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Dei-me conta*

De repente dei-me conta Que quanto mais eu fugia Em direção ao futuro Mais eu fugia de mim mesmo. Falei para minha filha: "Vou lavar os panos de prato" Depois faremos um chimarrão E veremos os panos secarem ao sol.... *José Mayer Filósofo, Livreiro, Poeta, Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

O Poema Original*

Original é o poeta que se origina a si mesmo que numa sílaba é seta noutra pasmo ou cataclismo o que se atira ao poema como se fosse ao abismo e faz um filho às palavras na cama do romantismo. Original é o poeta capaz de escrever em sismo. Original é o poeta de origem clara e comum que sendo de toda a parte não é de lugar algum. O que gera a própria arte na força de ser só um por todos a quem a sorte faz devorar em jejum. Original é o poeta que de todos for só um. Original é o poeta expulso do paraíso por saber compreender o que é o choro e o riso; aquele que desce à rua bebe copos    quebra nozes e ferra em quem tem juízo versos brancos e ferozes. Original é o poeta que é gato de sete vozes. Original é o poeta que chega ao despudor de escrever todos os dias como se fizesse amor. Esse que despe a poesia como se fosse mulher e nela emprenha a alegria de ser um homem qualquer. *Ary dos Santos

Ler o passado*

Estava eu, aqui perdido, estava eu na minha infância Perdido, perdido nos livros, em livros. Estava eu na minha infância, perdido, perdido E os livros, são os mesmos caminhos, da minha vida, encontrei eles em sonho, que perdidos eu os li no mundo que inventei, o que era meu era de outros. Nunca nos vimos, nos reconhecemos em livros, só em livros. Perdidos, estava eu,  Todos perdidos nos livros, Ver era viver ‒ Ler! Me via nos lugares mais distantes. Estava eu, aqui em minha sala, perdido, perdido. Na vida, na infância encontrei todos, hoje todos moram Em livros. Minha vida perdida em livros, Envelheço em lidos mais vividos. Se pudesse ler o passado, certamente eu o leria, em livros, Perdidos. Luis Antônio Gomes Prof. Dr. PUC/RS. Editor Sulina. Poeta. Porto Alegre/RS

Do Juízo Estético*

Toda a arte pressupõe regras na base das quais uma produção, se deve considerar-se artística, é representada, em primeiro lugar, como possível; mas o conceito das belas-artes não permite derivar o juízo sobre a beleza da produção de qualquer regra que tenha um conceito como princípio determinante, em virtude de pôr como fundamento um conceito do modo por que tal é possível.  Assim, a arte do belo não pode inventar ela mesma a regra segundo a qual realizará a sua produção. Mas, como sem regra anterior um produto não pode ser artístico, é necessário que a natureza dê a regra de arte ao próprio sujeito (na concordância das suas faculdades), isto é, as belas-artes só podem ser o produto do gênio. Daí se conclui:  1º Que o gênio é o talento de produzir aquilo de que se não pode dar regra determinada, mas não é a aptidão para o que pode ser apreendido consoante uma qualquer regra; portanto, a sua primeira característica é a originalidade.  2º Que as suas produções, visto

Herói [1]*

A figura do herói como aquele que passa por dificuldades e, através de força interna e externa, persistência, coragem e determinação, vence seus obstáculos serve hoje de motivação para empreitadas pessoais. E este herói, diz-nos a sociedade e o conceito de resiliência (devidamente mal aplicado, diga-se de passagem), está no nosso lado, no dia-a-da, naquele ou naquela que luta diariamente pelo sucesso no jogo da vida.  É, como em Homero, um herói solitário e individual, mas também é como em Hesíodo, um herói que dá conta não de ações guerreiras em favor de uma pátria, mas de ações mundanas que dignificam sua luta e dão valor à sua vida de trabalhador. Partindo desse pressuposto moderno de herói é que o senso comum, aqui entendido como o modo de ser de pensamento cotidiano (Márcia Tiburi, Filosofia Prática – ética vida cotidiana e vida virtual) divulga essas atitudes, posturas e condutas éticas como modelo de virtude. Assim até os participantes do Big Brother tornam-se herói

