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Gaston Bachelard, a Ética e a Poesia*



Em 16 de outubro de 1962, Gaston Bachelard nos deixava.

Bachelard nasceu em 1884 numa família de pequenos comerciantes no interior de Bar-sur-Aube, em Champagne. Passou a infância nos campos. Foi funcionário dos Correios. Esteve nas tricheiras por 38 meses durante a guerra, instalando e reparando cabos telegráficos, e recebeu a Croix de Guerre. Tornou-se pai em 1919 e viúvo em 1920. Entre 1919 e 1930, foi professor de física e química no liceu de sua cidade.

Obteve seu doutorado em filosofia aos 42 anos, em 1927, quando também publicou seu primeiro livro e ingressou como professor na faculdade de letras de Bar-sur-Aube. Lecionou em sua cidade natal até 1940, ano em que se tornou professor na Sorbonne.

Bachelard foi professor de uma geração notável de intelectuais - como Canguilhem, Foucault, Derrida, Althusser, Bourdieu. A despeito de ter vivido a guerra e de ter lecionado na Sorbonne sob o regime de Vichy, a sua filosofia não possui um caráter político ou ético - não, no sentido tradicional.

A ética e a política de Bachelard são a ética e a política da vida científica e da vida poética. Para Bachelard, a ciência e a poesia são os pólos do mundo humano; tudo o que lhe interessa está inscrito entre esses pólos. De um lado, o pólo da racionalidade científica, da luz diurna, com a sua exigência de método, rigor e crítica. Do outro, o pólo da imaginação literária, da noite misteriosa, com a liberdade do sonho e do devaneio.

A indiferença de Bachelard ao discurso sobre a ética e sobre a política é, no fundo, uma lição de ética e de política. Explico. Para Bachelard, a tarefa mais fundamental de qualquer sociedade deveria ser a educação dos jovens para a ciência e para a poesia. Tudo o mais deveria ser secundário. Neste sentido, ele escreveu que a escola não deveria servir à sociedade, mas a sociedade deveria servir à escola: a escola deveria ser a finalidade da sociedade. Afinal, a maior - e talvez a única realmente importante - responsabilidade de cada geração é preparar a geração que a sucederá.

Em suma: pouco importa a ética e a política, se toda a sociedade não se mobilizar em função de uma educação científica e literária para os jovens - o que, por si só, já se constituirá como uma formação política e ética para a juventude.

Diante de nossas circunstâncias éticas e políticas, talvez Bachelard, cuja morte hoje completa 57 anos, seja a voz a ser ouvida em nosso tempo.

*Prof. Dr. Gustavo Bertoche
Filósofo. Escritor. Musicista. Educador. Filósofo Clínico.
Teresópolis/RJ

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