Nossa maneira de ser, estar e agir dialoga com as vizinhanças. É provável que parcelas das percepções que temos sobre nós mesmos, os outros e o mundo brotem do impacto que o meio exerce em nossas vidas. As relações que travamos colaboram com a formatação do nosso olhar, ampliando-o ou reduzindo-o, nos deixando em posições mais ou menos confortáveis nas interações. Aí se insere o poder das referências que norteiam e justificam parte de nossas escolhas.
Em Filosofia Clínica as
referências que inspiram nossos processos individuais, pela atração ou
repulsão, são acolhidas no tópico Interseções de Estruturas de Pensamento
(T28), que nos remete as associações entre elas. Posterior à pessoa, a
Estrutura de Pensamento (EP) é o modo próprio do indivíduo se inserir existencialmente,
inserção que passa pelo mergulho no coletivo. Assim, a qualidade das
Interseções é ditada pela subjetividade de quem as vive, podendo produzir tanto
bem quanto mal-estar.
Familiares, amigos, parceiros,
personalidades, autores e obras dialogam com nossos modos de ser, ver e viver.
Podem colaborar com nossas dores, acentuando ou diminuindo os incômodos que,
percebidos e ponderados, aumentam a probabilidade de promover caminhada atenta
e ajustes de rota. Nessa trajetória fica evidente a relação do T28 com outros
tópicos da EP.
Capaz de alterar, anular,
salientar, comprimir ou desestruturar tópicos, o Interseções de Estruturas de Pensamento
emerge como exemplo da pluralidade que trazemos. Sintomaticamente refletimos,
pelo estar, nosso modo de ser no mundo. Na interação tópica e submodal,
refletida no traçado da Malha Intelectiva, pode viabilizar as tramas do existir
e descortinar novos patamares autogênicos: panorama geral do que nos sucede,
mesmo que provisório e aproximado, o que em um momento dado é para nós
importante,
determinante, harmonioso e
conflitante.
Alguns processos culminam com
profundo questionamento do conjunto das referências que carregam, fazendo ruir
os pedestais que as sustentam e redesenhando a forma da pessoa se situar nos
grupos. O novo arranjo pode não só ditar uma maneira diferente do sujeito se
localizar, como encerrar relações para outras inaugurar.
Fora dos pedestais, com
referências humanizadas, as relações horizontalizam-se e os Papeis Existenciais
deixam de ser idealizados, liberando os componentes de parte das tensões, justo
por reconhecer os imponderáveis como próprios do existir e aceitar como
legítima a falibilidade humana. Constatar estarmos sujeitos não só ao erro como
ao aprendizado dele decorrente nos permite recuperar a leveza necessária para exercitar
a transversalidade dialógica e aproximar mundos.
*Ana Rita de Calazans Perine
Filósofa Clínica, Pesquisadora, Educadora, Mobilizadora Social e Empresarial. Cofundadora do Instituto ORIOR. Formação em Ciências Jurídicas e Sociais, Filosofia Prática e Filosofia Clínica (IMFIC / Instituto Packter – ANFIC / Casa da Filosofia Clínica). Trinta anos dedicados a pesquisas, aplicação e difusão de ciências humanas e afins. Atua na área de Desenvolvimento Humano e Transformação Cultural.
**Artigo publicado originalmente na Revista da Casa da Filosofia Clínica - Edição de inverno/2022.
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