“A alquimia do verbo é um delírio” Arthur Rimbaud
Uma profecia de caráter
excepcional recai sobre alguns escolhidos, que parecem surgir de uma cepa rara,
sujeitos a descrever a saga do personagem marginal. Estruturados para surgir
como transgressão, desconstroem a certeza de uma só versão para todas as
coisas.
A atitude inesperada de toda
razão oferece uma perspectiva plural na forma de poesia, filosofia, arte,
subversão estética ao mundo instituído. No caso da inquietude filosófica, antes
de virar comentário ou técnica acadêmica, é a concepção do eu como outros,
reapresentada na inspiração libertária dos movimentos da irreflexão.
Um cavalheiro andante em
busca de sua tribo encontra Adão e Eva no paraíso da singularidade. A palavra
realiza uma poética das ruas. Seu caráter de profanação reivindica um ritual de
iniciados. Os enredos do mundo novo percorrem as dialéticas do imprevisível.
Visionários incompreendidos possuem a rara aptidão de conceder sabor de vida
real aos delírios de criação.
Os apontamentos do
devaneio se iniciam em um não saber. Abertura de alma em íntima interseção com os
deslizes do cotidiano. Repercussão dos achados a tecer caricaturas pelas
frestas da normalidade. Alguns segredos escolhem o silêncio desmerecido para acenar
suas verdades.
Aproximação das margens
com a reinvenção das águas. Essa linguagem é refém dos endereços existenciais
por onde a pessoa transita. Em cada página um continente insinua sua geografia
ao leitor das suas possibilidades. Ao integrar invisibilidades, a alquimia de
viver sem intermediários se faz hermenêutica das incompletudes. Seu querer
dizer aprecia abrigar múltiplos sentidos. A investigação procura os rastros
desse estranho ao percorrer suas lacunas.
Aos rascunhos das
entrelinhas restaria a condenação à fogueira dos versos malditos, não fosse a
curiosidade pesquisadora a resgatar os traços de originalidade diante de si.
Sujeitos inconformados com a rotina da intenção domesticada se associam como
cúmplices do instante criativo. Articulam o encontro do absurdo com a raridade
de sua tradução. Anotações preliminares em busca dos heróis dessa poética
clandestina.
*Hélio Strassburger in “A Palavra Fora de Si – Anotações de Filosofia Clínica e Linguagem”. Ed. Multifoco. Rio de Janeiro/RJ. 2017.
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