Minha musa é a
lembrança
Dos sonhos em que eu
vivi,
É de uns lábios a
esperança
E a saudade que eu
nutri!
É a crença que alentei,
As luas belas que amei
E os olhos por quem
morri!
Os meus cantos de
saudade
São amores que eu
chorei,
São lírios da mocidade
Que murcham porque te
amei!
As minhas notas
ardentes
São as lágrimas
dementes
Que em teu seio
derramei!
Do meu outono os
desfolhos,
Os astros do teu verão,
A languidez de teus
olhos
Inspiram minha
canção...
Sou poeta porque és
bela,
Tenho em teus olhos, donzela,
A musa do coração!
Se na lira voluptuosa
Entre as fibras que
estalei
Um dia atei uma rosa
Cujo aroma respirei...
Foi nas noites de
ventura,
Quando em tua formosura
Meus lábios embriaguei!
E se tu queres,
donzela,
Sentir minh'alma
vibrar,
Solta essa trança tão
bela,
Quero nela suspirar!
E dá repousar-me teu
seio...
Ouvirás no devaneio
A minha lira cantar!
*Álvares de Azevedo
12 de setembro de 1831 - 25 de abril de 1852
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