História de vida, o que
é isto? Quanto você olha para o passado e o faz reviver faz com os olhos do
presente, mesmo que tente fazê-lo a partir do ponto de vista que tinha no
passado ainda assim ele é presente. Esse olhar sempre atual da própria história
de vida precisa de certo treinamento, sendo que o primeiro deles é entender que
a história de vida não é a pessoa, mas um registro daquilo que viveu, por onde
esteve.
Se ao longo da vida você por um acaso cometeu “erros” isso não quer
dizer que você seja uma pessoa errada, mas uma pessoa que cometeu erros. O
contrário também é válido, fazer coisas boas não torna ninguém uma pessoa boa,
mas uma pessoa que faz coisas boas. As atitudes de cada pessoa não
necessariamente refletem o que ela é, mas sim o que ela faz com aquilo que ela
é.
Certa vez conheci um
jovem senhor de 70 anos, uma pessoa que cuidava das crianças do bairro,
encaminhava para o escotismo, circo, cinema, leitura, enfim, cultura. Por muito
tempo me pareceu uma pessoa muito boa, uma pessoa com uma história que dizia
que ele era um homem muito bom.
Cresci e tive a oportunidade de conversar com
este mesmo homem anos depois, já em faze terminal, disse a ele que ele era um
homem bom, exemplo de pessoa. Sua resposta me deixou confuso na época, hoje entendo
perfeitamente o que ele disse.
Disse ele: “Não sou um homem bom, vivi minha
vida para mim, fiz sempre o que quis, sou orgulhoso, mesquinho, arrogante,
prepotente. Quando vocês eram pequenos eu via em vocês bichos do mato e me
achava muito melhor, por isso mostrava um mundo “melhor” para vocês, queria
poder dizer para mim mesmo que fui eu quem os salvou da ignorância. Dei-me o
direto de achar que o que viviam na pequena vila deveria ser mudado, a começar
pelas crianças, por isso me arroguei o direito de intervir. Eu me achava a
melhor das pessoas, porque ninguém ao redor sabia o que eu sabia, tinha viajado
o que eu tinha viajado, por isso não escutava, falava, dava conselhos”.
Passei anos
discordando, entendendo que se ele fez coisas boas é porque era uma pessoa boa.
No entanto, anos mais tarde, depois de muita filosofia percebi que, ele via em
suas atitudes a intenção por detrás delas. Filosoficamente a questão fica bem
complicada, pois será que interessa o mérito interior de uma boa ação? Os mais
religiosos provavelmente dirão que sim, mas e a história de fé sem obras é
morta, será o oposto também é verdade? Que obras sem fé também são mortas?
Voltando ao caso citado, esse homem mostrou e, mesmo depois de seu falecimento,
ainda mostra que as atitudes de uma pessoa não mostram quem ela é.
Por isso, quando olhar
para a própria história, com suas escolhas, acertos e erros, é necessário
perceber que suas atitudes não são você, mas o que você faz com o que você é.
Aos que cometeram erros ao longo da vida e sentem-se julgados pelos outros,
basta lembrar que estes outros têm suas histórias. Podemos não ter orgulho de
algumas escolhas que fizemos, mas podemos nos orgulhar das escolhas que são
feitas agora, neste momento.
Por isso, se sua
história contém coisas das quais você não se orgulha, veja o que pode ser feito
deste momento em diante para se orgulhar. Se sua atitude no casamento mostra
uma pessoa que você não é, pode ser feito diferente. Há uma única coisa que não
pode se feita: legar a responsabilidade ao outro pelo passado que tenho, pois
mesmo quando outorgo ao outro a escrita da minha história sou responsável por
ela. Meu amigo fez muitas cosias boas mesmo se achando mau, uma pessoa pode
fazer muitas cosias más se achando boa.
*Rosemiro Sefstrom
Filósofo, Filósofo
Clínico
Criciúma/SC
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