Uma
crença muito antiga aprecia atualizar-se nesse enigmático hoje que um dia foi
amanhã. Poderia ser o pretérito imperfeito de uma busca ou aquele quase nada
onde tudo acontece. Atualização de um dialeto nem sempre dizível, se alimenta nas
fontes inenarráveis, nos paradoxos, nas desleituras criativas.
Seu
visar inédito sugere desvãos ao mundo que se queria definitivo. Costuma ser abrigo
do acaso na versão do avesso das coisas. Ao referir o encantamento das pequenas
devoções, parece ter a vocação de traduzir esse texto interminável, por onde a
vida escoa seus segredos. Realiza um esboço sobre as tentativas de decifrar por
inteiro um mundo que é mistério por natureza.
A
característica de ser imprevisível seria insuportável, não fora a poesia re_significada
numa lógica delirante. No submundo dos outros é possível reconhecer parte do
nosso, isso pode acontecer no elogio ou crítica, censura ou aplauso. Essa contradição
parece fundamentar uma distância aproximada de cara metade. Assim ódio e paixão
podem se reconhecer no mesmo objeto de desejo.
O
transbordamento discursivo relata a vida num desses lugares onde os sonhos
acontecem. A recriação estética imprecisa sua matéria-prima nas gavetas
desmerecidas, na via marginal, no rastro dos rituais exóticos. Ao primeiro
olhar, a inexatidão dos rascunhos aponta manuscritos ilegíveis. Há que se
conviver em meio às brumas para aprender sua dialética, a trama significativa
de existir absurdo.
Talvez
os personagens de cada um possam se esboçar na percepção de consciência
alterada, oferecer leituras sobre os fenômenos ao seu redor, como uma ousadia retórica
a testar o limite das palavras na relação com os extraordinários eventos.
Universo
subjetivo inconformado com a definição refém de si mesma, ao deixar entrever
sua fonte de originais, se alimenta nas ressonâncias dos ensaios irrefletidos. As poéticas do indizível se associam em código
próprio, para desvendar sua arquitetura irreal, reivindicam uma interseção nem
sempre cabível a verdade dos consensos. Ao se colocar numa ótica de devaneio e
invenção sua decifração percorre os instantes de um discurso que silencia.
*Hélio Strassburger
Comentários
Postar um comentário