“Não foi o homem quem
teceu a trama da vida: ele é meramente um fio seu. Tudo o que ele fizer à
trama, a si próprio fará”.
(Cacique Seattle, da
tribo Suquamish)
Certos verbos não são
encontrados em esquinas banais. Permanecem escondidos, se esgueirando por entre
poças e becos, de onde observam os receptáculos em que intencionam se instalar
e se (re)velar. São como sombras que ocultam do mundo o que ele já conhece, mas
não ousa expressar. Porque a vida nem sempre abre suas portas para que as sutis
e plenas entregas existenciais prevaleçam.
Às vezes, ao contrário,
a vida aposta em labirintos, na busca de ensaios e brechas por onde se espremem
sonhos inconfessáveis. Sonhos de um desfazer, de isolamento, de uma perda que
se esvai...como que exalando aquela sensação incômoda de que há algo fora do
lugar, tal como uma nota dissonante ou uma cor fugidia da palheta inundada de
nuances imprevisíveis.
São tênues os fios que
mantêm as estruturas estáveis e eles podem se romper a qualquer instante,
abrindo as comportas da superficial sanidade que nos define. Imersos nas densas
e alucinadas brainstorms que castigam, contínua e severamente, as frágeis
conexões, eles se constroem e nos induzem às vastas e profundas loucuras a que
nos sujeitamos na execução dos dias. Com sorte, a loucura se apropria do ser e
derrama sobre ele as bênçãos da inconsequência libertadora. Assim, se nos
oferece a oportunidade de penetrarmos cada vez mais em direção a destinos
imaginários, repletos de ilusões e fantasias.
Das ilusões e
fantasias, Ariadne puxa o fio singular que moldará o próximo enigma a ser
solucionado nas profundezas das teias que capturam e formam as essências
estruturais. As teias de nosso próprio destino, que se pulveriza e se estende
desde toda a eternidade. Ele nos guiará sem prevenções e sem reservas, pouco se
importando de onde veio ou para onde vai. Não são os começos ou fins que
prevalecem, mas as conexões que deságuam pelas camadas sucessivas de vida e
morte, na romaria perene de nossos desígnios.
Também não é possível
saber quando ou quantos fios irão se desprender da ignóbil e corpulenta
extensão que os mantêm presos. A vida vive apenas por um e as veias se fartam
de infinitos. São eles, entretanto, que nos permitem as escolhas e, através
delas, os inevitáveis desdobramentos que irão gerar infinitas possibilidades
sem que haja, necessariamente, uma lógica. Esta se constrói por intermédio do
simples desenrolar do novelo. De cada ato, uma consequência; de cada vislumbre,
uma perspectiva que, como o bater das asas da borboleta, pode alterar ou
antever os caminhos a percorrer. Os labirintos existenciais se entrelaçam na
desenfreada tentativa de formar uma cadeia de acontecimentos quase improváveis
e impossíveis, tornando o percurso mais tenso e delicado a cada passo.
Porquês não são sempre
determinados ou determinantes e, assim, pouco importa por qual direção da
encruzilhada seguir. Vale mesmo o percurso, o risco do precipício e a altura
aparentemente instransponível da montanha. Pois, na realidade, não temos como
saber sobre meios ou fins antes do início da trilha e qualquer uma dará em
algum lugar e em algum tempo... qualquer tempo ou no tempo de cada um,
especialmente daqueles que não se subtraem a prazeres e dores ou a dor dos
prazeres ou aos prazeres da dor.
*Luana Tavares
Filosofa Clínica
Niterói/RJ
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