Primeiramente, reforça um de seus
pressupostos teóricos mais basilares: a analítica da linguagem que “Acredita
que os problemas filosóficos possam e devam ser resolvidos por meio de uma
análise da linguagem”, escreve Margarida Nichele Paulo em seu Compêndio de
Filosofia Clínica (2001). E, simultaneamente, reafirma alguns de seus
pressupostos metodológicos: os termos equívocos, o significado, a atualização
de dados, dentre alguns submodos.
Serve, minimamente, para
evidenciar, também, a singularidade de uma língua, como a portuguesa, e a
autogenia, enquanto mudança, movimento. “Wittgenstein ensina que o sentido e o
direcionamento das palavras usadas para construir um discurso pessoal tem a ver
com determinada realidade, como esta
foi se estruturando ao longo da
vida, e inclusive suas possibilidades de mudança.”, confirma Hélio Strassburger
em Filosofia Clínica: anotações e reflexões de um consultório. (2021)
Houve um tempo em que a expressão
“preço de banana” equivalia a barato, sem valor, coisa de centavos. Hoje não se
aplicaria mais com o mesmo sentido, talvez sim, dependendo dos jogos de
linguagem do partilhante. Seria necessário compreender a expressão a partir de
quem a usa, os termos agendados no intelecto. “O interior das palavras abriga
uma pluralidade de sentidos (…).” (Idem).
Mas um termo não revela apenas
seu indivíduo falante. Essa expressão, “preço de banana”, possibilitaria estudo
de princípios de verdade. “São eles os dados da cultura de uma comunidade,
bairro, cidade ou país, os preconceitos sociais, os dogmas religiosos, as
convenções de um grupo etc.” explica Miguel Caruzo em seu livro Introdução à
Filosofia Clínica. Caberia, hoje, num determinado cenário econômico, usá-la
para algo barato? Eliminaríamos seu uso?
Atualizaríamos seu sentido?
Interessante pensar nisso. Na obra de Hélio Strassburger citada, ele colabora
com essa reflexão ao se indagar “Filosofia Clínica é uma Antropologia?” e ao
dizer que “Os inusitados usos da palavra ampliam as fronteiras do que se
conhece”.
E quantos estudos sociológicos,
políticos, econômicos e noutras áreas poderiam ser feitos a partir das bases
teórica e metodológica desta abordagem terapêutica? A Filosofia Clínica traz
mensagem que propicia novos olhares para o cotidiano humano, pois sua
fundamentação na Filosofia “possui um a condição crítica, reflexiva, analítica,
em interseção com o desenvolvimento social.” (Idem).
Bom, falando em preço e Filosofia
Clínica, um entrelace importante, seria pertinente indagar: Filosofia Clínica
tem preço? Preço ou valor? Uma reflexão axiológica interessante. Assunto
imediato ou último para outro momento.
*Jandira Ramiro de Souza
Filósofa Clínica. Integrante do Conselho Editorial da Revista da Casa da Filosofia Clínica.
**Esse texto foi originalmente
publicado na edição OO da Revista.
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