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Retrato*

Eu não tinha este rosto de hoje, Assim calmo, assim triste, assim magro, Nem estes olhos tão vazios, Nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, Tão paradas e frias e mortas; Eu não tinha este coração Que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, Tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face? *Cecília Meireles

Uma metafísica dos refúgios*

“Deram-me um corpo, só um! Para suportar calado, tantas almas desunidas, que esbarram umas nas outras.”                                                          Murilo Mendes Um íntimo estranhamento chega à superfície na forma de dizer desencontrado. O gesto inseguro, a voz trêmula, a lágrima bailarina, parecem traduzir a indefinição em curso dentro de si. Em nuanças de antigas vivências, a linguagem faz voltar o que parecia esquecido. Ao descrever invisibilidades seu olhar insinua um caminho às mil mensagens interditas. A contenção física não fora capaz de desarrumar o caos precursor, aliás, amarrar o corpo serviu para liberar a alma. O espanto inicial multiplica os acessos a essa nascente. Através das miragens, franjas e detalhes quase imperceptíveis descrevem-se num parágrafo maldito. O movimento especulativo se disfarça de realidade para insinuar segredos. Demonstra-se em trajetos pelos labirintos de si mesmo. Assim uma alma, exilada em um corpo refém, transcreve

Elegia Simultânea*

“Uma melodia que ouvimos de olhos fechados, pensando apenas nela, está muito perto de coincidir com esse tempo que é a própria fluidez de nossa vida interior...” Henri Bergson Todo mês um dia, o ano que se aproxima, Uma vida distancia-se, flor explode o coração no ensaio que dos olhos firmes, espanta solidão, todo mês a mesma via. Todo ano que chega ao fim, uma dor se aproxima, uma vida a discorrer, um poema de interlúdio, todas as notas, todas as músicas, fim do mundo. Todos os lugares no coração, um ser que viaja, viver no sol da Andaluzia, frio da Serra da Estrela, um dia entre o céu e o pensamento, ruas e destino. Todas as edificações e o Distrito da Guarda, o alto dos morros, Viver a luz de Lisboa, a ribeira do Porto, aos trilhos entre Paris e o Mediterrâneo. Todo o dia a luz a acordar, vê sonhos pintalgados a serpentear extensão do corpo. O espreguiçar da vida, uma roda de turbante, os passos, entre trens, a nuvem leva a nado o corpo que

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) um teólogo alemão que, em princípios do século XVII, descreveu a imaginária comunidade da Rosa-Cruz - que outros fundaram mais tarde, à semelhança da que ele preconcebera" "Todo estado mental é irredutível: o mero fato de nomeá-lo, de classificá-lo, implica um falseamento" "Os metafísicos de TlOn não buscam a verdade nem sequer a verossimilhança: buscam o assombro. Julgam que a metafísica é um ramo da literatura fantástica" "A base da geometria visual é a superfície, não o ponto. Esta geometria desconhece as paralelas e declara que o homem que se desloca modifica as formas que o circundam" "Um livro que não inclua seu contralivro é considerado incompleto" "Inútil responder que a realidade também é ordenada. Talvez seja, mas de acordo com leis divinas - traduzo: com leis inumanas - que nunca chegamos a perceber inteiramente" "Pensar, analisar, inventar não são atos anômalos, são a respir

Cristal Multifacetado*

Meu grito de liberdade criou eco... Posso ser eu mesma em tudo! Criar a minha moda. Construir meu método terapêutico: FiloNeuroTerapiaHolística Escrever com minha alma Falar o que penso sem copiar Agir de acordo com meus princípios. Sair do Jogo de Dados político Inverter o relógio e pintar minha história Ah! Aos 66 anos tudo é permitido! Posso ser artista de minha vida Não preocupar com os julgamentos(projeções) Não dar bola a crítica (ilusão de poder) Analisar através da investigação dialógica Ser cristal multifacetado Sem perder a essência de mim! Uau! Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"É possível, no entanto, que em tudo isso que está impensado subsista um nexo encoberto" "Quanto mais poético um poeta, mais livre, ou seja, mais aberto e preparado para acolher o inesperado é o seu dizer" "A arte do poeta consiste em desconsiderar o real. Em lugar de agir, os poetas sonham" "Pequeno distanciamento ainda não é proximidade, como um grande afastamento ainda não é distância" "Todo pensamento essencial atravessa incólume o cortejo dos prós ou dos contras" "Se os grandes pensamentos sempre chegam com os pés do silêncio, muito mais ainda é o que acontece com a transformação da vigência de todo vigente" "É o poético que leva a verdade ao esplendor superlativo (...) o que sai a brilhar da forma superlativa. O poético atravessa, com seu vigor, toda arte, todo desencobrimento do que vige na beleza" "Não foi Platão que fez com que o real se mostrasse à luz das ideias. O pensa

