Para a filosofia (obviamente
alguns autores, isso não é uma aceitação geral), a singularidade é um
exercício, pois nascemos particulares – somos parte de algum grupo, de alguma
família, de uma cidade etc. – e tornamo-nos singulares, com o esforço de imprimir
nossa personalidade única. Para alguns, somos universais desde que nascemos,
pois fazemos parte do todo seja da humanidade, do universo, da ecologia etc. Em
alguns casos, em uma filosofia ontológica, nossa existência é única, porém
atrelada a gêneros ou espécies. Tornamo-nos – seja o que for - comparando-nos
com outros ou em hierarquia com outros gêneros ou espécies.
A Filosofia Clínica tem o pressuposto da singularidade na abordagem com o fenômeno humano, mesmo que o próprio indivíduo que venha até um filósofo clínico não se considere singular. Alguns não querem ser vistos existencialmente como singulares, mas como existindo em grupos ou em conexão com particulares ou universais. Assim se efetivam existencialmente.
Para alguns, a singularidade é uma prisão, para outros é uma
armadilha, para outros ainda é a própria existência em sua natureza mais
profícua. No entanto, a singularidade enquanto algo naturalmente bom não é uma
unanimidade nos atendimentos terapêuticos. Como em tudo na Filosofia Clínica, o
próprio conceito de singularidade como um bem em si, é singular.
Mas por que, então, a Filosofia
Clínica parte do conceito de Singularidade e o defende tão ardentemente ao
entrar em contato com o fenômeno humano? Vamos partir pelo outro lado e vamos
nos perguntar qual valor de legitimação que o conceito de Singularidade – e
consequentemente o humano – ganha ao ser apresentada em um conceito particular
ou universal? Diga-me com quem andas e dir-te-ei quem és? Ao ser enquadrado ou
tipologizado em psicótico ou neurótico, síndrome ou transtorno, maníaco ou
compulsivo, etc, fazer parte de um desses grupos, legitima em que a
singularidade? Totalizar ou particularizar um singular lhe é vantajoso, - para
ele mesmo! – em que sentido? Essas particularizações ou universalizações do
singular mais o revelam ou o encobrem?
Também não podemos deixar de
perceber o outro lado quando um indivíduo fica dizendo “eu sou assim mesmo”,
“esse sou eu”, “sempre fui assim”, “essa é minha natureza” e aí por diante,
pois pode estar colocando o conceito de singularidade para esconder-se ou
evadir-se seja do que for ou em função de assim não precisar realizar uma ação
de empatia ou recíproca.
No entanto, os modos de ser na
Filosofia Clínica quando conectados à Estrutura de Pensamento do indivíduo
forma sua estrutura existencial básica (mas não simples) de efetivação interna
e/ou externa, i.é., em relação ao seu próprio mundo interno e ao mundo
exterior. E independente como a filosofia ou outra abordagem terapêutica defina
isso, essa estrutura existencial básica é singular!
Independente de como a sociedade
nomeie as manifestações externas e tente achar um padrão de comportamento
chamando de perfil, de mania, de doença mental ou qualquer outra forma
particular ou universal, estão olhando e percebendo apenas a casca, apenas os
atributos formais que podem ser medidos em comum, mas estão deixando de lado a
maior riqueza, aquela que é singular, irrepetível, única e por isso intangível
por qualquer tipologia comum.
E uma terapêutica do singular ao
singular (e vice-versa!) é que é a proposta da Filosofia Clínica.
*Prof. Dr. Fernando Fontoura
Filósofo. Mestre e Doutor em
Filosofia. Filósofo Clínico. Professor. Escritor. Em 2019, por indicação do
conselho e direção da Casa da Filosofia Clínica, recebeu o título de Doutor Honoris
Causa.
Málaga/Espanha
Comentários
Postar um comentário