Andei questionando que
papel o estudo da filosofia clínica tem cumprido em minha vida e cheguei a
inúmeras conclusões. Sou habilitada para a pesquisa dentro da filosofia clínica
pois ainda não conclui meu pré-estágio terapêutico. Aliás, não tenho pressa em
continuar, tendo em vista, os ganhos que tive com esse estudo.
A filosofia clínica
abriu meu conhecimento de mim mesma. E creio que esse deva ser o primeiro passo
para as pessoas que pretendem atender outras pessoas. Antes da filosofia
clínica em minha vida eu escrevia e simplesmente detestava tudo o que escrevia.
Mas, sempre gostei de me expressar pela escrita. Meu professor e filósofo
clínico Hélio percebeu isso, essa minha singularidade. Eu não só fui
incentivada por esse mestre-amigo, mas também, fui descoberta como um ser que
necessita expurgar pela escrita
as dúvidas da existência e as dores de existir.
Desagendei muito
durante meu processo. Cresci como ser humano, me desnudei de complexos e
recatos. Sou mais coerente comigo mesma. Descobri que sou expressão pura e
profundamente reflexiva e questionadora. Hoje eu consigo aceitar um pouco
melhor minha singularidade, percebo que não há tanta necessidade de me
identificar, porque descobri que nenhum ser é igual a outro.
A coisa mais linda
dessa abordagem terapêutica é a questão da importância da singularidade. Sim!!!
Não podemos tratar uma pessoa com pré-juízos. Não existe classificação. Somos
únicos. Isso é lindo demais!!! E, se somos únicos, não deveríamos julgar tanto
como o outro se apresenta dentro dos inúmeros papéis existenciais que a vida o
apresenta. Digo não deveríamos pois ainda exercito essa "suspensão de juízo"
tão presente na história da filosofia antiga.
O processo autogênico
que o estudo da filosofia clínica cumpre em minha existência, é por si só,
capaz de responder o porquê de estudar tanto essa abordagem terapêutica. O
"ser-terapeuta" é apenas um detalhe para a vida do filósofo clínico.
Claro que é um detalhe muito importante e necessário. Entretanto não é o que há
de maior valia na filosofia clínica. O método é muito bem estruturado, cada
detalhe dos exames categoriais deve ser muito bem pesquisado. Por isso é muito
importante fazer terapia antes de ser um terapeuta. Somente alargando o
pensamento a respeito de mim mesma poderei ter um olhar mais humano e humilde
para a historicidade do outro.
Quem tem o dom de
cuidar, certamente, se identificará com a filosofia clínica. Cuidar não é
simplesmente escutar e aplicar o método desenvolvido por Lúcio Packter, é muito
mais que tudo isso. Cuidar é amar a vida do outro tendo consciência de que
grande parte das pessoas que procura um profissional terapeuta está em processo
de crise, sofrimento! Sem essa consciência não haverá êxito no processo de
terapia com essa abordagem tão singular.
É necessário muita
cautela antes de um filósofo clínico iniciar o papel de terapeuta. É necessário
muito amor, carinho e dedicação! Temos que nos conscientizar que isso não é uma
tarefa assim tão simples. Para muitos, até pode ser simples, entretanto, para
outros o "ser-terapeuta" pode ser muito perigoso.
Hoje consigo entender
as palavras do professor Hélio Strassburger ao dizer que é um "homem do
mundo". O ser-terapeuta é quase um sacerdócio! Uma renúncia de parte de si
para a partilha com o outro. Creio que só com esse pensamento poderemos um dia
desempenhar papel tão significativo que é o de terapeuta filosófico.
*Vanessa Ribeiro
Atriz, Bailarina,
Filósofa, Filósofa Clínica
Petrópolis/RJ
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