A palavra, em
deslocamento por seus muitos territórios, também busca uma legibilidade para
sua escuta escutando-se. Aptidão rara em meio as ditaduras da semiose verbal.
Ao conviver sempre no mesmo lugar, ainda que em línguas diferentes, é
excepcional vivenciar as dialéticas da aventura.
Em um mundo
apropriadamente imperfeito, pode ser indizível, ao dicionário conhecido,
encontrar o melhor para si. Essa suspeita se insinua nas possibilidades do
instante perfeito nas entrelinhas da imperfeição. Essa transgressão da zona
areia movediça de conforto existencial, se aproxima de um mundo razoável e suas
contradições. Assim pode acolher e dialogar com a mutante medida de todas as
coisas em cada um.
Ao destacar o viés
dessas poéticas da irreflexão, se esboça uma negação de que tudo já foi dito,
pensado, tentado. Nele um espaço desconhecido se abre como proposta.
Talvez a escola, ao
ensinar a ler e escrever, também pudesse incluir aprendizados na arte de ouvir,
sonhar, flutuar, experienciar essa matéria-prima diante do olhar, muitas vezes
refugiada em impróprias paredes. Quiçá emancipar-se além do tumulto silencioso
das palavras.
Nesse sentido, a
convivência aprendiz, a decifração desses códigos da não-menção, presentes nela
mesma, pode conceber a crise precursora, o desajuste social, a incompreensão,
como rascunho de uma obra acontecendo. Em um chão de incompletudes, os
subúrbios da expressividade acolhe o devir dos recomeços.
Ao Filósofo dos casos
perdidos, acostumado a ter um não saber como ponto de partida, vislumbra-se
essa dialética como um redirecionamento do olhar. Lógica principiante a
conjugar o recém chegando vocabulário diante de si. Uma estética a reivindicar
o cuidador singular para acolher e contribuir com a nova condição. Ao cogitar
dos eventos inesperados o espelho da realidade também se move.
*Hélio Strassburger
Filósofo Clínico
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