busca um sentido de plenitude de consciência, uma visão da totalidade do mundo. Fato é que o saber deixou de significar sabedoria quando o conhecimento adquiriu um outro fim que não sua própria totalidade. Essa mudança surgiu quando o ser humano – a partir de Francis Bacon e assegurado pelo paradigma científico de Descartes e Newton – fragmentou a realidade em duas partes separadas: o homem e a realidade natural; o observador e a objetividade do mundo externo a ser conhecido. Depois da afirmação pragmática de Bacon, segundo a qual “conhecer é poder”, aquele que sabe não é mais sábio. O verbo latino sapere significa literalmente “saborear”, ou seja, experimentar pessoalmente, vivenciar a realidade como part