Um homem louco é aquele
cuja maneira de pensar e agir não se coaduna com a maioria dos seus
contemporâneos. A sanidade mental é uma questão de estatística. Aquilo que a
maioria dos Homens faz em qualquer dado lugar e período é a coisa ajuizada e
normal a fazer. Esta é a definição de sanidade mental na qual baseamos a nossa
prática social.
Para nós, aqui e agora, são muitos os de mentalidade sã e
poucos os loucos. Mas os julgamentos, aqui e agora, são por sua natureza
provisórios e relativos. O que nos parece sanidade mental, a nós, porque é o
comportamento de muitos, pode parecer, sub specie oeternitalis, uma loucura.
Nem é preciso invocar a eternidade como testemunho. A História é suficiente.
A
maioria auto-intitulada de mentalmente sã, em qualquer dado momento, pode
parecer ao historiador, que estudou os pensamentos e ações de inumeráveis
mortos, uma escassa mão-cheia de lunáticos. Considerando o assunto de outro
ponto de vista, o psicólogo pode chegar à mesma conclusão. Ele sabe que a mente
consiste de tais e tais elementos, que existem e devem ser tidos em conta. Se
um homem tenta viver como se certos destes elementos constituintes do seu ser
não existissem, está a tentar viver, num sentido psicológico absoluto,
anormalmente. Está a tentar ser louco; e tentar ser louco é insânia.
Aplicando estes dois
testes, o do historiador e o do psicólogo, à maioria mentalmente sã do Ocidente
contemporâneo, que verificamos? Verificamos que os ideais e a filosofia da vida
agora geralmente aceites são totalmente diferentes dos ideais e da filosofia
aceite em quase todas as outras épocas. O Sr. Buck e os milhões por quem ele
fala estão, esmagadoramente, em minoria. Os incontáveis mortos preferem a
sentença a seu respeito: estão loucos.
Os psicólogos confirmam o seu veredicto.
O êxito – «a deusa-cadela, Êxito» na frase de William James – exige estranhos
sacrifícios daqueles que a adoram. Nada menos do que automutilação espiritual
pode obter os seus favores. O homem coordenado para o êxito é um homem que foi
forçado a deixar metade do seu espírito fora da sua personalidade. E se ele
aceitar os ideais e a filosofia da vida que a deusa-cadela tem para oferecer,
achar-se-á condenado, ou a uma estrénua irreflexão ou a um cinismo poeirento e
descolorido.
Nascido potencialmente são, ele aprende a sua loucura. “Porque
todo o Homem”, como Sancho Pança observou, “é como o céu o fez, e algumas vezes
muito pior do que isso” – algumas vezes, também, muito melhor; depende, em
parte, dos seus próprios esforços, em parte das tradições, das crenças, dos
códigos, da filosofia da vida que acontece ser corrente na sociedade em que ele
nasceu.
Onde esta herança social é uma loucura, o indivíduo naturalmente mais
normal está moldado à semelhança de um louco. Em relação à sociedade em que
vive, ele é, sem dúvida, normal, porque se parece com a maioria dos seus pares.
Mas eles são todos, falando em absoluto, conjuntamente loucos.
A Natureza permanece
inalterável, quaisquer que sejam os esforços conscientes feitos para a
deformar. Os Homens podem negar a existência de uma parte do seu próprio
espírito; mas o que é negado não é por isso destruído.
Os elementos banidos vingam-se nos indivíduos, nas sociedades inteiras. Uma coisa apenas é absolutamente certa quanto ao futuro: que as nossas sociedades ocidentais não se manterão por muito tempo no seu presente estado. Ideais loucos e uma filosofia lunática da vida não são as melhores garantias de sobrevivência.
Os elementos banidos vingam-se nos indivíduos, nas sociedades inteiras. Uma coisa apenas é absolutamente certa quanto ao futuro: que as nossas sociedades ocidentais não se manterão por muito tempo no seu presente estado. Ideais loucos e uma filosofia lunática da vida não são as melhores garantias de sobrevivência.
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