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Mar Idalina Krause Filósofa Clínica Porto Alegre/RS Ó mar! Misteriosas águas O tempero de tuas ondas Fazem pensar em delícias Vazão de sensações Repuxo, volúpia aquosa Mergulhos quentes Ó mar! Tão enigmático Como eu mesma Um ser de enseadas E gigantescas ondas Nossas ressacas Invadindo praias Marolas surfadas Véus ilusórios Batidas em pedras Rochas acariciadas Mar morto Oceano Pacífico Ó quantas gotas cabem em ti? Quanta sujeira depositaram em nós! Extrema-unção dos enfermiços Desconcertantes bailados Que nos mantém indo e vindo Ao sabor da marés
Fragmentos filosóficos delirantes XXV* "Ao olhar delirante a realidade se reapresenta como um espetáculo sempre novo. Incontáveis dialetos ultrapassam as fronteiras do verso bem alinhado. Parece querer dizer algo mais, nos simulacros de ser indizível." "Fenômeno complexo e de difícil entendimento, se distanciado das representações de cada um. A estrutura delirante, ao surgir camuflada, insinua poéticas de refúgio." "A pluralidade subjetiva internada em uma só pessoa aprecia o caos para ensaiar releituras existenciais." "O Filósofo Clínico, ao acessar, com autorização da pessoa, a vastidão de sua subjetividade, vivencia discursos e verdades muito íntimas. Entremeios das múltiplas mensagens as estranhas arquiteturas incompletam segredos, enquanto aguardam a interseção capaz de desvendá-los." "O sujeito refugiado em si mesmo depara-se com novos aliados para tentar algum sentido às mirabolantes contradições. Na reclusão dos delírios, e
Fragmentos filosóficos delirantes XXIV* moinho de versos movido a vento em noites de boemia vai vir o dia quando tudo que eu diga seja poesia __________________________________ o barro toma a forma que você quiser você nem sabe estar fazendo apenas o que o barro quer __________________________________ tudo em mim anda a mil tudo assim tudo por um fio tudo feito tudo estivesse no cio tudo pisando macio tudo psiu tudo em minha volta anda às tontas como se as coisas fossem todas afinal de contas _____________________________________ isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além _____________________________________ no fundo, no fundo, bem lá no fundo, a gente gostaria de ver nosso problemas resolvidos por decreto a partir desta data, aquela mágoa sem remédio é considerada nula e sobre ela -- silêncio perpétuo extinto por lei todo o remorso, maldito seja quem olhar pra trás, lá pra trás não há nada,
O que acha de si mesmo Marcelo Osório Costa Filósofo Clínico Belo Horizonte/MG Suponha que uma pessoa diz o seguinte: “Eu sou uma pessoa muito curiosa, me sinto inferior, não me valorizo nos momentos que são necessários me valorizar... É como se eu me perdesse com as pessoas. Sou uma pessoa que tenho vergonha de meu corpo, e quando eu fico assim nem a minha voz sai de minha boca. Mas, mesmo assim eu sou muito feliz”. Este relato preenche o Tópico nº 2 da Estrutura de Pensamento (EP), em Filosofia Clínica, que também denominado de T2. Este tópico traz aquilo que o partilhante expressa dele mesmo. O T1 (Como o Mundo Parece Fenomenologicamente) apresenta informações acerca do mundo externo à pessoa, já o T2 (O que acha de si mesmo) descreve dados sobre aspectos internos do partilhante. No momento que a pessoa expressa algo a respeito de si mesma o filósofo clínico terá indícios sobre informações referentes ao T2. A pessoa ao falar dela mesma expressa o que vai à sua Estrutura
Eremitas urbanos Sandra Veroneze Filósofa Clínica Porto Alegre/RS Vira e mexe soa um sinal dentro de mim. É o toque de recolher. Uma força muito grande, intuitiva, toma conta da minha consciência, do meu coração. Só há uma coisa a ser feita: ir para o deserto. O deserto pode ser meu quarto, um banco de praça, a mesa de um café, uma estradinha de terra em meio ao mato de acácia ou eucalipto. Pode ser também um parque no final de tarde, a areia da praia cedo de manhã, ou então o aconchego de uma pousada na serra. O deserto pode ocupar minutos, horas, ou até dias do meu tempo. Nele as outras pessoas inexistem. Fico sozinha, mesmo com gente por perto. Mato toda saudade de mim e a única interação permitida é com meus livros, com minhas canções preferidas e com ele, o silêncio... Nem todos entendem. Alguns chegam a ficar chateados se não atendo ao telefone, se não respondo e-mail, ou se não conecto o msn. Nessas ocasiões, por breves momentos, chego a pensar que, como diria o fil
O discurso do rei Rosângela Rossi Psicoterapeuta e Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG "No trabalho psicoterápico, o segredo do polichinelo é que, por mais que suspendamos diplomas em nossas salas de espera, somos todos leigos e aventureiros. Não sei se existem cursos ou estágios que ensinem a ouvir o que Longue ouve e entende do desejo escondido do duque de York". Escreveu Contardo Calligaris. O filme "O discurso do Rei" é um verdadeiro tratado terapêutico, que me fez pensar muito sobre o ser terapeuta no exercício de escutar e fazer refletir no encontro com o outro. Mais que técnica o encontro terapêutico se faz no compartilhar amoroso. De um lado chega aquele que se propõe a transformação e do outro um coração aberto em compaixão disposto a caminhar ao lado. O terapeuta que pensa tudo saber está com ego inflado na ilusão de um poder saber que na realidade é uma máscara para esconder sua fragilidade e insegurança. O terapeuta vai aprendendo com o Outro
Anotações sobre a estética das travessias* “Uma pessoa que, há semanas, me repetia sempre as mesmas coisas, executa algo na cena da análise que transforma todas as suas coordenadas, suas referências e engendra novas linhas de possível.” Felix Guattari Existe uma região de face indeterminada, mutante e de aparente sem nexo, por onde transitam eventos de epistemologia desajustada. Sua agitação refere moldes sem sentido. Muitas vezes, sequer tem oportunidade de se estabelecer como algo traduzível, enquanto sobrevoa hipóteses. Uma ação assim descrita se assemelha a um compêndio das ventanias. Esses conteúdos de alma nova apreciam o instante caótico para insinuar derivações. Seu existir fugaz surge na intimidade com os rascunhos do exagero. Os enunciados de aspecto delirante protegem outras razões. Espécie clandestina a transgredir limites, parece sem direcionamento para compartilhar a nova configuração estrutural. Seu viés de associação marginal possui dificuldade em conversar
Fragmentos filosóficos delirantes XXIII* Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio Nem ama duas vezes a mesma mulher. Deus de onde tudo deriva E a circulação e o movimento infinito. Ainda não estamos habituados com o mundo Nascer é muito comprido. Adivinho nos planos da consciência dois arcanjos lutando com esferas e pensamentos mundo de planetas em fogo vertigem desequilíbrio de forças, matéria em convulsão ardendo pra se definir. Ó alma que não conhece todas as suas possibilidades, o mundo ainda é pequeno pra te encher. Abala as colunas da realidade, desperta os ritmos que estão dormindo. À guerra! Olha os arcanjos se esfacelando! ____________________________ Transformar-se ou não, eis o problema. Durar na zona limite da memória, Nos limbos da vontade, Ou submeter a pedra, cumprir o ofício rude, Aprender do lavrador e do soldado. Qual a forma do poeta? Qual seu rito? Qual sua arquitetura? Mudo, entre capitéis e c