"Em seu ser atual,
as palavras, acumulando sonhos, fazem-se realidades."
Gaston
Bachelard
Uma só expressão pode
conter a pluralidade indescritível de significados. Parece uma propriedade
especial, essa aptidão de multiplicar-se, para acolher a diversidade
existencial em cada um.
É improvável ser o
dicionário de sinônimos e antônimos, o guardião de todas as possibilidades para
acessar suas variáveis discursivas. O território mutante da singularidade
aprecia resguardar-se na vontade subjetiva.
Seu esboço, a
reivindicar uma chave de leitura específica, propõe qualificar o reencontro com
a fonte de onde partiu. Em todo lugar, a cada instante, existe um convite para
desbravar inéditos. Mesmo o antigo dialeto, recuperado pelo novo olhar, pode
ser refúgio de originais. Assim, as mesmas palavras podem ser outras palavras.
O encontro da
expressividade com a intenção do autor delimita seu sentido inicial. Aqui não
se busca o transbordamento do dizer, senão o recuo a um ponto de partida. A
invisibilidade desse direcionamento, entre as primeiras e últimas declarações,
protege a estrutura de pensamento da pessoa.
Por outro lado suas
derivações podem oferecer alternativas existenciais, qualificar a emancipação
pessoal em seus rascunhos. Um conteúdo assim descrito pode ficar inexplicável
até alguma tradução. Talvez o ajuste das velhas lentes, consiga evidenciar a
multidão de possíveis na palavra desconsiderada.
Ao sentir-se deslocada
em determinado contexto, a nova percepção aprecia transcrever-se noutras
direções. Nesse sentido, a distorção do termo, pode resignificar seu uso, o
qual, ao atingir o teto de suas possibilidades num lugar, consiga
reapresentar-se noutro, fundar uma nova república das letras.
*Hélio Strassburger
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