Em nossa última coluna
sobre os papéis existenciais abordaremos dois aspectos importantes e
dilemáticos.
PERGUNTA: Seria
possível perde-se de si mesmo enquanto atua em determinado papel existencial ou
função social? Seria possível que você usasse por tanto tempo um rótulo, uma
roupagem, um papel profissional que, sem perceber, você tenha se tornado ele?
Semelhante ao ator que ao perder-e de si mesmo passa a agir e a acreditar
constantemente que é um dos personagens que representava?
Sim! É possível nos
perdermos de nós mesmos e nos tornarmos aquilo que durante muito tempo
assumimos como identidade. Muitas pessoas tornam-se seus rótulos, seus papéis
sociais de forma tão profunda que o sujeito já não mais existe, o que existe é
pai, o empresário, o doente, o médico, o terapeuta... E aquilo que deveria ser
apenas uma roupagem, um rótulo, uma forma de agir em determinada circunstância,
passa a ser a própria pessoa. Muitas assumindo papéis que em nada lhes diz
respeito.
PERGUNTA: é melhor
sermos NÓS MESMOS ou é melhor vestirmos figurinos tão bem construídos que
passamos a ser os próprios personagens encarnados? Há algum problema em
deixarmos de ser quem somos e nos tornarmos outra coisa? A resposta é
dilemática e complexa. Precisamos antes considerar que pela forma como algumas
pessoas se construíram enquanto sujeitos, pelos conteúdos que habitam em seus
corações e pensamentos, pela maneira problemática e conflituosa como sua
Estrutura Subjetiva foi construída, algumas vezes elas podem não se gostar,
podem não querer ser quem são, podem em nada ter a ver com elas mesmas. Em
casos assim, de grandes conflitos e tortuosidades existenciais, talvez seja
melhor sermos e nos tornarmos determinados personagens do que sermos nós mesmos.
Isto, porém, é muito
diferente da pessoa que atua tão bem em determinados papéis da vida que sem
querer se perde de si mesma e depois não sabe mais como retornar para sua
própria identidade. Da pessoa que perdeu a direção que leva para si mesma, que
por conta de algum fator traumático ou processo divisório destruiu a estrada de
retorno, ou que apagou os caracteres que a definiam e agora se encontra
perdida.
Para concluir, lhes
mostrarei um horizonte mais leve e bonito. Você sabia que é possível criarmos
papéis e personagens especialmente para lidar com determinados problemas da
vida?
Digamos que você tenha
problemas com o seu filho, uma relação conflituosa na qual ele lhe traz
questões com as quais você não sabe lidar. Neste caso, poderia você assumir um
papel existencial, entrar em cena com um personagem que saiba lidar melhor com
tais questões do que você mesmo faria. Quais seriam as características deste
personagem? Seria alguém atencioso ou alguém com mão de ferro? Alguém que saiba
ouvir? Que fale como um conselheiro? Que saiba ver com a visão de quem busca
por uma resposta e não por uma condenação? Alguém afetuoso? Será que ao assumir
uma roupagem existencial tal você seria um pai/mãe melhor do que é hoje?
A resposta apenas você
pode dar, ela encontra-se no depoimento vivo da sua existência, chama-se
Historicidade, a história da sua vida. Consulte e provavelmente você saberá!
*Gilberto Sendtko
Filósofo Clínico
Chapecó/SC
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