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Refulgor*

A cor do seu momento é verde. Respire-o na essência líquida. Veja-o nas folhas brilhantes de citros, comunidade à sua volta. Mastigue-o, ramo e talo de salsa, ouça-o no orégano seco semeado na trilha da conversa. Sinta o aroma entre os aromas, faça-se brilho a partir desse reviver. Renascimento e forças, mas forças da luz sutil que encanta. Difere a força bruta com a qual as flores massacra. Deixe as malícias (erva sensível ao toque) e os espinhos à sua sorte porque assim escolheram. Reconduza-se a um objetivo profícuo. Retome seu rumo com coragem para romper vínculos - não mais inocente. Outras chances, locais, pessoas. Respire a vida como vier mas impeça o ar impuro. Abstenção é uma escolha, não uma luta. *Vânia Dantas Filósofa Clínica Brasília/DF

Orientar filosoficamente a vida*

"(...) A ânsia de uma orientação filosófica da vida nasce da obscuridade em que cada um se encontra, do desamparo que sente quando, em carência de amor, fica o vazio, do esquecimento de si quando, devorado pelo afadigamento, súbito acorda assustado e pergunta: que sou eu, que estou descurando, que deverei fazer? O auto-esquecimento é fomentado pelo mundo da técnica. Pautado pelo cronômetro, dividido em trabalhos absorventes ou esgotantes que cada vez menos satisfazem o homem enquanto homem, leva-o ao extremo de se sentir peça imóvel e insubstituível de um maquinismo de tal modo que, liberto da engrenagem, nada é e não sabe o que há-de fazer de si.   E, mal começa a tomar consciência, logo esse colosso o arrasta novamente para a voragem do trabalho inane e da inane distração das horas de ócio. Porém, o pendor para o auto-esquecimento é inerente à condição humana. O homem precisa de se arrancar a si próprio para não se perder no mundo e em hábitos, em irrefletidas trivi...

Um dia de chuva*

Á noitinha, na véspera Invadiu-me uma alegria "boba" Daquelas que não se precisa entender Apenas sentir... e deixar ficar. Planejei o meu dia seguinte Belo dia de sol, céu azul... Pintaria de branco os muros do meu jardim Semelhantes a floquinhos de neve Pintaria-me, junto, eu também Todo inteiro por dentro... de branco As frestinhas preencheria com algodão. Algo me dizia Que eu receberia visitas.... Amanheceu o dia, nublado E uma chuva fininha Fez lembrar-me dos floquinhos de neve. Fiquei com um tempinho maior Para pintar-me a mim mesmo E, quem sabe, escrever alguma poesia. O muro, pintaria outro dia..... *José Mayer Filósofo, Livreiro, Poeta, Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Conta-nos a Tua História*

Será que não há nenhum contexto para as nossas vidas? Nenhuma canção, nenhuma literatura, nenhum poema cheio de vitaminas, nenhuma história ligada à tua experiência que possas passar para nos ajudarem a ficar mais fortes? Tu és um adulto. O mais velho, o mais sábio. Pára de pensar em salvar a tua imagem. Pensa sobre as nossas vidas e conta-nos sobre o teu mundo em particular. Desenvolve uma história.  A narrativa é radical, cria-nos a nós próprios no momento exato em que está a ser criada. Nós não te vamos culpar se o teu alcance excede a tua compreensão, se o amor incendeia as tuas palavras, se elas descem em chamas e nada deixam a não ser a queimadura.  Ou se, com a reticência das mãos de um cirurgião, as tuas palavras apenas suturam os sítios por onde o sangue pode ter fluído. Sabemos que nunca o conseguirás fazê-lo corretamente – de uma vez por todas.  A paixão nunca é suficiente; nem a habilidade. Mas tenta. Por nós, e por ti próprio, esquece o teu nom...

O Avesso de Mim*

Nossa sociedade tornou-se sinônimo de agitação; já não encontramos tempo para mais nada. Desejamos que o dia tenha trinta horas, porque as 24 horas que temos parecem poucas para tantas demandas próprias do nosso cotidiano. Divorciamo-nos da paciência e hoje somos prisioneiros da pressa. Buscamos o futuro sem viver o presente. Nas tramas da vida, os bordados de nossa história são, por vezes, mal feitos e tortos. A arte do bordado carrega em si um grande ensinamento para nossa vida. Se o avesso do bordado estiver perfeito, o bordado também estará perfeito. No entanto se o avesso do bordado estiver defeituoso, o bordado também estará imperfeito, mesmo que, ao primeiro olhar, ela pareça bonito. Muitos corações estão com o avesso mal acabado. Há linhas de sentimentos soltas e nós de incompreensões mal arrematados. A princípio muitos seres humanos apresentam-se perfeitos, mas basta um minuto a mais na companhia destes “bordados” e descobrimos que ainda há muitas linhas soltas na...
Bom dia! É com grande alegria que compartilhamos o lançamento, nos próximos dias, da primeira obra da inédita e tão aguardada Coleção de Filosofia Clínica da Editora Vozes. Uma parceria em busca de qualificar os escritos, atendimentos, estimular a pesquisa, os encontros de estudo. Esse primeiro texto: 'Ser Terapeuta', de autoria da multitalentosa Rosângela Rossi, vem inaugurar mais um espaço na estante da Filosofia Clínica. Outros escritos já estão no prelo! A data confirmada do lançamento estará disponível em breve. Desejamos a todos boas leituras e releituras! Um abraço, Hélio Strassburger Coordenador da Coleção

