A palavra é um manifesto da razão
e da denúncia, toda vez que as nossas impressões transbordam e expressam numa
intensidade de duração e alcance capaz de tocar nas percepções alheias.
Na razão podemos justificar a
temporalidade, e o quanto, as vezes, percebemos pueril e passageiro os sabores
e dissabores da vida, sempre tão pertinentes para nos ensinar que o ser só pode
mesmo transgredir ou transcender. E, cabe a cada um de nós, a escolha de ser
mais um cativo ou mais um protagonista, nessa jornada tão própria de existir
sentindo tanto...
Sentir muito é o que faz
despertar a possibilidade de perceber mais dia menos dia, que tanto a liberdade
quanto a prisão são decisões desafiadoras, que sempre tendem na direção de um
desfecho capaz de nos oportunizar sermos senhores das nossas próprias escolhas,
enquanto, necessariamente, nos lançamos como reféns das consequências.
Curiosamente, quando uma sensação
de felicidade precisa ser justificada ou anunciada já se trata de uma ilusão,
pois a sua artificialidade já está posta na própria circunstância, uma vez que
o silêncio sempre deveria bastar.
Ora, se não há paz, ainda não há
presente liberdade suficiente, para destituir de nós mesmos a precariedade da
observação, que tanto nos impede de desapegar dos simulacros sabotadores das
descobertas que poderiam ajudar a nos conhecer e despertar.
Mas a palavra também é denúncia,
sobretudo, de tantos momentos vividos que por si só ressoam demais metafísicos
e sensoriais ao mesmo tempo, diante da graça de termos sentido o tempo parar,
mesmo sem parar, tornando sorrisos e prazeres um contínuo agora. Enfim,
provavelmente seja daí que provenha os substratos capazes de parir poesia, e
essa tremenda gratidão de ser, estar e poder partilhar tanto... Musa!
*Prof. Dr. Pablo Mendes
Filósofo. Mestre em Teologia e
Doutor em Filosofia. Escritor. Musicista. Educador. Filósofo Clínico. Em 2019, por indicação do conselho e direção da Casa da Filosofia Clínica, recebeu o título de "Doutor Honoris Causa".
Uberlândia/MG
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