A Filosofia Clínica foi criada
pelo médico gaúcho, Lucio Packter que, insatisfeito com algumas abordagens
terapêuticas, na década de 80, pôs-se a viajar pelo mundo em busca de novos
métodos para conhecer e cuidar o ser humano em sua integralidade. Mesmo
conhecendo a filosofia de aconselhamento na Europa e a filosofia prática, nos
EUA, iniciou suas próprias pesquisas, resultando no que chamou de Filosofia
Clínica.
A Filosofia Clínica é uma
abordagem terapêutica que visa trabalhar as questões existenciais do paciente
que, em Filosofia Clínica, é chamado de partilhante, porque na dinâmica da
clínica filosófica, o que existe é uma construção partilhada que se dá através
da interseção (modo de relação) de ambos na busca por um conforto existencial.
É Filosofia porque parte da
inspiração de seu método a partir da pesquisa dos filósofos ao longo da
história do pensamento ocidental. É clínica porque pretende ser aplicada ao
todo do homem, do sujeito que procura a terapia, na intenção de um cuidado
terapêutico. É importante perceber que um dos objetivos que se pretende neste
tipo de clínica é o favorecimento da autonomia de pensamento do partilhante.
São três as etapas clínicas,
didaticamente falando. Em um primeiro momento são feitos os Exames Categoriais,
nos quais o filósofo clínico localiza existencialmente seu partilhante (assunto
imediato, lugar, tempo, relação, circunstância, assunto último). A seguir,
acontece a identificação da Estrutura de Pensamento (EP), que consiste no modo
como a pessoa vive e qual sua visão de mundo, de si mesmo, das pessoas etc. E o
terceiro aspecto é a aplicação dos submodos, que são os meios pelos quais o
partilhante viabiliza a efetivação de sua Estrutura de Pensamento.
Encontrar o submodo para
viabilizar um tópico da EP ou aliviar um possível conflito entre alguns tópicos
dessa EP é um dos trabalhos que o filósofo clínico se dispõe a fazer em
conjunto com seu partilhante.
Uma questão importante é que a
Filosofia Clínica não parte de concepção de normalidade, doença e cura. Seu
foco está na singularidade e, exatamente por se tratar de uma singularidade,
não há norma ou padrão para ser igualado ou comparado, portanto, não há
normalidade. Cada pessoa que chega ao consultório é única e todo seu processo é
um estudo à parte, inteiramente novo para o filósofo.
*Prof. Dr. Miguel Angelo Caruzo
Filósofo. Escritor. Professor. Mestre e Doutor em Filosofia pela UFJF-Universidade Federal de Juiz de Fora/MG. Filósofo
Clínico. Autor da obra: “Introdução à Filosofia Clínica” na coleção de Filosofia
Clínica da Editora Vozes/Petrópolis/RJ. No ano de 2019 recebeu o título: “Doutor
Honoris Causa” pelo Conselho da Casa da Filosofia Clínica.
Teresópolis/RJ
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