Existe no meio educacional brasileiro uma espécie de tragédia cultural circular - em que professores incultos formam alunos incultos que tornar-se-ão a próxima geração de professores.
Amigos, os professores são a
elite intelectual de um país. Os professores são a nossa reserva de cultura:
são eles os guardiões e transmissores dos mais altos produtos culturais - tanto
da nação, quanto da humanidade.
Quando os professores escolares
animadamente conversam sobre filmes de super-heróis americanos e de personagens
da Disney, ao mesmo tempo em que desconhecem ou ridicularizam a obra de
Bergman, Pasolini, Glauber Rocha, Tarkovsky, podemos ter a triste certeza: a
nossa civilização está a caminho da mais completa estupidificação - e enviamos
os nossos filhos para a escola (a escola pública, a escola particular de grife,
não importa) para que os professores os imbecilizem culturalmente.
Sim: a escola que temos, com os
abissalmente incultos professores que temos, é agente da idiotização da
população brasileira.
* * *
Como mudar essa tendência? Como
transformar a escola em um ambiente de cultura?
Só há uma maneira: o interesse
dos professores. É necessário que cada professor deixe de consumir o lixo da
indústria cultural (no cinema, na música, na literatura), é preciso que cada
mestre, por seu próprio esforço, busque o que há de mais alto no mundo das
realizações humanas.
Sem esse esforço individual de
cada professor, a civilização brasileira jamais retornará àquela situação em
que - há somente cinqüenta anos! - era relativamente respeitada no mundo pela
sua literatura extraordinária, pela sua música popular melódica, harmônica e
poeticamente rica, pela sua diplomacia simultaneamente discreta e eficiente.
Infelizmente conheço os
professores brasileiros. Por conhecê-los bem, não alimento esperanças de
superarmos o lugar da civilização dos bobos-alegres, o país do QI médio 87, a
pátria que elegeu como seus maiores heróis um jogador de futebol e uma cantora de
música pornográfica.
* * *
Um dia, daqui a séculos, os
historiadores que estudarem o caso do Brasil ficarão intrigados: como a
civilização que reunia, em fins do século XIX, as condições naturais e
políticas mais privilegiadas de todos os tempos, e que poderia ter se
transformado na maior potência econômica, cultural, intelectual e espiritual da
História, acabou por tornar-se um fiasco absoluto, motivo de risada entre todos
os povos? Como terá sido possível fracassar de modo tão completo?
Os historiadores do futuro não
saberão responder a essa questão.
É que a resposta está fragmentada
em milhares e milhares de partes. O fracasso cultural da nossa civilização é o
resultado da indigência cultural de cada um de nós, trabalhadores da escola
brasileira.
*Prof. Dr. Gustavo Bertoche
Filósofo. Mestre e Doutor em
Filosofia. Musicista. Educador. Escritor. Filósofo Clínico. Em 2019, por
indicação do conselho e direção da Casa da Filosofia Clínica, recebeu o título
de “Doutor Honoris Causa”.
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