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Gaia* Você sabe como eu sou despreocupada que me encerro neste quarto e me permito todas as divagações, as fantasias obsessões, perseguições, todos os dias você sabe que eu me viro de inventos que eu me reparto e dou crias que eu mal me resolvo e me aguento carrego pedras no bolso e enfrento ventanias. Você sabe como eu sou desorientada raciocínio pelo instinto e cometo fugas de túnel de ladra de galeria uso malhas e madras manhas e lenhas e percorro superfícies em que você escorregaria Mas você sabe como eu sou de subsolos de subterfúgios, de subversos subliminares como eu sou de submundos subterrãneos, de sub-reptícias folias meio de circo, meio de farsa ervas, panfletos, fluídos, presságios quebrantos, jeitos, gírias, reviras de sensações e cismas, filosofias de como eu sou de estradas, andanças, pressentimentos atmosférica e vadia gato da noite, de crises, guitarras ouros e danças e circunstâncias de vinho azedo e companhia. Que eu sou d
Pretéritos futuros* “Mas a função do filósofo não será a de deformar o sentido das palavras o suficiente para extrair o abstrato do concreto, para permitir ao pensamento evadir-se das coisas ?” Gaston Bachelard A concepção de um esboço de como seria a tradução de ideias em atitudes, poderia dizer a vida em retrospectiva de amanhãs. Um lugar onde se alcançaria a perspectiva imaginada, como se fora uma invenção a transbordar oceanos. Uma linguagem do futuro pretérito se oferece na palavra tentativa de superar o instante_antítese entre o vivido e sua descrição. Existem pessoas aprisionadas nalguma página do grande álbum das suas vidas. Numa dialética entre passado, presente e futuro, nem sempre conseguem realizar uma desconstrução de qualidade, capaz de alterar aquilo que já deveria ter sido. Raros transitam com leveza e desenvoltura entre um lugar e outro de sua estrutura existencial. Partindo do viés singular, numa percepção reflexiva da realidade plural, é
Fragmentos poéticos, filosóficos* Minha vida não é essa hora abrupta Em que me vês precipitado. Sou uma árvore ante meu cenário; Não sou senão uma de minhas bocas: Essa, dentre tantas, que será a primeira a fechar-se. Sou o intervalo entre as duas notas Que a muito custo se afinam, Porque a da morte quer ser mais alta… Mas ambas, vibrando na obscura pausa, Reconciliaram-se. E é lindo o cântico. (...) As folhas caem como se do alto caíssem, murchas, dos jardins do céu; caem com gestos de quem renuncia. E a terra, só, na noite de cobalto, cai de entre os astros na amplidão vazia. Caimos todos nós. Cai esta mão. Olha em redor: cair é a lei geral. E a terna mão de Alguém colhe, afinal, todas as coisas que caindo vão. *Rainer Maria Rilke
A Filosofia da Criança* A observação é realmente algo bom para se começar um estudo. Antropologicamente falando, a observação de nós homens é boa para termos idéia de costumes locais, crenças, culturas e outras coisas mais. Filosoficamente falando, podemos compreender os sistemas éticos e morais e que nos cercam e nos formam. Mas observando, ainda sob o olhar filosófico, uma outra população formada por gente miúda, as crianças mesmo, podemos ter uma idéia muito boa sobre nós mesmos e sobre nossos sistemas políticos etc.. As crianças são extremamente sinceras e estão sempre prontas a “jogar” sua sinceridade na nossa cara. Não me canso de pensar que elas são o retrato mais puro do que há dentro de nós mesmos e nós nem nos damos conta do quão verdadeiro isso pode ser. Por exemplo: quando aprendemos a dividir? A criança não divide, é dela e ponto! Ela luta pelo que entende ser bom e seu, somente seu. Já tentaram tirar um brinquedo da mão de uma criança? Ela não deixa! Faz uma força inc
Fragmentos filosóficos delirantes* "Quem sou eu? De onde venho? Sou Antonin Artaud e basta que eu o diga Como só eu o sei dizer e imediatamente hão de ver meu corpo atual, voar em pedaços e se juntar sob dez mil aspectos diversos. Um novo corpo no qual nunca mais poderão esquecer. Eu, Antonin Artaud, sou meu filho, meu pai, minha mãe, e eu mesmo. Eu represento Antonin Artaud! Estou sempre morto. Mas um vivo morto, Um morto vivo. Sou um morto Sempre vivo. A tragédia em cena já não me basta. Quero transportá-la para minha vida. Eu represento totalmente a minha vida. Onde as pessoas procuram criar obras de arte, eu pretendo mostrar o meu espírito. Não concebo uma obra de arte dissociada da vida. Eu, o senhor Antonin Artaud, nascido em Marseille no dia 4 de setembro de 1896, eu sou Satã e eu sou Deus, e pouco me importa a Virgem Maria. *Antonin Artaud
Avaliação* Se hoje eu lhe convidasse para ser avaliado como pessoa, como profissional, como pai, enfim, fazer uma análise de você nos diversos papeis que você exerce, o que você acharia? A avaliação é uma ferramenta que muitas pessoas usam para saber se estão ou não no caminho certo, para identificar seus pontos problemáticos e mudar. Avaliar tem o significado corriqueiro de determinar o valor de algo ou seu preço (lembrando que preço pode ser entendido como uma avaliação quantitativa enquanto o valor como qualitativo). Sendo assim, algumas pessoas quando param para se avaliar fazem uma avaliação própria tendo em vista valores quantitativos, ou seja, o quanto acumularam, seja dinheiro, títulos, lotes, casas, mulheres. Outros já partem para uma avaliação quantitativa, analisando como eram quando tinham tal idade e como estão agora, como eram quando começaram na empresa e onde chegaram na atualidade. Algumas pessoas são muito duras ao se avaliarem e se cobram além do que poderiam
Mario por ele mesmo* Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade. Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu... Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunc