“Não pretendo convencer
ninguém, nem sequer ser convencido.”
Paul Valéry
(parte 2)
Interpretar um
acontecimento passa pela forma de como compreender um pouco do mundo, diria a
voz no cotidiano. E que toda “interpretação se funda na compreensão” daquilo
que pensamos como algo parte de nós, do que está no lado externo, no cotidiano
a percorrer a significância de que o que se é compreendido se é projetado à
interpretação. Existe a abertura ao mundo a partir da compreensão, o ser está
presente no que está pensado. As circunstâncias movem o que está em curso, “o
mundo já compreendido se interpreta”[1].
Não estou aqui a pensar
a interpretação na esteira lógica do uso da linguagem, mas não posso deixar de
lado as tentativas da hermenêutica na contribuição de como a interpretação
poderá ser a via por onde os caminhos do olhar direciona-se em busca do compreendido.
Poderia estar neste terreno seguro e verdadeiro, porém, demasiado superficial,
para o curso das águas deste rio que deságua no espaço abstrato das intenções
protagonizadas por interpretações no âmbito de fatos contemporâneos.
Prefiro
percorrer o caminho que passa pelo signo do interpretar que consegue
compreender as linhas imaginárias do pensamento, e que nem tudo que é da
linguagem dá conta do que é do pensamento, e que nem todo pensamento é o plano
mais perfeito para se chegar ao entendimento sobre um acontecimento. Neste
ponto, entre o que vem para ser entendido e o que passa para ser legitimado
como objeto de análise, talvez, o que se pensa, o que pode dar alguma
contribuição poderia compreender que suas verdades passam pelo crivo de uma
instância comum, e que muitas vezes correspondem uma velha ordem da
interpretação autoritária sobre o mundo.
A opção do pensador
livre passa por mais de uma concepção de compreensão: ter a mão as
possibilidades de compreender o que a conjuntura do ato interpretativo expõe e
jamais esquecer que o mundo sem compreensão é como o ente num mundo sem
escolhas.
Para Heidegger o mundo
compreendido se interpreta. No Brasil o mundo da política é o espaço em que as
ações são comandadas por canalhas que deixaram de lado a compreensão do mundo
para por em prática a imaginação insana de suas ideias que só servem para
dualizar questões e temas que são partes de um universo conceitual.
A clareza
das ideias da política no Brasil é tão plana quanto às ideias de um fanático religioso,
ou quando cai no terreno do entretenimento e de um mundo desportista
manipulador. O fanatismo tem uma mesma raiz, este dualismo de exclusão e de
adoração, que perpetua nas gerações seguintes. Mas o que seria do mundo sem
essas veleidades, que para alguns é fonte de vida? A potência dessas linguagens
está calcada no mundo perfeito dos mídias. Aqui, quase uma entidade, ou melhor,
um quase lugar perfeito, é moldado aos porta-vozes da verdade que desprezam a
diferença.
*Prof. Dr. Luis Antônio
Gomes
Filósofo. Educador.
Editor. Livre Pensador.
Porto Alegre/RS
[1] Heidegger, Martin.
Ser e Tempo ‒ Parte 1. Petrópolis, RJ. Vozes, 1988.
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