Produzimos uma Cultura de Devastação*

Todos os anos, exterminamos comunidades indígenas, milhares de hectares de florestas e até inúmeras palavras das nossas línguas. A cada minuto extinguimos uma espécie de aves e alguém em algum lugar recôndito contempla pela última vez na Terra uma determinada flor. Konrad Lorenz não se enganou ao dizer que somos o elo perdido entre o macaco e o ser humano. Somos isso, uma espécie que gira sem encontrar o seu horizonte, um projeto por concluir. Falou-se bastante ultimamente do genoma e, ao que parece, a única coisa que nos distancia na realidade dos animais é a nossa capacidade de esperança. Produzimos uma cultura de devastação baseada muitas vezes no engano da superioridade das raças, dos deuses, e sustentada pela desumanidade do poder econômico. Sempre me pareceu incrível que uma sociedade tão pragmática como a ocidental tenha deificado coisas abstratas como esse papel chamado dinheiro e uma cadeia de imagens efémeras. Devemos fortalecer, como tantas vezes disse, a tr

Flores e mais Flores*

Há em nosso tempo, uma urgência , quase uma obrigação, a de que temos que descobrir os porquês de tudo que fazemos ,desejamos e pensamos.  Parece que o ser humano evoluiu muito neste movimento, mas isso tem uma contrapartida, porque a pergunta insistente e repetitiva, muitas vezes o faz girar em torno de si,  tal como um pneu roda na lama, fazendo buracos inertes, falta-lhe atrito e aderência.  Há uma parte de nós, que precisa ficar desconhecida, para garantir que o movimento intelectivo aconteça livremente e para permanecer a salvo de nossas ideias preconcebidas, carregadas de prejuízos culturais.  Desconhecida, se mantém como a coisa em si , e eu diria ainda como " a mais original das coisas de si" que habitam nossa mente. Entendo que é justamente esta zona neutra, este país desconhecido, que nos ajuda a criar novas rotas para vida.  Enquanto alguém,  sai das sombras, abandonando seus fantasmas para ser, mais e mais o que é de fato, cria uma rota de seu

Minha musa*

Minha musa é a lembrança Dos sonhos em que eu vivi, É de uns lábios a esperança E a saudade que eu nutri! É a crença que alentei, As luas belas que amei E os olhos por quem morri! Os meus cantos de saudade São amores que eu chorei, São lírios da mocidade Que murcham porque te amei! As minhas notas ardentes São as lágrimas dementes Que em teu seio derramei! Do meu outono os desfolhos, Os astros do teu verão, A languidez de teus olhos Inspiram minha canção... Sou poeta porque és bela, Tenho em teus olhos, donzela, A musa do coração! Se na lira voluptuosa Entre as fibras que estalei Um dia atei uma rosa Cujo aroma respirei... Foi nas noites de ventura, Quando em tua formosura Meus lábios embriaguei! E se tu queres, donzela, Sentir minh'alma vibrar, Solta essa trança tão bela, Quero nela suspirar! E dá repousar-me teu seio... Ouvirás no devaneio A minha lira cantar! * Álvares de Azevedo 12 de setembr

No entre*

fresta, intervalo onde o indizível se revela. o que é se desfaz em pensamentos. o que não é como bolor fermenta. no entre este eu desconhecido brota. um ser que eu não era confronta com ser que eu era. da explosão nasce uma estrela! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Poeta, Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Sonhar é Preciso*

Sem sonhos, as pedras do caminho tornam-se montanhas, os pequenos problemas são insuperáveis, as perdas são insuportáveis, as decepções transformam-se em golpes fatais e os desafios em fonte de medo. Voltaire disse que os sonhos e a esperança nos foram dados como compensação às dificuldades da vida. Mas precisamos de compreender que os sonhos não são desejos superficiais. Os sonhos são bússolas do coração, são projetos de vida. Os desejos não suportam o calor das dificuldades. Os sonhos resistem às mais altas temperaturas dos problemas. Renovam a esperança quando o mundo desaba sobre nós. John F. Kennedy disse que precisamos de seres humanos que sonhem o que nunca foram. Tem fundamento o seu pensamento, pois os sonhos abrem as janelas da mente, arejam a emoção e produzem um agradável romance com a vida. Quem não vive um romance com a sua vida será um miserável no território da emoção, ainda que habite em mansões, tenha carros luxuosos, viaje em primeira classe nos aviõ

Onde há fumaça, há fogo*

Então você tem uma vida romântica e sexual esplendorosa? Então você grita, esperneia, fala coisas que nem está pensando de verdade para demonstrar o seu nível de prazer na cama? Você grita? Pode ser que o seu prazer seja mesmo do tamanho do seu grito, que ele seja de nível incontrolável, inacreditável do tipo, vou morrer aqui agora e nem ligo. Pode mesmo ter a ver esta coisa do grito, dos gemidos enlouquecidos, próprios de um beijo sufocante para abafar o caso, com um clímax merecedor de fogos e fanfarras. Isto pode até corresponder a uma realidade, pode mesmo ser o seu jeito de expressar prazer, contudo cabe avaliar alguma hipótese de descontrole, ou medo, ou aflição, ou desejo sincero de nem estar ali. Você fala coisas que nem percebe, nem concebe de verdade? Jargões decorados, palavras de baixo calão daquelas bem diferentes, mas bem diferentes mesmo das que você usa para conquistar o parceiro ou viver em sociedade? Então você tem uma vida romântica e sexual espl

