Sou pensionista da
vida.
Na mesma tábua em que
durmo
Escrevo meu trabalho
E ela farfalha, embora
já sem folhas,
Só da lembrança de ter
sido tronco.
Tenho uma pia no canto,
Que goteja
E é meu lago, meu rio,
meu
Fundo mar.
Tenho um rijo cabide
À cabeceira
Para dependurar a pele
A cada noite.
Me dão café com pão, e
às vezes
Algum vinho.
Dizem que só paguei
meia pensão.
Há uma fome indistinta
que me habita
Enquanto o medo
Com felpudos passos
Percorre o labirinto
das entranhas.
Mas agradeço essas
quatro paredes
E que me tenham dado
uma janela.
Pois sei que a qualquer
hora
Sem possibilidade de
recurso
E talvez mesmo sem
aviso prévio
Serei intimada
A devolver o quarto.
*Marina Colasanti
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