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Postagens

Múltiplas poéticas*

A poesia é minha vida. Eu joguei toda a minha vida na poesia. Não poderia me mobilizar do mesmo modo para outra arte. A arte não existe em si mesma. Ela é fundada pelo artista com essa entrega. O homem inventa a arte através dessa paixão. Quando o poema chega, é um acontecimento inusitado, uma erupção, como um vulcão. Está tudo bem e de repente ele começa a colocar fogo pela boca. O poema nasce do espanto, e o espanto decorre do incompreensível. Vou contar uma história: um dia, estava vendo televisão e o telefone tocou. Mal me ergui para atendê-lo, o fêmur de uma das minhas pernas bateu no osso da bacia. Algo do tipo já acontecera antes? Com certeza. Entretanto, naquela ocasião, o atrito dos ossos me espantou. Uma ocorrência explicável de súbito ganhou contornos inexplicáveis. Quer dizer que sou osso?, refleti, surpreso. Eu sou osso? Osso pergunta? A parte que em mim pergunta é igualmente osso? Na tentativa de elucidar os questionamentos despertados pelo espanto, eclod

Perder-se...*

Muitas vezes em nossos caminhos existenciais é preciso deixar perde-se para encontrar-se. Os desvios de caminho, num certo sentido, pode ser um caminho para o encontro com o outro que há em cada um de nós. A angústia de não saber para onde ir, em determinados momentos, é uma sensação de liberdade obrigatória!!! Perceber-se nesses momentos pode ser altamente produtivo para continuar no caminho da busca... Talvez o descaminho seja o verdadeiro caminho para uma nova percepção de tudo que nos rodeia, principalmente, nossas sombras plurais. O medo de descontrolar-se e não ter a bússola para orientar-se é o que torna a caminhada mais significativa e interessante. Somos controlados o tempo todo pelos relógios dos compromissos diários, vivemos quase que maquinalmente no cotidiano de nossas vidas. Será que seria esse o caminho? Ou talvez tenhamos deixado, por comodidade, conduzir-se pelas normas sociais? Somos pessoas ou indivíduos manipulados pelo excesso de in

Canção da escuta*

O sonho na prateleira me olha com seu ar de boneco quebrado. Passo diante dele muitas vezes e sorrimos um para o outro, cúmplices de nossos desastres cotidianos. Mas quando o pego no colo (como às bonecas tão antigamente) para avaliar se tem conserto ou se ficará para sempre como está, sinto sem estranheza que dentro dele ainda bate um pequeno tambor obstinado e marca – timidamente – um doce ritmo nos meus passos. *Lya Luft

Poesias e Flores*

Você me permite, amigo Ando um pouco vazio E triste também Vou pegar carona Na sua poesia Empreste-me uma frase Do seu lindo poema. Não me culpe de sequestro Não se roubam poesias Poesias não são de ninguém São de todos, ainda assim de poucos Permita-me, por favor Fazer uma nova mudinha De sua poesia Ceda-me um versinho Aquele mais lindo Do seu poema. Assim como uma flor Empresta-me um brotinho Farei uma nova mudinha Seremos então duas flores Emprestaremos mais raminhos para criar outras mudinhas Em pouco tempo Seremos quatro, seremos oito... E faremos um lindo jardim. Juro Como seremos mais felizes Eu e você.... *José Mayer Filósofo, Livreiro, Poeta, Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Irmandade*

Sou homem: duro pouco E é enorme a noite. Mas olho para cima: As estrelas escrevem. Sem entender, compreendo: Também fui escrito E neste mesmo instante Alguém me soletra. *Octavio Paz

Eu no meu outro*

No princípio era eu Eu estava comigo E eu era eu. Hoje me pergunto se eu sou eu, Se eu já não sou outro Ou outros. Eu era eu e hoje sou outro. Mas no princípio eu era outro Enquanto fui eu. Hoje, sendo outro, continuo sendo eu: Sou eu em mim, Sou eu no outro E sou eu no outro de mim. *Vinicius Fontes Filósofo Clínico Rio de Janeiro/RJ

Colhe o Dia, porque És Ele*

Uns, com os olhos postos no passado, Vêem o que não vêem: outros, fitos Os mesmos olhos no futuro, vêem O que não pode ver-se. Por que tão longe ir pôr o que está perto — A segurança nossa? Este é o dia, Esta é a hora, este o momento, isto É quem somos, e é tudo. Perene flui a interminável hora Que nos confessa nulos. No mesmo hausto Em que vivemos, morreremos. Colhe O dia, porque és ele. *Fernando Pessoas

Singularidade*

posso ser eu sem fronteira pelo avesso romper multidões escolher livre desbravar floresta mergulhar no sem fim posso eu sem pudor seguir meu caminho desfazer nós eu vou *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Poeta, Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Os Poemas*

Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti… *Mário Quintana