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des-Educação*

 

Desde o início do século há um processo de aceleração da des-Educação em curso no Brasil. Esse processo teve início com a mercantilização do ensino superior - e radicalizou-se com o crescimento dos conglomerados "educacionais" administrados por banqueiros ou por grupos estrangeiros.

Sob a justificativa da "democratização", as vagas no ensino superior foram multiplicadas - inicialmente, pela abertura de faculdades, centros universitários e universidades particulares; posteriormente, pela entrada em cena do ensino à distância. O problema é que nesse caminho os brasileiros foram enganados: quase sempre o ensino superior privado é fraudulento, e na modalidade à distância é fraudulento por completo.

Com exceções que podemos contar nas mãos, não existe universidade particular no Brasil: o que há é estelionato acadêmico, é fraude institucionalizada pelo Governo Federal.

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Três em cada quatro estudantes do nível superior no Brasil estão em instituições privadas: são cerca de seis milhões num universo de oito milhões de estudantes. Esses seis milhões de brasileiros viverão com a ilusão de terem estudado numa universidade, sem jamais terem chegado perto de uma. Eles acreditarão haver freqüentado o ensino universitário, quando na realidade terão participado de um esquema de venda de diplomas.

Isto é: eles terão freqüentado um escolão para adultos, mas desconhecerão por completo a essência da universidade: o mundo da pesquisa, da investigação e da universalização do conhecimento.

Muitos dos egressos dessas instituições de natureza fraudulenta tornar-se-ão professores - quase sempre de fraca formação acadêmica e cultural -, e acabarão perpetuando, mais por ignorância que por má-fé, uma visão infantilizada da vida do espírito.

Acreditem, amigos: a geração de professores formados em falsas universidades já chegou ao magistério superior. Hoje, uma parte dos jovens professores universitários já não faz idéia do que seja uma universidade: ignora a pesquisa, nada de importante publica, despreza os congressos internacionais, não se relaciona com os pares; esses jovens mestres e doutores trabalham como trabalhariam numa escolinha de bairro.

Pergunto-me se o processo de des-Educação no Brasil pode ser interrompido ou revertido; não é simples dizer a seis milhões de pessoas que elas são vítimas de uma fraude autorizada pelo próprio governo. A única certeza que tenho sobre isso, amigos, é que se continuarmos nesse caminho os estudantes brasileiros serão lançados, geração após geração, num rodamoinho de ignorância cada vez mais vertiginoso - e cada vez mais incapacitante.

*Prof. Dr. Gustavo Bertoche

Filósofo. Mestre e Doutor em Filosofia. Musicista. Escritor. Educador. Filósofo Clínico. Em 2019, por indicação do conselho e direção da Casa da Filosofia Clínica, recebeu o título de “Doutor Honoris Causa”.

Teresópolis/RJ

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