A Arte e a Filosofia*

Nunca será de mais insistir no carácter arbitrário da antiga oposição entre arte e a filosofia. Se quisermos interpretá-la num sentido muito preciso, é certamente falsa. Se quisermos simplesmente significar que essas duas disciplinas têm, cada uma delas, o seu clima particular, isso é verdade sem dúvida, mas muito vago.  A única argumentação aceitável residia na contradição levantada entre o filósofo fechado no meio do seu sistema e o artista colocado diante da sua obra. Mas isto era válido para uma certa forma de arte e de filosofia, que aqui consideramos secundária. A ideia de uma arte separada do seu criador não está somente fora de moda. É falsa. Por oposição ao artista, dizem-nos que nunca nenhum filósofo fez vários sistemas. Mas isto é verdade, na própria medida em que nunca nenhum artista exprimiu mais de uma só coisa sob rostos diferentes. A perfeição instantânea da arte, a necessidade da sua renovação, só é verdade por preconceito. Porque a obra de arte também é u

O Pensar*

Em seu prólogo do livro: A condição humana, Hannah Arendt o finaliza dizendo: “O que proponho, portanto, é muito simples: trata-se apenas de pensar o que estamos fazendo”. Ayn Rand, filósofa russa naturalizada norte-americana, no final de seu livro: Objetivismo relata: “Salvar o mundo é a coisa mais simples do mundo. Tudo que se tem a fazer é pensar”. Se olharmos o mundo que aí está, verificaremos que o problema dele não é o fazer: edifícios, carros, tecnologia, construções, rodovias e todo tipo de produto do fazer humano está espalhado ao nosso redor mostrando a capacidade humana de realizar coisas. O que nos falta é o pensar mais profundo, aquele que antecede o projeto do fazer. Se nosso fazer é produto de nosso pensar, na medida em que dermos mais atenção ao pensar profundo, mais qualidade poderá sair para um futuro fazer, ou até a decisão, muitas vezes sábia, de não fazer nada. Havia um ditado que dizia: se tivesse dez horas para derrubar uma árvore, passaria oito

Imaginação e mobilidade*

(...) Pretende-se sempre que a imaginação seja a faculdade de formar imagens. Ora, ela é antes a faculdade de deformar as imagens fornecidas pela percepção, é sobretudo, a faculdade de libertar-nos das imagens primeiras, de mudar as imagens.  (...) Graças ao imaginário, a imaginação é essencialmente aberta, evasiva. É ela, no psiquismo humano, a própria experiência da abertura, ela especifica experiência da novidade. (...) O poema é essencialmente uma aspiração a imagens novas. Corresponde à necessidade essencial de novidade que caracteriza o psiquismo humano. (...) O ser torna-se palavra. A palavra aparece no cimo psíquico do ser. A palavra se revela como o devir imediato do psiquismo humano.  (...) O sonhador deixa-se ir à deriva. Um verdadeiro poeta não se satisfaz com essa imaginação evasiva. Quer que a imaginação seja uma viagem. Cada poeta nos deve, pois, seu convite à viagem. Por esse convite recebemos, em nosso ser íntimo, um doce impulso, o impulso que nos abala,

Olhos do viajante, recorte do pensamento*

“A alma jamais pensa sem fantasia.” Aristóteles Quão estúpidos são os homens que creem que a vida é só viver; a vida é, também, renuncia, é deixar de viver momentaneamente para se dedicar ao não vivido. Viver não é só gozar a vida, é tudo, até mesmo morrer para viver melhor outro dia após outros dias.  Andei pensando esses últimos dias, enquanto viajava, lia, via coisas novas, coisas que já tinha visto mas meus olhos renovados já passaram pela negação da vida, questionava ao total abandono de um absoluto nas imagens. Tudo parece novo, mesmo que já tenha visto, imagino o novo diante dos olhos, o sentir desse espaço infinito por onde o pensar foge da imagem. Vejo outros mundos dentro do mundo em que me adentro a ver.  A vida do viajante é interessante porque nunca consegue descansar a cabeça, sempre quer olhar e pisar mais o todo de qualquer canto por onde passa. O viajante difere do turista, ele é quem conduz o roteiro, quase sempre aleatoriamente, mesmo que organizado,

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