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Inquietude Investigativa*

Na filosofia clínica, há quem aprenda o método e o utilize no consultório e quem, além de realizar os atendimentos, também continue a ensinar, pesquisar, aprofundar e questionar a fundamentação e a prática.  

Assim, os formados seguem acompanhando os resultados das pesquisas e os adaptam ao seu trabalho no consultório. Seu tempo é mais empenhado em fazer o atendimento da melhor maneira possível com os recursos bibliográficos e audiovisuais ao seu alcance. Com isso, podem se tornar excelentes profissionais da área, exercendo seu trabalho como filósofos clínicos. Esse é o caso da maioria daqueles que concluem a formação.

O segundo grupo mencionado é constituído de uma minoria. São filósofos clínicos que não se contentam em receber o conteúdo apresentado por quem os ensinou. Antes, continuam suas investigações em prol de ter um método cada vez mais aprimorado. Por isso, pesquisam as bibliografias, reveem os fundamentos, questionam seus pares, propõem novos caminhos etc.

Esse grupo minoritário coloca em constante diálogo a teoria e a prática. Como a vocação primeira da filosofia clínica é o atendimento, todo discurso, teoria ou contribuição precisa passar pelo crivo do consultório. Tudo o que não tem aplicação prática ou coloca em risco a principal contribuição da clínica filosófica -- a singularidade -- precisa ser descartado.

Trata-se de um movimento que inevitavelmente traz tensões e dissensos. Afinal, não há unanimidade absoluta entre pensantes. Há pontos de contato e perspectivas discordantes. Eis uma riqueza.

Os resultados dessas pesquisas precisam ser apresentados em forma de textos, vídeos e, principalmente, nas aulas. Os alunos devem ficar cientes da complexidade envolvida no conteúdo aprendido e na plasticidade da metodologia em mudança para permanecer uma abordagem terapêutica eficiente e eficaz.

Todo filósofo clínico é convidado a ser um contínuo estudante. O espaço de atendimento é seu grande laboratório de aprendizado. A visita constante às obras principais e secundárias faz parte do exercício de manter o frescor dos conteúdos do método.

Mas, entre os inquietos pesquisadores pode não haver satisfação com a boa execução da metodologia da clínica filosófica no consultório. É preciso manter-se em progressão nas investigações e aprofundamentos. Trata-se de uma inquietação que mantém a filosofia clínica em contínuo aprimoramento em prol de exercer a função para a qual foi pensada. E esse trabalho é fundamental.

*Prof. Dr. Miguel Angelo Caruso

Filósofo. Mestre e Doutor em Filosofia. Professor. Escritor. Filósofo Clínico. Autor de: “Introdução à Filosofia Clínica”, pela Editora Vozes/RJ, "Lições de Filosofia Clínica", pela Editora Sulina/Porto Alegre/RS, dentre outros. Em 2019, por indicação do conselho e direção da Casa da Filosofia Clínica, recebeu o título de “Doutor Honoris Causa”.

Teresópolis/RJ

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