Pensamos de mais e sentimos de menos*

Queremos todos ajudar-nos uns aos outros. Os seres humanos são assim. Queremos viver a felicidade dos outros e não a sua infelicidade. Não queremos odiar nem desprezar ninguém. Neste mundo há lugar para toda a gente. E a boa terra é rica e pode prover às necessidades de todos. O caminho da vida pode ser livre e belo, mas desviamo-nos do caminho. A cupidez envenenou a alma humana, ergueu no mundo barreiras de ódio, fez-nos marchar a passo de ganso para a desgraça e a carnificina. Descobrimos a velocidade, mas prendemo-nos demasiado a ela. A máquina que produz a abundância empobreceu-nos. A nossa ciência tornou-nos cínicos; a nossa inteligência, cruéis e impiedosos. Pensamos de mais e sentimos de menos. Precisamos mais de humanidade que de máquinas. Se temos necessidade de inteligência, temos ainda mais necessidade de bondade e doçura. Sem estas qualidades, a vida será violenta e tudo estará perdido. O avião e o rádio aproximaram-nos. A própria natureza destes inventos ...

Alerta!!***

“(...) Faça o homem sentir-se pequeno. Faça-o sentir culpa. Mate suas aspirações e sua integridade. Mate a integridade pela corrupção interna. Use-a contra ele mesmo. Pregue a abnegação. Diga a este homem que ele deve viver para os outros. Diga aos homens que o altruísmo é o ideal. Nenhum deles conseguiu chegar até lá e ninguém vai conseguir. Todos seus instintos clamam contra isso. Mas não vê o que se consegue? O homem compreende que ele é incapaz daquilo que ele aceitou como a mais nobre das virtudes...e isso lhe dá um senso de culpa, de pecado, de sua própria e fundamental inutilidade. Uma vez que o supremo ideal está além de seu alcance, ele vai acabar desistindo de todos os seus ideias, de qualquer aspiração, de qualquer noção de seu valor pessoal. Sente-se obrigado a pregar o que não pode praticar. Preservar a integridade é uma batalha dura. Sua alma desiste do amor-próprio. Aí então, ele é seu. Morto-vivo. Vai obedecê-lo. Vai ficar feliz em obedecer...porque ele não pod...

O alimento do espírito vem de fora*

"(...) O espírito é uma máquina estranha que pode realizar as combinações mais extraordinárias com os materiais que lhe são oferecidos, mas sem esses materiais do mundo exterior é impotente; ao contrário da máquina de salsichas, é ele que os tem de colher, pois os acontecimentos só se tornam experiências graças ao interesse que por eles tomamos: se não nos interessam, não nos dão nada deles. Por isso o homem cuja atenção se desvia para dentro de si nada encontra digno de observação, ao passo que o homem atento a tudo o que o rodeia pode encontrar em si próprio, nos raros momentos em que contempla a sua alma, um conjunto de elementos, os mais variados e interessantes, para serem examinados e reunidos em motivos belos ou instrutivos. *Bertrand Russell, in "A Conquista da Felicidade"

Do fim da memória*

No filme: "O brilho eterno de uma mente sem lembranças", mergulhamos em uma historia sobre um amor, que se fundamenta pela manutenção da memoria. Um personagem decide apagar a memoria do namorado e isso provoca um interessante movimento no outro, que não suporta a realidade de não ser reconhecido.  O filme mergulha no significado da lembrança ,mostra como ela é importante para manutenção e fortalecimento de alguns sentimentos, também revela que o que fez você amar uma vez tende a retornar ,mesmo que parta do zero. Muitas perguntas surgem dai,a primeira que me ocorre, diz respeito ao significado e valência das memorias indesejáveis ou traumáticas,como seria se fossemos capazes de apaga-las? Algumas certamente teriam menos poder sobre as dores do ser, mas  por exemplo se alguém  tem um familiar que o machuca, fere, e o  caminho que encontrou  para não mais ser agredido foi por afastamento, a exclusão da memoria apagaria o sentido deste aprendi...

