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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Feitiçaria é o mundo onde as palavras têm poder. O feiticeiro fala e a palavra, sem o auxílio das mãos, realiza o que diz. Deus diz 'Paraíso!', e um jardim de delícias aparece. A bruxa diz 'Sapo!', e o príncipe se transforma em sapo. Outro é o mundo da técnica e da ciência: ali as palavras não têm poder. As palavras podem ser ditas à vontade que nada acontece"

"Não gosto de conclusões. Conclusões são chaves que fecham. Cada conclusão faz parar o pensamento. Como nos livros de Agatha Christie: resolvido o crime, nada sobre em que pensar. E não adianta ler o livro de novo. Quando o pensamento aparece assassinado, pode-se ter a certeza de que o criminoso foi uma conclusão"

"A ciência normal', diz T.S. Kuhn, 'não procura nem novidades de fato nem de teoria. Quando é bem-sucedida, ela não encontra novidades'"

"Os poetas buscam as palavras que moram no silêncio"

"Palavras de ordem não toleram as brumas, pois é lá que moram os sonhos. Luminosidade total para tornar impossível sonhar. Pois os sonhos são testemunhos de que a alma se recusa a se tornar um pássaro engaiolado"

"Os olhos que só vêem o visível não podem ver as ausências que moram ali"

"Os poetas têm estado repetindo isso o tempo todo. Não é de espantar, portanto, que não sejam convidados para nossos jantares acadêmicos. Quando os poetas falam, os outros convivas pensam que eles estão bêbados"

"Para uma lagarta não há nada mais lindo que coisas que se assemelhem a ela. No mundo das lagartas, até os deuses são lagartas. Mas as borboletas obviamente dirão: tolice..."

"Lembrando Pe. Antônio Vieira: 'Os discursos de quem não viu são discursos: os discursos de quem viu são profecias'"

"O deserto é belo porque, em algum lugar, ele esconde um jardim"

*Rubem Alves in "Lições de feitiçaria - meditações sobre a poesia". Ed. Loyola. SP. 2003.

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