“A um ele confia uma
coisa e confia outra coisa a outro, certificando-se de que eles jamais irão
comunicar-se entre si.”
Elias Canetti
Vivemos num mundo onde
o segredo deixou de existir, em que tudo o que é pensado, antecipadamente, já é
sabido. O segredo é o lugar em que o indivíduo se submete à verdade daquele que
sabe calar. Nas ditaduras o segredo é a vitalidade dos que sabem mandar, e
principalmente dos que temem por algo que foge do seu controle. As massas
alardeiam, o poder consente o seu silêncio em fúria. O poder mata o Outro com
seu segredo, a massa divulga e joga o corpo aos leões. Todo segredo pode ser
para o Bem e para o Mal.
O calar dos que recebem
ordens é fruto do bom entendimento entre o que sabe mandar e o que sabe seguir
as regras de forma ordeira. Esse fantasma jamais deixou de existir. As
ditaduras de Direita e de Esquerda são o espelho dos que entendem o calar.
Canetti demonstrou que o mais profundo dos segredos “é o que se desenvolve no
interior do corpo”.
Por estas bandas o que mais se sente no ar é o palavrório
dos que falam e falam, mas calam quando deveriam se manifestar. Todo homem que
fala demais é certamente o que tem a informação em seu excesso. O certo era ter
um pouco de desconfiança, mas todo que demais se cala, deveríamos suspeitar
ainda mais. Canetti observou que o segredo dos que calam é a certeza de sua
sábia dedicação e inteligência de guardar o segredo dos poderosos, do outro
lado, os que falam demais, também, podem estar entregando o ouro aos
silenciosos donos do Poder.
O segredo, aquele que
detém o poder sob o seu comando, consegue municiar o presente, ele mesmo é o
que mais sabe preservar o segredo. Ao mesmo tempo, que tem o controle sobre o
segredo, ele não consegue na sua amplidão ter o controle dos segredos
existentes no tecido social. O ato de dissimular é propriedade de poucos que
sabem manter o sigilo do seu lado. Aliados do silêncio, seus propósitos nunca
deixam que o seu segredo se iguale aos demais, pois ele, o que controla, sabe
medir o quanto o segredo que detém é preponderante ao imaginário social.
*Prof. Dr. Luis Antônio
Paim Gomes
Filósofo. Editor. Livre
Pensador.
Porto Alegre/RS
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