“Sem dúvida numa época
de minha vida, atravessei uma fase que chamei de fantasia científica.”
Roland Barthes
Barthes sugere-me
“trapacear” para podermos ouvir a língua fora do Poder, mas isso é o que
procuro no dia a dia, ou seja, ter as condições ideais de jogar com a
linguagem. Ter as possibilidades de controlar aquilo que não podemos jamais
atar, a produção individual e os sentidos. O resto é domínio. Mas aqui não
estou mais nessa arqueologia.
Saber quem domina quem
é de menos na reflexão desta manhã, mas de saber o que foi feito dos domínios
da razão. Em minha observância teórica e de suas aplicações, percebi que há
indícios de um domínio desenfreado pelo culto da ciência, e que outras
tentativas de domínio, seja pela espetacularização dos acontecimentos, seja
pelas novas mitificações de sentidos vai longe, longe demais. Ainda bem.
Como já dizia Cioran,
“os caminhos da crueldade são diversos”, preciso de um pouco de complexidade
para arejar as ideias. Ainda ontem, lembrei-me, certa vez, em plena disputa
saudável de uma banca de doutorado, eu evocava no texto um conceito “trajetória
antropológica”, fui picado pela vespa da racionalidade acadêmica, fui indiciado
por usar conceitos ao léu.
Fiquei entre o espaço
literário de Blanchot ao ritual daquela cena. Passou. Não me desfiz da
trajetória e os caminhos da complexidade me ajudaram na compreensão de muita
coisa. A saber, o prazer em voltar a textos clássicos que me faziam sentir
excluído do próprio texto. O prazer da leitura, é certo, percorre disciplina,
compreensão e dialogia com os textos, com as vozes.
*Prof. Dr. Luis Antonio
Paim Gomes
Filósofo. Editor. Livre
Pensador.
Porto Alegre/RS
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