Desde o início do século há um processo de aceleração da des-Educação em curso no Brasil. Esse processo teve início com a mercantilização do ensino superior - e radicalizou-se com o crescimento dos conglomerados "educacionais" administrados por banqueiros ou por grupos estrangeiros.
Sob a justificativa da
"democratização", as vagas no ensino superior foram multiplicadas -
inicialmente, pela abertura de faculdades, centros universitários e
universidades particulares; posteriormente, pela entrada em cena do ensino à
distância. O problema é que nesse caminho os brasileiros foram enganados: quase
sempre o ensino superior privado é fraudulento, e na modalidade à distância é
fraudulento por completo.
Com exceções que podemos contar
nas mãos, não existe universidade particular no Brasil: o que há é estelionato
acadêmico, é fraude institucionalizada pelo Governo Federal.
* * *
Três em cada quatro estudantes do
nível superior no Brasil estão em instituições privadas: são cerca de seis
milhões num universo de oito milhões de estudantes. Esses seis milhões de
brasileiros viverão com a ilusão de terem estudado numa universidade, sem
jamais terem chegado perto de uma. Eles acreditarão haver freqüentado o ensino
universitário, quando na realidade terão participado de um esquema de venda de
diplomas.
Isto é: eles terão freqüentado um
escolão para adultos, mas desconhecerão por completo a essência da
universidade: o mundo da pesquisa, da investigação e da universalização do
conhecimento.
Muitos dos egressos dessas
instituições de natureza fraudulenta tornar-se-ão professores - quase sempre de
fraca formação acadêmica e cultural -, e acabarão perpetuando, mais por
ignorância que por má-fé, uma visão infantilizada da vida do espírito.
Acreditem, amigos: a geração de
professores formados em falsas universidades já chegou ao magistério superior.
Hoje, uma parte dos jovens professores universitários já não faz idéia do que
seja uma universidade: ignora a pesquisa, nada de importante publica, despreza
os congressos internacionais, não se relaciona com os pares; esses jovens
mestres e doutores trabalham como trabalhariam numa escolinha de bairro.
Pergunto-me se o processo de
des-Educação no Brasil pode ser interrompido ou revertido; não é simples dizer
a seis milhões de pessoas que elas são vítimas de uma fraude autorizada pelo
próprio governo. A única certeza que tenho sobre isso, amigos, é que se
continuarmos nesse caminho os estudantes brasileiros serão lançados, geração
após geração, num rodamoinho de ignorância cada vez mais vertiginoso - e cada
vez mais incapacitante.
*Prof. Dr. Gustavo Bertoche
Filósofo. Mestre e Doutor em
Filosofia. Musicista. Escritor. Educador. Filósofo Clínico. Em 2019, por
indicação do conselho e direção da Casa da Filosofia Clínica, recebeu o título
de “Doutor Honoris Causa”.
Teresópolis/RJ
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