Incompletudes*

Deitei-me no colo Do frágil caniço da noite. Quem não sabe Que tornar-se livre Era uma coisa fácil Tomar o controle Desse ser vivo Era outra coisa. Afinal, nossa vida é Apenas uma sucessão De primeiros momentos E de momentos últimos Por isso mesmo estamos Nos acabando a todo momento Mas nunca terminando O nosso fim. No final das contas Nada estará perdido Se tivermos a coragem De proclamar bem alto Que tudo está perdido E que devemos começar Tudo de novo... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Filósofo Clínico Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Não acontece aos homens aquilo que eles merecem, mas sim o que se lhes assemelha" "Agora tenho a convicção de que qualquer filosofia superior, na qual não continuem a  existir as realidades do plano que ela pretende ultrapassar, é uma impostura" "As reviravoltas das abelhas, tão rápidas e incoerentes, parecem desenhar no espaço figuras matemáticas precisas e constituem uma linguagem" "Uma imaginação poderosamente aplicada ao estudo da realidade descobre que é muito tênue a fronteira entre o maravilhoso e o positivo, ou, se preferem, entre o universo visível e o universo invisível" "O que finalmente nos impressiona é a afirmação reiterada dos rosa-cruzes e dos alquimistas, segundo a qual o objetivo da ciência das transmutações é a transformação do próprio espírito. Não se trata nem de magia, nem de recompensa vinda do céu, mas de uma descoberta das realidades que obriga o espírito do observador a situar-se de outro modo&

O verbo e as carícias*

Hoje eu me apaixonei de novo por maneiras antigas de compor carícias em forma de palavras porque descobri outros caminhos para delinear velhos verbos de ação já muito aplicados outrora em linhas e entrelinhas de vida; agora.  E de tantos encontros, desencontros e reencontros nascera um dom que nunca morrera, pois nitidamente me parece que ele sempre esteve aqui, pulsando com canto sutil e quase sem nenhum intervalo. E é isso que muito corrobora para que a poesia prevaleça de dentro para fora, de fora para dentro e ainda, para muito além do meu próprio ser e estar.  E pensar que um sorriso tímido, de olhar profundo, de lábios e gestos doces demais pudessem sobreviver décadas sem jamais se desconstruir. E reconhecer que esse sorriso, que esse olhar e aqueles lábios e gestos contribuíram enormemente nesse papel existencial de ser ou estar poeta.  Portanto, hoje e sempre eu precisarei agradecer com todas as minhas forças ao belo fato de haver pessoas que me comovem e me co

A gleba me transfigura*

Sinto que sou abelha no seu artesanato. Meus versos tem cheiro de mato, dos bois e dos currais. Eu vivo no terreiro dos sítios e das fazendas primitivas. (...) Minha identificação profunda e amorosa com a terra e com os que nela trabalham. A gleba me transfigura. Dentro da gleba, ouvindo o mugido da vacada, o mééé dos bezerros. O roncar e focinhar dos porcos o cantar dos galos, o cacarejar das poedeiras, o latir do cães, eu me identifico. Sou arvore, sou tronco, sou raiz, sou folha, sou graveto sou mato, sou paiol e sou a velha tulha de barro. pela minha voz cantam todos os pássaros, piam as cobras e coaxam as rãs, mugem todas as boiadas que vão pelas estradas. Sou espiga e o grão que retornam a terra. Minha pena (esferográfica) é a enxada que vai cavando, é o arado milenário que sulca. Meus versos tem relances de enxada, gume de foice e o peso do machado. Cheiro de currais e gosto de terra. (...) Amo aterra de um velho amor cons

A escuta das palavras*

A palavra, em deslocamento por seus muitos territórios, também busca uma legibilidade para sua singularidade. Aptidão rara em meio às ditaduras da semiose verbal. Ao conviver sempre no mesmo lugar, ainda que em línguas diferentes, exibe uma excepcional aventura discursiva em cada pessoa. Em um mundo apropriadamente imperfeito, pode ser indizível, ao dicionário conhecido, o melhor ponto de equilíbrio para se traduzir. Essa suspeita se insinua nas possibilidades do instante perfeito. Essa transgressão da zona areia movediça de conforto existencial aproxima-se de um mundo quase invisível. Assim pode acolher e dialogar com a mutante medida de todas as coisas. Ao destacar o viés dessas poéticas da irreflexão, apresenta-se uma negação de que tudo já foi dito, pensado, tentado. Nele um espaço desconhecido se abre como proposta. Talvez a escola, ao ensinar a ler e escrever incluísse aprendizados na arte de ouvir, sonhar, flutuar, dialogar com suas paredes, e

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) a dialética corre o risco de abrir um mundo que todos estão tomando o cuidado de fechar sobre suas igualdades; na medida em que ela é uma técnica de transformação, opõe-se à estrutura enumerativa da propriedade, escapa para fora dos limites pequeno-burgueses (...)" "O bom senso é como o cão de guarda das equações pequeno-burguesas: ele tapa todas as saídas dialéticas, define um mundo homogêneo, no qual nos sentimos em casa, protegidos dos problemas e dos escapes do 'sonho' (entendam: de uma visão não contabilizável das coisas)" "(...) a arte morre por excesso de intelectualidade, a inteligência não é uma qualidade de artista, os criadores poderosos são empíricos, a obra de arte escapa ao sistema, em suma, o cerebralismo é estéril" "A Literatura, no entanto, só começa perante o indizível, em face da percepção de um algures estranho à própria linguagem que o procura. É essa dúvida criadora, essa morte fecunda, que a nsosa