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Fragmentos filosóficos, delirantes*

"O mesmo poema é lido por várias pessoas, e cada uma delas faz dele o 'seu' poema. Assim funciona a imaginação: cada um precisa reimaginar por si mesmo." "A nova era só termina quando esses limites se tornam rígidos e convencionais, aguardando seu rompimento por outra descoberta, para que prossiga a marcha no rumo das próxima liberdade." "A obra de arte, ao contrário, é essencialmente uma proposição incompleta, que nos é apresentada para que com ela possamos construir nossa própria generalização." "E depois de ler essa passagem de Gertrude Stein, estilisticamente estranha (como A Rose is a Rose, is a Rose) [Uma rosa é uma rosa, é uma rosa], ela de repente nos faz perceber que os problemas que a preocupavam só podiam ser expressos daquela forma." "(...) a obra de arte nos ensina não só o que é agir como se fôssemos outra pessoa, mas também o que é ser outra pessoa." "(...) a história é feita por fanát

Entropia da Calêndula*

“Mas não tenho nenhuma certeza de que o porvir de vocês coexistia assim com o seu presente.” Henri Bergson A ordem é a desordem. Havia um tempo que a desordem era o momento em que as coisas começavam a tomar um ponto a seguir, que as direções se distribuíam conforme os seguimentos da existência pediam passagem. Hoje, o caos não é mais dessa proposição, ou seja, a expressão verbal dos conceitos deixa de ter legitimidade diante dos fatos que atropelam o uso da linguagem. Se o juízo de algo é mais do que uma verdade, se ele passa a ser um acontecimento destruidor, a proposição do que estou aqui a pensar não tem importância alguma de sua veracidade de enunciado. Esse pequeno esforço recreativo, quase um jogo do pensamento, é porque ando a refletir sobre os efeitos benéficos e maléficos das Verdades seculares, sejam elas de ordem das ideias, dos grandes movimentos e correntes do pensamento, ou da heresia quase suicida de afrontar ao uso analítico de conceituar tudo através da

Espiritualidade cristã e qualidade de vida*

Quando falamos em qualidade de vida, logo nos lembramos de uma alimentação saudável, exercícios, noites de sono bem dormidas e outras centenas de métodos que visam cuidar da pessoa de um modo que possa viver mais e melhor. Mas onde entra a espiritualidade cristã dentro do contexto da qualidade de vida? Hoje, o ser humano é visto como um todo. Não somos um compartimento com gavetas diferenciadas. Tudo o que faz parte de nós compõe aquilo que somos. E a espiritualidade está presente naquilo que faz parte de nossa existência em sua totalidade. Quando descuidamos da alimentação, o nosso corpo, as nossas emoções, o nosso humor, o nosso sono, a nossa autoestima, o nosso desempenho no trabalho, as nossas motivações respondem de maneira negativa. O mesmo processo acontece quando descuidamos de nossa espiritualidade. Todo o nosso ser responde negativamente. Uma qualidade de vida saudável também exige que a espiritualidade seja cuidada. Muitos adentram em complexos processos de

Fragmentos de alma primaveril*

"Saibam, pois, que a arte é: um caminho para a liberdade. Todos nós nascemos acorrentados. Um ou outro esquece os seus grilhões, revestindo-os de prata ou de ouro. Mas nós queremos quebrá-los. Não com violência torpe e selvagem; queremos nos desvencilhar crescendo até que eles não nos caibam mais."  "A criação do artista é uma insígnia: a partir de seu íntimo ele exterioriza todas as coisas pequenas e efêmeras: seu sofrimento solitário, seus desejos vagos, seus sonhos angustiados e aquelas alegrias que perdem o viço. Aí sua alma se engrandece e torna-se festiva, e ele criou o lar digno para si mesmo." "Cada um de nós recria a mundo ao nascer, porque cada um de nós é o mundo." "(...) a busca nostálgica de si mesmos. Seus maiores arrebatamentos provinham das descobertas que faziam em seu íntimo." "Fato é que cada um cresce em direção a si mesmo." "Não podendo a arte ser nacional em seus momentos de apogeu, se

Viver e morrer*

Estaríamos nós desprezando a presença da morte? Mais uma vez ela estava presente, ou melhor, ela sempre esteve. Por mais que não a enxerguemos, está rondando o ambiente. E, quando menos esperamos, aparece num último suspiro, acompanhada sempre de algumas indagações, medos, incertezas, sofrimentos, projetos inacabados e até mesmo alívios. Quando se recebe a notícia de que se está com uma doença terminal, se pensa logo que vai morrer. E, realmente, em algum momento vamos morrer... Só que não sabemos o momento.  Quando a morte é no “outro”, acabamos de alguma forma, morrendo um pouco. Apenas presenciamos, sabendo que em algum momento esta morte será no “eu”. Ainda assim, continuamos a viver como se nunca fossemos morrer, adquirimos coisas, fazemos planos e até colecionamos objetos, sem pensar que em algum momento vamos nos desprender deles. Essa é a forma através da qual a sociedade enxerga a morte. Falar de morte ainda é um tabu. Falamos de sexo, de drogas,

Fragmentos filosóficos, delirantes*

"Em sua essência, a linguagem não é expressão e nem atividade do homem. A linguagem fala. O que buscamos no poema é o falar da linguagem. O que procuramos se encontra, portanto, na poética do que se diz." "Poesia nunca é propriamente apenas um modo mais elevado da linguagem cotidiana. Ao contrário. É a fala cotidiana que consiste num poema esquecido e desgastado, que quase não mais ressoa." "A poesia de um poeta está sempre impronunciada. Nenhum poema isolado e nem mesmo o conjunto de seus poemas diz tudo. Cada poema fala, no entanto, a partir da totalidade dessa única poesia, dizendo-a sempre a cada vez." "O delirante pensa e pensa mais do que qualquer um. Mas nisso ele fica sem o sentido dos outros. Ele é um outro sentido." "O desprendido é delirante porque está a caminho de outro lugar." "Deixei uma posição anterior, não por trocá-la por oura, mas porque a posição de antes era apenas um passo numa caminh

Poéticas do indizível*

                                   Uma crença muito antiga aprecia atualizar-se nesse enigmático hoje que um dia foi amanhã. Poderia ser o pretérito imperfeito de uma busca ou aquele quase nada onde tudo acontece. Atualização de um dialeto nem sempre dizível, se alimenta nas fontes inenarráveis, nos paradoxos, nas desleituras criativas. Seu visar inédito sugere desvãos ao mundo que se queria definitivo. Costuma ser abrigo do acaso na versão do avesso das coisas. Ao referir o encantamento das pequenas devoções, parece ter a vocação de traduzir esse texto interminável, por onde a vida escoa seus segredos. Realiza um esboço sobre as tentativas de decifrar por inteiro um mundo que é mistério por natureza.      A característica de ser imprevisível seria insuportável, não fora a poesia re_significada numa lógica delirante. No submundo dos outros é possível reconhecer parte do nosso, isso pode acontecer no elogio ou crítica, censura ou aplauso. Essa contradição parece fundame