Para
muitas relações, o fim é inevitável. Existem encontros com prazo de validade –
combinado ou não. Funcionaram para um verão, para um projeto, para um momento
da vida. É o cliente que rompeu o contrato, um amigo na infância que mudou de
cidade ou colégio, uma paixão arrebatadora que não deve evoluir, um amigo que
se isolou... Como lidar com esta fase de necessária despedida, se o coração
ainda pulsa e deseja a conexão?
Há quem
prefira cortes bruscos, ancorados na razão. São pessoas que aprenderam ao longo
de suas vidas que dói menos “mandar embora”. Ao menor sinal de que é chegada a
hora de se afastar, disparam um comando interno, se posicionam radicalmente,
deixam de fazer contato e prejudicam qualquer aproximação - com a situação, com
os sentimentos, com lembranças e até mesmo com as pessoas envolvidas ou que
possam reavivar a experiência daquele encontro. Há até quem crie em suas mentes
quadros negativos, para facilitar o afastamento: “nem era tão bom”, “não vai
fazer falta”, “vida que segue” podem dizer a si mesmos.
Existem
muitas formas de dizer “não me procure mais”. São diversos os recursos para
criar distâncias. Ligações não atendidas, respostas evasivas ou secas nas
mensagens de texto e até mesmo a total falta de resposta, deixando o outro “no
vácuo”, são alguns. A função “bloquear” nos aplicativos de conversa podem ser
de grande utilidade. Uma forma um pouco mais sofisticada, muitas vezes aplicada
de maneira inconsciente, é gerar briga, desentendimento, para que reste algo
ruim, desagradável, levando à conclusão a ambos de que “não quero isso para a
minha vida”. Freud explica.
E se em
vez de “mandar embora” simplesmente “deixemos ir”? “Deixar ir”, que pode ser
tão ou até mais doloroso do que mandar embora, pressupõe respeitar o ritmo da
fase final deste encontro, com todas suas dores e desafios. Vai bater saudade,
vai bater a dúvida, e nestes momentos podemos contar a nós mesmos muitas
histórias para aliviar a dor: não era para ser, era o que tinha a ser feito,
não tive escolha...
Estamos
falando de histórias de amor? Provavelmente, estejam elas na embalagem de um
relacionamento a dois, de amizade, profissional ou até mesmo familiar. Quando
os encontros são reais, seja por uma atração, seja por um projeto que foi
construído conjuntamente e que tem muito de nosso afeto, suor e dedicação, há
um laço diferente envolvendo as pessoas que sonharam e realizaram junto. Que o
digam os inúmeros gestores que se veem obrigados a dissolver equipes após
concluir um trabalho temporário, ou demitir algum funcionário porque ele mudou,
ou porque a empresa e suas necessidades mudaram. Sofrem, cada um na justa
medida do quanto quis, do quanto se envolveu, e do quanto se permitiu, porque,
salvo pessoas com sérios distúrbios emocionais, todo e qualquer corte deixa sua
marca.
Existem,
porém, boas notícias. Se o encontro valeu a pena, se mexeu e trouxe
crescimento, e respeitando a lei dos ciclos, o laço permanece. O cliente pode
se tornar amigo, o amigo de infância que se mudou pode ser buscado via redes
sociais, a paixão arrebatadora pode se tornar uma deliciosa amizade, o amigo
que se isolou pode resolver suas questões e voltar ao convívio... O outro já
não será o mesmo, nem tampouco nós. Seja com o “mandar embora” ou com o “deixar
ir”, houve o fim, houve a despedida, e na continuidade do ciclo houve um
reencontro, agora com um novo jeito, um novo matiz, novas perspectivas,
alegrias e trocas.
E vida
que segue!
*Sandra Veroneze
Jornalista. Escritora. Filósofa Clínica
São Paulo/SP
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