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Manhãs do adeus*

  “O mundo que caminha em mim é um mundo além do alcance” Paul Auster    O teu dia, o dia de todos, ao menos esse dia, O que o frio congelou dos sentimentos, Através de um vento que não adia, Regra a dor em forma de céu sem consentimentos.   E a névoa que desfaz um outono que afunda o vidro, Espelha os dedos na janela, o corpo de esconder, Objetos da casa na sonoridade do zunido do frio, Descansa o sonho que está fechado, provisório do amor.   O mundo é um passo gigante que afunda os sonhos, O futuro da espécie humana passa nos olhos, O coração aperta as pontas, fecha as páginas, vaporiza, Bafeja em tudo sua força, varre as ideias, renasce do nada.   O céu abre-se, rugas evidenciam a essência da vida, O tempo demonstra sua indiferença à revolta do ser, De nada adianta pisar na relva para alcançar a paz, O degelo é o que assombra o egoísmo das manhãs.   *Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gomes Filósofo. Editor. Poeta. Livre Pensador. Porto Alegr

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Quanto tempo leva uma terapia?*

O tempo de um processo terapêutico pode ser estimado. No entanto, se levarmos em conta o modo como se dá o tempo subjetivo dos processos de mudança, adaptação, superação, costume etc. de cada pessoa, as estimativas não passam de... meras estimativas. Não há exatidão quando se trata dos complexos processos constituintes do universo de cada alma humana. Além do funcionamento interno do indivíduo, também devemos levar em conta outros âmbitos. As relações internas e externas, os contextos passados e presentes, as projeções, os sonhos, as emoções, os valores, os modos de aprender e esquecer, os direcionamentos dos olhares e das memórias etc. Algumas pessoas chegam ao consultório com demandas imediatas e últimas relativa ou aparentemente simples. No entanto, com estruturas com pouca abertura para modificações, podem apresentar resistências difíceis de transpor. Um exercício de trabalho e paciência para terapeuta e partilhante. Outras podem ter alguma facilidade para mudança. Mas, tal f

Literatura – na Vida e na Clínica*

Relação continuada que sobrevoa ideias complexas e aterrissa em sensações, a nossa e a dos livros. Quem já não capturou ou se deixou capturar pelas emoções, até dos jargões neles contidos. Galeano, no enfrentar silêncios para recuperar o não dito, é danado. Ele nos faz reverberar em outro plano, flexibiliza o fadado. Momento do devaneio poético, diria Bachelard. De tanto concentrar para ordenar imagens - como plantas, necessitam de terra e de céu - o imagético enlaça o simbólico e encontra novos imaginários. Jung, Campbell... O escarcéu. Utopia... Por intermédio dos livros exercitamos maneira nata, em seus mais diversos gêneros, de enxergar a nós mesmos e até manejar circunstância que mata. Distopia... As pessoas no Pessoa acordam outras em nós. Qual a sintonia... Termos agendados no intelecto partejando ideias... Ressignifica e marca autogenia. Navegar Camões nos arrebata. Ora pela tormenta que clama por sonhos. Ora pela calmaria que suspende a vida que a nós se ata. Clari

Impossível? Talvez...*

Talvez. O que significa a palavra “talvez”? Nada. Talvez é uma palavra intermediária entre o sim e o não. Quando alguém não sabe o que dizer ou não quer se comprometer com algo, solta um talvez no inicio da frase e automaticamente se livra da obrigação. Talvez eu possa ir no jantar amanhã. Qual o conteúdo dessa frase? Nenhum, pode ser que consiga ir no jantar ou pode ser que não compareça. Esperar até amanhã é muito tempo quando se tem um talvez por trás. Talvez é uma palavra vazia, ilusória, parece que está dizendo algo mas na verdade não diz nada, semeia a dúvida e a insegurança. Talvez é uma palavra muito utilizada por políticos. Dizem que quando um político responde sim, podemos interpretar como talvez. Quando disser talvez, o significado é não. E quando o político disser não, ele não é um bom político. Outra palavra que tem sentido dúbio é a conjunção “mas” e seus parentes próximos: porém, contudo, todavia, entretanto. Sempre existe um mas pra estragar ou contradizer uma afi

