Ao lermos os diários e as
correspondências de líderes políticos, de militares do alto escalão e de
escritores e intelectuais, percebemos que os grandes acontecimentos da História
quase nunca são públicos - ao contrário: quase sempre são eventos privados, frutos
de encontros, sentimentos pessoais e circunstâncias que em nada prenunciavam
aquilo que posteriormente viria a ser reduzido a "fatos históricos"
descritos em manuais.
* * *
A História escrita, em
todas as suas escolas, é a História institucional.
Ela captura somente a
superfície dos eventos.
Mas é incapaz de
descrever o tecido de relações pessoais e percepções privadas que rege os
caminhos da humanidade.
* * *
Para completar: com uma
grande freqüência, as personagens principais e os verdadeiros eventos decisivos
da História permanecem completa e irremediavelmente subestimados, desprezados
ou ignorados.
* * *
Dito isso tudo, resta a
conclusão à moda de Vaihinger: praticamente tudo o que tomamos como a História
não passa de ficção social e política, em que as únicas descrições
aproximadamente verdadeiras - que são os relatos institucionais da promulgação
de leis, de decisões judiciais, de sucessões políticas, de resultados de
batalhas - são justamente as menos relevantes para compreender não só um
momento histórico específico, mas também a construção do caminho que nos levou
até aqui.
* * *
Em alguma medida, isso
vale também para a história pessoal de cada um de nós.
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Como pôr em marcha a
liberdade do pensamento?
O primeiro passo precisa
ser um "não": a recusa completa dos meios de escravização
intelectual.
Em outras palavras: é
preciso abandonar inteira e imediatamente o hábito de assistir à televisão, de
ouvir o rádio, de ler os jornais e as revistas semanais - que são os
instrumentos pelos quais outras pessoas nos indicam sobre o que e como devemos
pensar. A mídia é, a rigor, um cabresto do pensamento: força-nos a despender a
nossa energia intelectual e o nosso tempo meditando sobre o que de outro modo
não nos interessaria em absoluto.
Em lugar disso, é preciso
ler - sobretudo livros! -, conversar e refletir justamente sobre aquilo que nos
parece interessante e valioso: é preciso escolher, com autonomia, como
utilizaremos a nossa inteligência e o nosso tempo.
A vida é curta e difícil
demais para perdermos tempo e energia com o que os outros querem que achemos
importante.
*Prof. Dr. Gustavo Bertoche
Filósofo. Escritor. Musicista. Educador. Filósofo Clínico.
Teresópolis/RJ
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