Navegar é preciso e
inevitável demais. E sendo assim, talvez possa significar que sempre estaremos
nos movimentando, indo e vindo, mesmo que possamos teimar ou temer ao escolher
desperceber ao invés de ousar perceber cada vez mais.
E o problema pode não ser
essa dinâmica, mas sim, o esquecimento do nosso lugar. Pode ser fato que a
morada esteja sempre às margens da orla do nosso vasto agora. E basicamente
existimos sempre vivendo e convivendo – navegando – em três continentes
incríveis e necessários uns aos outros numa relação triangular de vai e vem.
Um
continente se chama Passado e é riquíssimo em nostalgia e possibilidades mil
para qualificarmos ainda mais o presente através das nossas memórias sempre em
construção no ritmo de uma plasticidade magnífica. Outro continente é o Agora,
o único no qual a nossa morada concretamente se encontra presente e pulsante
para os fazeres de mãos dadas ou a quatro mãos.
Há ainda, o Futuro, um
continente plenamente instável e todinho feito de incertezas que mesmo assim é
capaz de nos fazer muito bem quando aprendemos que não é lá que está o nosso
lugar e nem o nosso dever de ficar jamais. Podemos e devemos somente saber
visitar durante o tempo necessário e quantas vezes for preciso o Passado e o
Futuro, pois escolher ficar num desses dois continentes pode ser desastroso e
tremendamente doloroso.
Escolher ficar preso ao Passado pode ser demasiadamente
depreciativo; escolher ficar preso ao Futuro pode converter qualquer vida numa
ansiedade crescente e capaz de tornar-se intransponível e insuportável. Ocorre
que o nosso passado detém uma história singular de memórias fundamentais e
reveladoras na medida em que sempre podem ser melhores significadas,
qualificando-nos consequentemente para o autoconhecimento agora.
Já o nosso futuro
é sempre atraente, pueril e dotado de esperança convicta de que sempre será
produto e reflexo das consequências das nossas próprias escolhas agora. Na
verdade, nada é mais compensador do que a sabedoria e a liberdade de viver o
presente podendo navegar pelo passado e pelo futuro somente quando devido,
passeando e sonhando tendo como chave de entrada e saída os passaportes das
faculdades da memória e da imaginação. Musa!
*Pablo E. Mendes
Coach, analista de sistemas, professor universitário, filósofo clínico
Porto Alegre/RS
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