Subjuntivos*

Talvez esse imenso lugar nativo ficasse inexplorado, não fora o movimento desconcertante a acessar as inéditas regiões. Essa aptidão de estranhamento, tão desmerecida, aprecia desnudar o espaço novo diante do olhar, interseção limiar com as demais teias discursivas. Através do viés desconsiderado é possível apreender e dialogar com a pluralidade transgressora das fronteiras conhecidas. Ao fazer possível o impossível se pode vislumbrar a ótica selvagem, um pouco antes de ser cooptada pelo saber instituído.    A cogitação sobre a origem dessa matriz já contém, em si mesma, a multiplicidade de versões. As lógicas da incerteza elaboram seus vocabulários brincando com os vestígios da irrealidade. O devir instintivo ensaia relatividades ao querer mostrar paradoxos, alternâncias, dialetos para se entender ou sentir que a perfeição de toda imperfeição nem sempre vai ser explicável. Sua opinião escolhe desmerecer todo beco sem saída. Seu saber especulativo, recheado de incertezas, promove

O que é a Filosofia Clínica***

A Filosofia Clínica, em uma nova abordagem terapêutica, é a filosofia acadêmica adaptada à prática clínica, à terapia. Não trabalha com critérios médicos, com remédios ou com tipologias na construção de uma proposta terapêutica cujo objeto é buscar o bem-estar do ser humano.  O instrumental da Filosofia Clínica divide-se em três partes: os Exames Categoriais, a Estrutura de Pensamento e os Submodos. Nos Exames Categoriais, primeiro momento da clínica, através da historicidade, o filósofo clínico situa existencialmente a pessoa colhendo todas as informações de sua vida, desde as suas recordações mais remotas, até as informações de suas vivências mais atuais. O material colhido, na história da pessoa atendida - que em Filosofia Clínica é chamada de partilhante, justamente pela condição de ser alguém com quem o filósofo compartilha momentos da existência -, é a base para o desenvolvimento do processo terapêutico. A partir desses dados, num segundo momento, são verificados os tópicos

Reflexões de um Filósofo Clínico*

  Um pensamento mágico do homem moderno: a crença de que quando se deixa de chamar certas coisas de "deuses", deixa-se de crer em deuses. O homem moderno tanto crê em divindades que nem percebe que crê: entende o objeto de sua crença como a própria realidade. O mundo do homem é inescapavelmente mitológico. A ciência, a política, o esporte, os objetos técnicos: com todos eles o homem moderno tem uma relação religiosa, do mesmo modo que o homem de antes tinha uma relação com o seu Deus ou os seus deuses. Renomeia-se o deus, mudam-se os rituais de culto - e o pensamento iluminista inteiro fantasia haver superado o mito em benefício da razão, sem perceber que a razão é, ela mesma, também um mito. Talvez o grande equívoco do pensamento moderno seja a crença de que se um objeto é mitológico, então ele não existe. Ora, ao contrário do que os modernos quase sempre acreditaram, a existência não é unívoca: "o ser se diz de vários modos", há modos e graus variados

Casa da Filosofia Clínica, em Porto Alegre (RS), concede o título de Doutor Honoris Causa*

  Catarinense de Criciúma (SC), Beto Colombo foi homenageado pela Instituição por seus relevantes estudos em Filosofia Clínica nas Organizações.  Há dez anos, Beto Colombo levou os métodos da Filosofia Clínica – até então voltada exclusivamente ao atendimento em consultórios – para dentro das empresas, criando assim o que hoje se conhece como Filosofia Clínica nas Organizações. O filósofo atende empresas em processo de sucessão e também analisa a cultura organizacional a fim de identificar a estrutura de pensamento das empresas, chegando ao que ele denominou de a “Alma da Empresa”, título de seu livro em parceria com o filósofo clínico Rosemiro Sefstrom, lançado em 2016 e que ganhou uma edição bilíngue (português-espanhol) no final de 2019, ambos publicados pela Dois Por Quatro Editora, de Florianópolis. Além de ter escrito diversos livros voltados à gestão e à Filosofia, Colombo foi um dos fundadores do Instituto Sul Catarinense de Filosofia Clínica e atualmente coordena o curso d