Nenhum Ser nos foi concedido*

Nenhum ser nos foi concedido. Correnteza apenas Somos, fluindo de forma em forma docilmente: Movidos pela sede do ser atravessamos O dia, a noite, a gruta e a catedral Assim sem descanso as enchemos uma a uma E nenhuma nos é o lar, a ventura, a tormenta, Ora caminhamos sempre, ora somos sempre o visitante, A nós não chama o campo, o arado, a nós não cresce o pão Não sabemos o que de nós quer Deus Que, barro em suas mãos, connosco brinca, Barro mudo e moldável que não ri nem chora, Barro amassado que nunca coze Ser enfim como a pedra sólido! Durar uma vez! Eternamente vivo é este o nosso anseio Que medroso arrepio permanece apesar de eterno E nunca será o repouso no caminho Hermann Hesse, in 'O Jogo das Contas de Vidro'

Sobre Singularidades*

Com licença, amigos. Eu enxergo "coisas". "Coisas" , assim meio malucas. E que os outros não enxergam. Mas, você diria: - Ah, mas todos nós enxergamos "coisas", que os outros não enxergam. Sim. sim. assim realmente é. Gosto de pensar "coisas" complexas e complicadas. Para depois simplificá-las. Sou um privilegiado: é que eu convivi dia e noite, com uma pessoa querida, e que pela medicina tradicional apresentava sintomas de esquizofrenia. Creiam-me: como aprendi com a minha amada!!! Desde momentos de desespero, no início, quando não sabia o que fazer. Até momentos que conseguíamos compartilhar nossas fantasias. As dela e as minhas.Umas mais significativas que as outras. E conversávamos e ríamos sobre nossos mundos encantados. Aprendemos, eu e ela, a visitar o mundinho um do outro.... Creiam-me, uma vez mais: Como aprendi "coisas" com a minha amada!!! Agora compreendo um pouquinho melhor. Acompanho aulas de Filosofia...

Felicidade Neurótica*

(...) - Não te assustes, continuo a ser a mesma velha Madeline.  Ouve o que encontrei hoje na biblioteca, quando estava a ler os jornais.  Escuta. - Tirou um pedaço de papel da algibeira do jeans. - Copiei de um jornal. Palavra por palavra. Journal of Medical Ethics. «Propõe-se que a felicidade » - levantou os olhos do papel e esclareceu: - o itálico na felicidade é deles - «Propõe-se que a felicidade seja classificada como perturbação psiquiátrica e incluída em futuras edições dos manuais de diagnóstico especializados sob a nova designação de importante perturbação afetiva, do tipo agradável.  Numa resenha da literatura relevante está demonstrado que a felicidade é estatisticamente anormal, consiste num discreto aglomerado de sintomas. Está associada a uma ordem de anomalias cognitivas e provavelmente reflete o funcionamento anormal do sistema nervoso central. Persiste uma possível objeção a esta proposta: a de que a felicidade não é avaliada negativamente...

Magia, loucura, poesia*

Nem sei o que pensar somos todos dementes e nossa loucura tem suas magias. há um mundo de possibilidades ah! nadar no oceano de livros decifrar Enigmas mil portas abertas mistérios a serem desvelados matemáticas e filosofias psicanálise e alquimias herméticos construímos caminhos de pedras é possível jogar xadrez no túnel do kairos E,enlouquecer em Roma de amor *Rosangela Rossi Psicoterapeuta Analítica, Escritora, Poetisa, Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Aprender a Ver*

Aprender a ver - habituar os olhos à calma, à paciência, ao deixar-que-as-coisas-se-aproximem-de-nós; aprender a adiar o juízo, a rodear e a abarcar o caso particular a partir de todos os lados. Este é o primeiro ensino preliminar para o espírito: não reagir imediatamente a um estímulo, mas sim controlar os instintos que põem obstáculos, que isolam.  Aprender a ver, tal como eu o entendo, é já quase o que o modo a-filosófico de falar denomina vontade forte: o essencial nisto é, precisamente, o poder não «querer», o poder diferir a decisão. Toda a não-espiritualidade, toda a vulgaridade descansa na incapacidade de opor resistência a um estímulo — tem que se reagir, seguem-se todos os impulsos.  Em muitos casos esse ter que é já doença, decadência, sintoma de esgotamento, — quase tudo o que a rudeza a-filosófica designa com o nome de «vício» é apenas essa incapacidade fisiológica de não reagir. — Uma aplicação prática do ter-aprendido-a-ver: enquanto discente em ger...