Hoje conversei com um amigo que me ajudará com o marketing digital.
Ele me perguntou se escrevo com a
IA.
E riu quando respondi-lhe:
"é evidente que não".
Diante de sua surpresa - afinal,
"todo mundo hoje escreve com IA" -, expliquei: a relação do escritor
com o texto é diferente daquela do publicitário. Enquanto este visa ao texto
acabado e eficaz, aquele define-se existencialmente no próprio ato da escrita.
É como um maratonista. Há muitas
maneiras rápidas, confortáveis e eficientes de chegar ao final dos tais
quarenta e dois quilômetros. Mas se o maratonista tomasse um ônibus, não seria
maratonista. Isso porque ele não corre para chegar a algum destino; ele corre
pela própria corrida - pelo desconforto, pela exaustão, e pelo prazer supremo
que daí emerge.
Assim é com o escritor: ninguém é
escritor por simplesmente entregar um texto; o escritor é aquele que,
consciente de seu estilo, sofre e goza com a escolha de cada palavra, com a
construção da cadência e do ritmo das frases, com a decisão de prolongar ou
encerrar um parágrafo.
Por isso, o escritor pode usar a
IA de vários modos; nunca, porém, para escrever.
Creio que o meu amigo tenha
compreendido.
*Prof. Dr. Gustavo Bertoche
Filósofo. Mestre e Doutor em Filosofia. Professor. Filósofo Clínico. Escritor. Musicista. Autor da obra: "A dialética do real na epistemologia de Bachelard", dentre outros. Em 2019, por indicação do conselho e direção da Casa da Filosofia Clínica, recebeu o título de 'Doutor honoris causa'.
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