A formação em filosofia
clínica é constituída de duas etapas. Na primeira, o formando aprende a parte
teórica. Em seguida, inicia o processo para os atendimentos. Vou apresentá-las
de forma bastante resumida.
A formação teórica
funciona como pós-graduação Lato Sensu ou especialização. Algumas instituições
de filosofia clínica vinculam o curso a uma Instituição de Ensino Superior que
emite um certificado de especialização reconhecido pelo MEC – como foi o meu caso.
Mas outros preferem manter a especialização sem o vínculo que confere esse
reconhecimento. Essa formação dura entre um ano e meio e dois anos. O
certificado de especialização é chamado de Certificado B.
A formação prática
ocorre no fim do preparo teórico. O formando passa inicialmente por um
pré-estágio, no qual é atendido pelo método da filosofia clínica e acompanha
ativamente o processo. Em seguida, inicia os atendimentos supervisionados. Um
formador acompanha o formando ao longo dessa etapa. Não há prazo de conclusão
prévio para esse acompanhamento. Para a emissão do Certificado A, o aspirante a
filósofo clínico precisa dominar o método, o que provado por alguns
procedimentos avaliativos.
Independente de ter a
especialização reconhecida pelo MEC, somente uma instituição específica de
formação em filosofia clínica é que emite a habilitação para a clínica. É um
processo semelhante ao da formação em psicanálise. A especialização em ambas
pode ser realizada em universidade, mas não habilita para atendimento. Apenas
os institutos próprios podem conceder a autorização para clinicar.
No Brasil, há vários
institutos sérios em diversos estados. No meu caso, a especialização foi
realizada pelo Instituto Packter – criada pelo estruturador da filosofia
clínica, Lúcio Packter – com o reconhecimento do MEC pela Faculdade ITECNE. A
habilitação para clinicar foi emitida pela Casa da Filosofia Clínica fundada e
dirigida por Hélio Strassburger, um dos primeiros alunos de Lúcio e um dos
principais responsáveis por difundir a área no país – e que inclusive foi
diretor do Instituto Packter.
Embora graduados em
qualquer área possam cursar a especialização, para a habilitação é preciso
formação específica em filosofia. Há uma formação complementar para quem é
graduado em outra área e queira clinicar. Trata-se de um curso de dois anos e
dois meses oferecido pelo Instituto Packter, que não é reconhecido pelo MEC,
mas ajuda a compreender as bases filosóficas que inspiraram o método da
filosofia clínica.
É importante frisar que
a filosofia clínica não é um aconselhamento filosófico, um conjunto fórmulas
filosóficas aplicadas à vida ou algo do tipo. É um método muito bem elaborado,
estruturado e inteiramente voltado para a psicoterapia. Embora se veja hoje
diversos desvios nas práticas da filosofia clínica, sobretudo aliando-a a
métodos completamente incompatíveis, há quem leve a área a sério e obtenha
excelentes resultados. Por fim, ressalto que a formação aparentemente breve,
pelo menos na parte teórica, não significa uma área sem profundidade.
A teoria é uma
propedêutica que deverá ser revisitada e aprofundada em todo o tempo em que o
filósofo clínico pretender atender, desde seu estágio supervisionado até o fim
de sua carreira de atendimento já com o Certificado A em mãos. A filosofia
clínica exige muito de seus terapeutas e o estudo para quem busca ficar sempre
preparado – assim como em qualquer área psicoterapêutica – não tem fim.
*Prof. Dr. Miguel
Angelo Caruzo
Filósofo. Escritor.
Filósofo Clínico. Livre Pensador.
Teresópolis/RJ
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