Uma busca por bem viver*

  Qual a justificação para alguém procurar uma terapia? Dentre muitas, as mais recorrentes são as parelhas doença/cura, anormalidade/normalidade, loucura/sanidade. Porém, há outras justificações como o autoconhecimento, o bem-viver (não é necessário estar em ‘mal-viver’), a busca de uma condição melhor (não é preciso estar em uma situação ‘ruim’). Não em sua generalidade, mas, em grande parte de nossa sociedade, as primeiras justificações se dão pelas terapias ‘psi’, as segundas, pelas terapias filosóficas. Qual a diferença? Além da abordagem de aproximação ao fenômeno humano e seus modos existenciais, as terapias filosóficas são baseadas prioritariamente ou totalmente nos escritos de mais de 2500 anos de filosofia (e filósofos). Algumas terapias filosóficas usam de conteúdo filosófico (e de filósofos) aplicado à terapia, algumas dessas são chamadas de aconselhamento filosófico.   Outras, como a Filosofia Clínica, não utilizam de conteúdo filosófico aplicado à terapia, mas na const

Bom dia! Vai acontecer!

O discurso de cada um*

Cada um de nós tem um discurso próprio, uma forma de verbalizar o mundo. Às vezes compreensível, estruturado, coerente, mas tantas outras vezes nem tanto assim. Muitos apenas deixam transparecer o que lhes vai à alma; outros se descabelam de tanta expressão.    Algumas destas expressões são múltiplas e abrangem olhares, toques, sons, paladares e cheiros e também muitos outros sentidos que não podem sequer ser mencionados, tomando a atenção do outro por inteiro. Inúmeras outras expressões, entretanto, se recolhem e se manifestam somente para poucos escolhidos. Muitos mesclam momentos de recolhimento com outros de euforia, nos lembrando que podemos ser imprevisíveis até mesmo dentro de nossa linearidade. Não há um discurso igual ao outro, como não há necessariamente uma imposição de padrões nos discursos já conhecidos, simplesmente porque estes podem mudar.   Quantas vezes, quando supomos já conhecer nossos partilhantes e fazemos nossos próprios discursos em função desses conhecime

Resenha Crítica*

"Pérolas Imperfeitas – Apontamentos sobre as lógicas do improvável" Ed. Sulina. Porto Alegre/RS. 2012, 142 p.   Num estilo que dança por entre “a ilusão da realidade e a realidade da ilusão” o professor e filósofo clínico Hélio Strassburger compartilha com seus leitores suas experiências, vivências e desavenças em seu caminhar como filósofo clínico. Como um passeio pelos recônditos espaços da mente humana o autor nos presenteia com 28 pérolas que ainda imperfeitas na medida em que se constroem na busca pelo direito de serem únicas, singulares e livres das tipologias e semelhanças que mergulham o filósofo clínico num “sobrevoo que não aterrissa”. O livro nos conduz pelos labirintos da relação entre o filósofo clínico e seu partilhante onde a interseção clínica ganha a forma de sentido para o partilhante a medida que seus ainda não traduzidos e interditados conteúdos ganham vida para o filósofo clínico. O livro vai ao longo do caminho desvelando, através de seus apo

Da Natureza Inédita em Todas as Coisas*

  “No poetar do poeta, como no pensar do filósofo, de tal sorte se instaura um mundo, que qualquer coisa, seja uma árvore, uma montanha, uma casa, o chilrear de um pássaro, perde toda monotonia e vulgaridade.”                                    Martin Heidegger                                   Um cotidiano plural se abre frente ao espelho das singularidades. Nesse viés discursivo recém chegando, oferece seus inéditos numa língua estranha. Por seu caráter de novidade, recusa o gesso da classificação especialista. Numa interseção de acolhimento e partilha, concede alguma visibilidade ao que restaria desconhecido. Em uma experiência de transbordamento excepcional, num tempo subjetivo e de local indeterminado, a estrutura de pensamento se refaz. Nesse ímpeto de incertezas, um teor de expressividade transgressora se deixa entrevistar, seus deslizes narrativos, olhares desfocados e a escuta das lógicas sem sentido, apontam suas fontes de inspiração. Uma hermenêutica compreensiva a

Quarta-feira tem Filosofia Clínica e Literatura

 

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