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Postagens

Este é o Prólogo*

Deixaria neste livro toda minha alma. Este livro que viu as paisagens comigo e viveu horas santas. Que compaixão dos livros que nos enchem as mãos de rosas e de estrelas e lentamente passam! Que tristeza tão funda é mirar os retábulos de dores e de penas que um coração levanta! Ver passar os espectros de vidas que se apagam, ver o homem despido em Pégaso sem asas. Ver a vida e a morte, a síntese do mundo, que em espaços profundos se miram e se abraçam. Um livro de poemas é o outono morto: os versos são as folhas negras em terras brancas, e a voz que os lê é o sopro do vento que lhes mete nos peitos — entranháveis distâncias. — O poeta é uma árvore com frutos de tristeza e com folhas murchadas de chorar o que ama. O poeta é o médium da Natureza-mãe que explica sua grandeza por meio das palavras. O poeta compreende todo o incompreensível, e as coisas que se odeiam, ele, amigas as chama.

A palavra devaneio*

É incomum notar a existência de algo que restaria silenciado, não fora um olhar absorto, indeterminado, sentir improvável de um sonhar acordado. Esse lugar de refúgio aos desatinos da criação, concede uma estética de acolhimento ao viajante das quimeras.   Nessa região, onde eventos sem nome rascunham invisibilidades, é possível intuir vias de acesso de essência não epistemológica. Seu teor, ao pluralizar versões desconsideradas, faz acordar aquilo que dormia. Ao desalojar esses fenômenos, desconstrói o aspecto irrealizável das promessas. Seus rastros reivindicam a singularidade alterada para se mostrar. Assim a pessoa, deslocando-se por esses refúgios, ao ser ela mesma, já é outra. Uma estética do devaneio, ao convidar para o exercício da ficção, oferece achados imprevisíveis. Inicialmente desconfortável nesse chão desconhecido, o sujeito pode vivenciar insegurança, dúvida, receio. No entanto, ao persistir as visitas por esse ambiente especulativo, pode desvendar-se em proj

A estranha efemeridade do ser*

“Não há fatos eternos como não há verdades absolutas”. (Friedrich Nietzsche)   Quanto mais as eras se acumulam, mais a humanidade se esforça para permanecer fantasticamente bizarra. Não importa em que raio do planeta sua representação esteja, ela caminha insondável em praticamente todos os seus aspectos. Ao mesmo tempo em que fascina, surpreende, envolve... também insiste em escapar por entre os véus de uma estranheza que parece não ter fim. E não é interessante que se explique ou se justifique no que quer que seja. O (des)encanto de sua natureza exige que continue obscuro. Talvez em troca da garantia de que permanecerá incompreensível – tanto pela insanidade que cultiva perenemente quanto pela insistência em perseguir a trilha oposta à simplicidade que a faria melhor – aos olhos dos mortais que abriga.     Cabe questionar se a entidade criadora presente no caldo primordial previu todas as diversidades, incongruências, incertezas e improbabilidades presentes na dimensão

Duplo*

Olho-me adentro sem cessar e no silêncio e na penumbra de mim mesmo não me exprimo nesse mim que se esconde e se retrai no vago espaço de uma célula e vai construindo outro mim de mim, disposto em gêmeos compassos, e não aparece ao olho, ao espelho, à imagem casualmente em máscara, fechado à curio- sidade de meus olhos lacerados, cegos de tanta luz enganosa, nem se derrama sobre a superfície polida e indiferente, enquanto cresce em mim a presença de estranho ser não eu, de irrevelada e própria pessoa, que domina esse meu corpo, casca de angústia e contradições simétricas envolventes, e me explora e me assimila; mas sou eu só a me percorrer e nele me vejo e sinto, como de dois corpos iguais matéria viva, e me faço e refaço e me desfaço sempre e recomeço e junto a mim eu mesmo, gêmeo, nada acabo e tudo abandono, dividido entre mim e mim na batalha interminável... *Fernando Py

Guga...*

Não há o que fazer. Acontece, assim, sem querer, o apaixonamento. Num movimento. Vem e fica. Toma conta e tudo significa. Pelo tempo que precisar. Com a intensidade necessária. Pois é, devo confessar. Estou me apaixonando por um homem!! Um menino. Meu neto. Encontramo-nos, então, olhando um para o outro. Por instantes. Que se prolongam por minutos. E por meias horas. Olhares que tranquilizam. E falam tanto. Brilham os olhinhos dele. E fazem brilhar os meus. O que se passa nesta cabecinha? Não se precisa de respostas.... O tempo para. Diante de um olhar assim puro e inocente. Está aprendendo a sentar. A descobrir o mundo. Tudo ao redor. Construindo suas primeiras palavrinhas. Ainda em forma de sons. Que já podem ser entendidos. Ou imaginados.... Sinto-me assim: netinhos e avôs constroem mundos que somente eles entendem. Pelo olhar. Percebo-me voltando a ser criança outra vez. Faz muito sentido nesta etapa da vida. Assim me vejo, imaginando, que nos entendemos. E nos enten

Eu não Quero o Presente, Quero a Realidade*

Vive, dizes, no presente, Vive só no presente. Mas eu não quero o presente, quero a realidade; Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede. O que é o presente? É uma cousa relativa ao passado e ao futuro. É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem. Eu quero só a realidade, as cousas sem presente. Não quero incluir o tempo no meu esquema. Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas                          como cousas. Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes. Eu nem por reais as devia tratar. Eu não as devia tratar por nada. Eu devia vê-las, apenas vê-las; Vê-las até não poder pensar nelas, Vê-las sem tempo, nem espaço, Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê. É esta a ciência de ver, que não é nenhuma. *Fernando Pessoa in versão Alberto Caeiro

As palavras*

As palavras têm asas Voam para o mundo Levam e trazem sonhos Constroem ninhos De poesias e prosas Nos livros e escritos Cantam e encantam Pousam na alma dos escritores E se transformam em pássaros Hoje é nosso dia! Amém a todos que se encontraram E, nas palavras levantaram voo. *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Filósofa Clínica Juiz de Fora/JF