Filosofia Clínica - O ensino da
filosofia clínica começou há trinta anos. Inicialmente, Lúcio Packter lecionou
em Porto Alegre, no Instituto Packter. Paulatinamente, por todo o país. Hélio
Strassburger, junto a Lúcio, se encaminhou para outros estados brasileiros para
ensinar essa nova abordagem terapêutica. Além de diretor por mais de uma década
do Instituto Packter, Strassburger também ampliou os horizontes de
possibilidade de atendimento desse método para hospitais psiquiátricos no Rio
de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, mostrando que os filósofos
clínicos são convidados a pensar o método, a aprofundar e a atualizar seus
fundamentos teóricos e práticos.
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Antigos e novos leitores - Alguém que lê há anos pode oferecer dicas valiosas para novos leitores. Mas, é preciso ter cuidado ao ouvir essas sugestões. A experiência de quem dialoga com livros por anos ou décadas permite análises profundas sobre as obras, estabelecendo diálogos com contextos, épocas, correntes de pensamento, livros etc. Às vezes, essa bagagem cultural torna-se o meio a partir do qual o leitor versado realiza a interpretação. Quando esse modo de ler de especialista se torna regra imposta a novos leitores, pode-se criar um fardo. Portanto, novos leitores, comecem sem a exigência de mais do que conseguem.
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Dissociação - Há explicações sobre, por exemplo, o aprendizado, a partir de um ente separado chamado cérebro. Em vez de como a gente pode aprender, se diz como seu cérebro aprende e age, como fazê-lo reter informações. A integralidade do ser humano é substituída por lidar com suas partes. Algo presente nos discursos sobre neurociência. Também presentes nas ciências médicas com suas ultra especializações. Mas, somos integrais com corpo, mente, espiritualidade, cultura, sociedade e inúmeros outros aspectos em desdobramentos. Para, por exemplo, haver aprendizado, vamos além do “funcionamento cerebral”. Há uma complexidade que, se for desconsiderada, pode prejudicar ou anular o aprendizado.
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Recomendação terapêutica - As telas estão cada vez mais presentes no cotidiano. Há quem conviva sem prejuízos com essas tecnologias. Mas, encontramos pessoas com insônia, ansiosas, tristes e agitadas devido ao uso de telas. Outras, ao se comparar com as vidas alheias, começam a sofrer por desejar a vida dos outros. A velocidade com a qual as notícias são veiculadas tornou quase nula a reflexão possível sobre os acontecimentos. A quantidade de informação rápida e curta, tornou o pensamento raso a ordem do dia. Para quem tem problemas com as telas, pense na possibilidade de diminuir. Considere uma sugestão de terapeuta.
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Normal e patológico - Não é só mais um ato de distração, uma dificuldade para aprender algo novo, é sintoma de TDAH. Não é mais vontade de sair da multidão para querer passar mais tempo só, desconforto por ter de interagir em situações imprevisíveis, é um grau leve de autismo. Não é mais algo provocado pelos altos e baixos da vida influenciando o humor, é bipolaridade. Não é mais uma característica humana, em suas incontáveis e singulares variações, é algo a ser diagnosticado como anormalidade e passível de se medicar para tornar a pessoa “normal”. Um “normal” cada vez mais inatingível.
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*Prof. Dr. Miguel Angelo Caruzo
Filósofo. Mestre e Doutor em Filosofia. Escritor. Autor de: “Introdução à Filosofia Clínica”. Ed. Vozes/RJ. 2021; “Lições de Filosofia Clínica. Ed. Sulina. Porto Alegre/RS. 2024, dentre outras. Prof. Titular de Filosofia Clínica. Em 2019, por indicação do Conselho e Direção da Casa da Filosofia Clínica, recebeu o título de “Doutor Honoris Causa”.
Teresópolis/RJ
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